Exoneração

Quem são militares exonerados por ataque às urnas e suspeita de participação em plano golpista

Guilherme Marques Almeida e Hélio Ferreira Lima, que chegaram a trocar interações em uma rede social de trabalho, estavam nos postos de comando há pouco mais de um mês

O presidente Jair Bolsonaro - Reprodução

Os tenentes-coronéis Guilherme Marques Almeida e Hélio Ferreira Lima foram exonerados nesta quarta-feira dos postos dos comandos militares. A dupla está sob a mira da Operação Tempus Veritatis da Polícia Federal, que apura uma tentativa de golpe de Estado para manter o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no poder. As exonerações ocorreram após o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes determinar que os militares investigados pela operação da PF sejam suspensos da função pública.

Marques Almeida comandava o 1º Batalhão de Operações Psicológicas do Exército, enquanto Ferreira Lima estava à frente da 3ª Companhia de Forças Especiais. Os dois estavam nos cargos há pouco tempo e não tinham completado sequer dois meses nas posições de comando.

Hélio Ferreira Lima assumiu o posto na companhia também chamada de "Força 3", e subordinada ao Comando Militar da Amazônia, em Manaus (AM), no dia 19 de dezembro. Um mês depois, foi a vez de Guilherme Marques Almeida participar da cerimônia de troca de comando e assumir o 1º Batalhão de Operações Psicológicas do Exército, em Goiânia, capital de Goiás.

Os dois se conheciam e chegaram a trocar interações no LinkedIn, com o tenente-coronel Hélio Ferreira Lima curtindo um post do companheiro de corporação sobre um lançador de foguetes do Exército.

Os militares foram alvos na última semana da Operação Tempus Veritatis, ou “hora da verdade”. O nome faz referência à articulação golpista para disseminar a ocorrência de fraude nas eleições de 2022, com o objetivo de "viabilizar e legitimar" uma intervenção militar. Ou seja, o grupo se dividiu em núcleos para disseminar notícias falsas sobre fraude eleitoral e invalidar a vitória de Lula nas urnas.

Além deles, o próprio Bolsonaro era um dos alvos, assim como seus aliados muito próximos nas Forças Armadas, como Walter Braga Netto, Augusto Heleno, Paulo Sérgio Nogueira, Anderson Torres, Valdemar Costa Neto, Almir Garnier e Tercio Arnaud.

Saiba mais sobre a trajetória dos militares exonerados:

Guilherme Marques Almeida
O coronel do Exército estava estava no comando do 1º Batalhão de Operações Psicológicas do Exército desde o dia 19 de janeiro. Antes, chegou ainda ser oficial do Comando de Operações Terrestres. Formado em Ciências Militares, tem especialização em Ciências Políticas e Estratégia e Big Data aplicado ao Marketing, pela ESPM.

Além de sua atuação no Exército Brasileiro, passou ainda dois anos em Lima, no Peru, onde foi instrutor na Escola de Operações Psicológicas do Exército Peruano.

Teria atuado na produção, divulgação e amplificação de notícias falsas e de “estudos” sobre o processo eleitoral com o objetivo de criar o “ambiente propício para a execução de um golpe de Estado”. Em conversa com Mauro Cid, é compartilhado o material com desinformação sobre as urnas de Fernando Cerimedo organizado por Tércio.

Hélio Ferreira Lima
Durou um mês e meio comando do militar Hélio Ferreira Lima na 3ª Companhia de Forças Especiais, responsável pelo preparo e treinamento dos agentes que irão atuar no Comando Militar da Amazônia. A unidade conhecida como "Força 3" é considerada de elite dentro do Exército, com sede em Manaus, capital do Amazonas.

Ferreira Lima atuou no Gabinete de Segurança Institucional (GSI) durante o governo Bolsonaro, antes de ser encaminhado a Manaus. Em seu perfil no LinkedIn, o militar se apresenta ainda como Consultor de Segurança e Defesa.

De acordo com as investigações, o tenente-coronel atuou na busca por inconsistências nas urnas eletrônicas. O militar aparece em mensagens trocadas com o ex-ajudante de Jair Bolsonaro, Mauro Cid. Nos textos, Cid expressa sua frustração diante da ausência de evidência de manipulação das urnas: "Tá difícil ter alguma prova. Porque, assim, na verdade tudo tem uma justificativa".

Para os investigadores, as medidas eram direcionadas à propagação de desinformação para gerar descrédito do sistema eleitoral. Ferreira Lima teria enviado a Cid um documento em inglês e um arquivo em formato PDF com o nome “fraude nas Urnas 2022”, além de mensagens que insinuam a existência de dois códigos-fontes das urnas eletrônicas.