Medo e desespero no maior hospital do sul de Gaza
Hospital, mesmo sem recursos suficientes, abriga cerca de 10 mil civis deslocados pela guerra
A equipe médica do hospital Nasser, o mais importante do sul da Faixa de Gaza, fez um apelo por ajuda nesta quarta-feira (14), diante da situação "catastrófica" da instalação, sem água potável, com esgotos transbordando no pronto-socorro e franco-atiradores nos telhados.
"Foi uma noite escura, com uma onda de bombardeios e explosões", contou à AFP Mohammed al Astal, enfermeiro do pronto-socorro do hospital Nasser, em Khan Yunis. A cidade se tornou o epicentro dos combates entre Israel e o movimento islamista palestino Hamas.
"Os tanques abriram fogo pesado contra o hospital e franco-atiradores nos telhados dos edifícios próximos também dispararam, matando três pessoas deslocadas", acrescentou o homem de 39 anos.
Nas últimas semanas, cerca de 10 mil civis deslocados pela guerra se abrigaram nesta unidade hospitalar, segundo o Ministério da Saúde do Hamas, que governa a Faixa de Gaza desde 2007.
O órgão informou ainda que milhares de pessoas, incluindo pacientes, tiveram de abandonar o local e alertou que a situação neste hospital é "catastrófica", de onde funcionários não puderam transportar os corpos para o necrotério devido ao "grave perigo" nos arredores, alertou.
Apesar disso, Mohammed al-Astal não quer ir embora. "Ajudamos os feridos e os doentes, é o meu dever e não o abandonarei mesmo que nos matem", disse ele.
O Exército israelense declarou em comunicado que os soldados "abriram uma rota segura pra retirar civis refugiados na região do hospital Nasser", acrescentando que "não tinha a intenção de evacuar pacientes ou a equipe médica".
Segundo estes militares, os soldados receberam "instruções precisas" para proteger os civis e as estruturas de saúde.
"Espinha dorsal"
Nesta quarta, o diretor-geral da Organização Mundial de Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, afirmou estar "alarmado" com as informações que recebeu sobre o hospital Nasser, "a espinha dorsal do sistema de saúde no sul de Gaza", em suas próprias palavras.
A agência não foi autorizada a acessar o centro médico nos últimos dias e perdeu contato com os funcionários, disse o responsável na rede social X.
Os hospitais da cidade "estão totalmente sobrecarregados, cheios e com abastecimento insuficiente", disse o representante da OMS nos territórios palestinos, Dr. Rik Peeperkorn.
Diante de tal situação, a equipe médica é obrigada a realizar amputações, por falta de meios para tratar pacientes cujos membros poderiam ser salvos em condições médicas normais neste estabelecimento "crucial", reiterou.
Nenhum hospital funciona normalmente no pequeno território palestino, disse a ONU na semana passada. E um terço continua operando em condições muito precárias.
Mais de 28.500 pessoas morreram, sobretudo mulheres e menores de idade, em Gaza desde o início da guerra entre Israel e o Hamas, segundo o último balanço do Ministério da Saúde. Em mais de quatro meses de conflito, mais de 68.200 ficaram feridas.
Israel prometeu "aniquilar" o grupo islamista palestino em resposta ao seu ataque sem precedentes em 7 de outubro no sul israelense, na qual morreram 1.160 pessoas, a maioria civis, segundo uma contagem da AFP a partir de dados oficiais israelenses.