internacional

Otan anuncia gasto militar recorde em 2024, após ameaças de Trump

Ex-presidente ameaçou os países em atraso com suas contribuições em caso de reeleição

O Secretário-geral da OTAN, Jens Stoltenberg, fala durante uma conferência de imprensa pré-ministerial - John THYS / AFP

O secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, anunciou nesta quarta-feira (14) um aumento significativo dos gastos militares, após ameaças de Donald Trump aos países em atraso com suas contribuições, se reeleito presidente dos Estados Unidos.

"Este ano, espero que 18 aliados gastem 2% do PIB em defesa. Será mais um número recorde, seis vezes maior que em 2014, quando apenas três aliados cumpriram a meta", disse.

O anúncio de Stoltenberg sobre o número de países da Otan a atingir a meta de gastos militares responde à ameaça de Donald Trump de não defender os países em mora se reeleito presidente.

No último fim de semana, em um comício de campanha, Trump sugeriu ainda que incentivará a Rússia a "fazer o que quiser" com eles.

Segundo Stoltenberg, "estamos conquistando avanços reais" porque os países da aliança "estão gastando mais. Porém, alguns ainda têm um caminho a percorrer".

A lista dos 18 países que cumprirão com a meta este ano não foi divulgada. Em 2023, foram onze. Neste mesmo ano, os Estados-membros da Otan decidiram converter 2% em piso e não em teto.

Para o ministro da Defesa da Alemanha, Boris Pistorius, os membros da Otan não deveriam perder tempo especulando quem será o candidato presidencial republicano nos Estados Unidos, mas apenas "fazer nosso trabalho".

As declarações de Trump impactaram a nível mundial e foram criticadas publicamente por líderes importantes.

O chanceler alemão, Olaf Scholz, disse que questionar um pilar fundamental da Otan como o princípio da defesa mútua é "irresponsável e perigoso".

Durante seu governo, Trump criticou abertamente os aliados da Otan por sua resistência em aumentar os gastos em defesa.

Com a guerra na Ucrânia, vários países do bloco aumentaram os investimentos militares, mas os Estados Unidos ainda pagam a maior parte do combinado.

Ucrânia na agenda 
Além das ameaças aos países em atraso, o que mais preocupou os aliados foi a declaração de que, uma vez na Casa Branca, Trump permitiria que a Rússia fizesse "o que quisesse" com os países devedores.

Em uma incisiva e rara mensagem na rede X, Stoltenberg afirmou que a sugestão de que os países da Otan não se defenderiam entre si "minava a segurança" de todos, incluindo os Estados Unidos.

A polêmica destaca a dependência da Otan dos investimentos americanos e levanta a discussão sobre se os países europeus (29 dos 31 integrantes da aliança militar) têm realmente uma alternativa.

A França - única potência nuclear da UE - defende há anos que a Europa precisa de outra "apólice de seguro", além da Otan, para garantir a segurança do continente.

Stoltenberg presidirá na quinta-feira uma reunião de ministros da Defesa dos países da aliança militar. Formalmente, a agenda está concentrada na continuidade e modalidade de apoio à Ucrânia.

Nesta quarta-feira, o secretário-geral da Otan coordenou uma reunião do grupo de países que apoiam a Ucrânia, e no encontro, o secretário da Defesa americano, Lloyd Austin, garantiu que os Estados Unidos "continuam apoiando" Kiev.

"Continuaremos trabalhando para que a Ucrânia tenha o que precisa para sustentar os seus avanços e continuar repelindo a ocupação ilegal russa nos próximos meses", disse Austin em uma videoconferência.

Para Stoltenberg, as forças ucranianas têm demonstrado capacidade de ação com recentes êxitos no Mar Negro, onde Kiev assegura que "destruiu" um navio de guerra russo ao sul da península da Crimeia.

As forças da Ucrânia "conseguiram infligir grandes perdas à frota russa do Mar Negro", disse ele, acrescentando que trata-se de "uma grande conquista, uma grande vitória para os ucranianos".