Perspectivas de trégua entre Hamas e Israel em Gaza perdem força
"Não é uma guerra, é um genocídio", declarou o presidente Lula à imprensa na capital etíope Adis Abeba, onde participou da cúpula da União Africana
O Exército israelense prosseguiu neste domingo (18) com sua ofensiva militar no sul de Gaza com o objetivo de "aniquilar" o Hamas, o que diminui as perspectivas de uma trégua após quatro meses de conflito.
Os esforços para pôr fim aos combates que estão arrasando o estreito território palestino coincidem com a determinação do primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu de realizar uma incursão em Rafah.
Cerca de 1,4 milhão de palestinos estão aglomerados nessa localidade na fronteira com o Egito, a maioria deslocados de outras regiões do pequeno território, bombardeado e assediado por Israel.
Pelo menos 10 pessoas morreram na última noite em bombardeios contra essa cidade, o último núcleo urbano onde as tropas israelenses ainda não entraram, e contra Deir al Balah, no centro de Gaza, informou a agência oficial palestina Wafa.
A guerra começou após os ataques de combatentes do Hamas ao sul de Israel em 7 de outubro, que deixaram 1.160 mortos, a maioria civis, segundo um balanço da AFP com base em dados oficiais israelenses.
Naquele dia, os militantes islamistas também sequestraram 250 pessoas, das quais 130 permanecem retidas em Gaza, incluindo 30 que teriam morrido, segundo o governo israelense.
Em resposta, Israel lançou uma ofensiva que já deixou 28.985 mortos, a maioria mulheres e menores de idade, segundo o Ministério da Saúde do Hamas, que governa Gaza desde 2007.
Nos últimos dias, a comunidade internacional tem advertido para as consequências humanas que teria uma operação em Rafah.
Netanyahu, contudo, insistiu no sábado que não entrar na localidade implicaria "perder a guerra" contra o Hamas, que é considerado uma organização "terrorista" por Israel, Estados Unidos e União Europeia.
Netanyahu insistiu que a operação avançará com ou sem acordo com o Hamas para a libertação de reféns.
As últimas negociações para uma trégua, contudo, não foram "muito promissoras", admitiu no sábado o Catar, mediador do conflito ao lado de Estados Unidos e Egito.
"Não é uma guerra, é um genocídio"
O Hamas ameaçou suspender sua participação no diálogo se não houver envio de ajuda para o norte de Gaza, onde ONGs advertem para uma crise de fome iminente.
As esperanças de um cessar-fogo também diminuíram depois que os Estados Unidos ameaçaram bloquear uma nova resolução do Conselho de Segurança da ONU na próxima semana.
O projeto, apresentado pela Argélia, busca um cessar-fogo imediato. Por outro lado, Washington, o principal aliado de Israel, defende um acordo para libertar os reféns e que interrompa os combates durante seis semanas.
A Argélia iniciou os debates sobre esta nova resolução após a Corte Internacional de Justiça determinar, em janeiro, que Israel deveria impedir qualquer ato de "genocídio" em Gaza.
Contudo, para o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, Israel não tem feito o suficiente.
O que está acontecendo na Faixa de Gaza não é "uma guerra, mas um genocídio", declarou o presidente Lula à imprensa na capital etíope Adis Abeba, onde participou da cúpula da União Africana, comparando as ações israelenses com a campanha de Adolf Hitler para exterminar os judeus.
Netanyahu, em contrapartida, classificou os comentários de Lula de "vergonhosos e graves" afirmando que constituem uma "banalização do Holocausto". Além disso, anunciou que seu governo convocou o embaixador do Brasil em Israel.
"Foi morto na zona de segurança"
O Ministério da Saúde do Hamas informou neste domingo que 127 pessoas morreram nas últimas 24 horas em Gaza.
Em um necrotério em Rafah, um grupo se despedia de um ente querido. "É meu primo, foi morto em Mawasi, na 'zona de segurança'", declarou Ahmad Muhammad Aburizq.
O Egito teme que uma ofensiva em Rafah desencadeie um êxodo de palestinos a seu território.
Um deslocamento forçado da população constituiria "uma violação do direito internacional humanitário" e aumentaria os riscos "de uma escalada regional", afirmaram os presidentes de Egito, Abdel Fattah al Sissi, e França, Emmanuel Macron, em uma conversa telefônica.
A guerra suscita temores de uma expansão do conflito. O Exército israelense informou neste domingo que bombardeou "infraestruturas terroristas" do movimento islamista Hezbollah, que é apoiado pelo Irã, no sul de Líbano.
O conflito também insufla a violência na Cisjordânia ocupada, onde as forças israelenses mataram dois palestinos de 19 e 36 anos, segundo o Ministério da Saúde da Autoridade Palestina.
O alto representante para a política externa da União Europeia, Josep Borrell, afirmou que as tensões nessa região representam um obstáculo para a paz.
"A Cisjordânia é o verdadeiro obstáculo para a solução de dois Estados", declarou Borrell na Conferência de Segurança de Munique, na Alemanha.
O Exército israelense informou neste domingo que suas tropas continuam operando "no hospital Nasser" de Khan Yunis, a cidade do sul de Gaza onde a força armada concentra suas operações.
As tropas israelenses entraram no hospital na quinta-feira, após receberem "informação crível" de que havia reféns no recinto.
O porta-voz do Ministério da Saúde do Hamas, Ashraf al Qudra, declarou que as tropas israelenses tinham transformado o hospital "em um quartel militar" e que mais uma pessoa havia morrido por falta de oxigênio, elevando para sete o número de mortos por esse motivo, provocado pelos cortes de eletricidade.