LITERATURA

Portela: conheça o livro ''Um defeito de cor'', que esgotou após desfile da escola

Romance de 950 páginas escrito por Ana Maria Gonçalves continua entre os mais vendidos da plataforma

Desfile da Portela fez o épico de quase mil páginas furar a bolha e ser apresentado a um público mais amplo - Riotur/Divulgação

Ponto de partida do enredo “Um defeito de cor” levado pela Portela na Avenida este ano e que a consagrou com o Estandarte de Ouro, o romance homônimo de Ana Maria Gonçalves vive um verdadeiro amor de carnaval com os leitores. Lançado em 2006, o livro alcançou a primeira posição da lista de mais vendidos da Amazon, dezoito anos após a sua publicação.

Vencedor Prêmio Casa de las Américas e referência sobre temas relacionados à ancestralidade africana e os efeitos da escravidão no Brasil, "Um defeito de cor" já está indo para a sua trigésima edição. A edição mais antiga do romance chegou a esgotar duas vezes entre o desfile, na noite da segunda-feira (12), e a manhã desta terça-feira (13). O título sempre foi um sucesso de crítica e público, mas o desfile da Portela fez o épico de quase mil páginas furar a bolha e ser apresentado a um público mais amplo.

Pautado em intensa pesquisa documental, o romance conta jornada de Kehinde, mulher negra que, aos oito anos, é sequestrada no Reino do Daomé, atual Benin, e trazida para ser escravizada na Ilha de Itaparica, na Bahia. Ela repassa as desventuras de sua vida de escrava até a sua alforria. A personagem foi inspirada em Luísa Mahin, que teria sido mãe do poeta Luís Gama e participado da célebre Revolta dos Malês, movimento liderado por escravizados muçulmanos a favor da Abolição.

Já o enredo conta a mesma história de um jeito um pouco diferente. Os carnavalescos André Rodrigues e Antônio Gonzaga sonham com uma carta do advogado abolicionista Luiz Gama para sua mãe, Luíza Mahim (Kheinde no livro de Ana), a partir das lições deixadas por ela.

A escola teve a participação de nomes importantes da luta pela igualdade racial, como o ministro Silvio de Almeida (Direitos Humanos) e o ator Lázaro Ramos, que encarnaram Gama. Já Kheinde apareceu em diferentes fases vividas pelas mães dos carnavalescos. O livro ajuda a entender questões históricas do país, como o racismo. No enredo, o tema também foi debatido, em especial com a enaltação à histórica porta-bandeira Vilma Nascimento, vítima de racismo no ano passado.

O desfile deu destaque a mulheres que perderam os filhos para a violência no Rio, como Marinete da Silva, mãe da vereadora Marielle Franco, assassinada em 2018; ou Jackeline Oliveira, mãe de Kathlen Romeu, grávida morta no Lins, em 2021.

Em 2022, "Um defeito de cor" ganhou uma edição especial, em novo projeto gráfico, que inclui obras da renomada artista plástica Rosana Paulino. A edição apresenta ainda o conto afrofuturista inédito “Ancestars”, a primeira narrativa de Ana Maria Gonçalves publicada desde o lançamento de "Um defeito de cor."

Ainda em 2022, o livro foi reinterpretado em forma de exposição, no Museu de Arte do Rio (MAR). A mostra reuniu 400 obras de mais de cem artistas, de vários estados brasileiros e do continente africano, entre pinturas, desenhos, esculturas, vídeos e instalações.