VIOLÊNCIA

Especialistas da ONU pedem investigação sobre acusações de violência contra palestinas

Mulheres e meninas teriam sido 'executadas arbitrariamente' e expostas a tratamento 'degradantes'; pelo menos duas detentas foram estupradas

Menina segura bandeira branca enquanto caminha com outros palestinos deslocados de Khan Younis - Mohammed Abed/AFP

Em um documento, divulgado nesta segunda-feira, especialistas do Alto Comissariado das Nações Unidas para Direitos Humanos (ACNUDH) pediram uma investigação independente e expressaram preocupação com as "alegações confiáveis de graves violações dos direitos humanos", incluindo violência sexual, que teriam sido perpetradas por israelenses contra palestinos da Faixa de Gaza e na Cisjordânia.

Sete especialistas independentes se manifestaram: Reem Alsalem, Francesca Albanese, Dorothy Estrada Tanck, Claudia Flores, Ivana Krstić, Haina Lu e Laura Nyirinkindi. Elas são nomeadas pelo escritório de Direitos Humanos da ONU, mas não representam a organização.

As especialistas citam relatos de mulheres e meninas que foram "executadas arbitrariamente em Gaza, às vezes com membros de suas famílias, incluindo seus filhos". Elas também disseram estar "chocadas com relatos de ataques deliberados e assassinatos extrajudiciais de mulheres e crianças palestinas em locais onde procuraram refúgio ou enquanto fugiam", afirmando que algumas "seguravam pedaços de pano branco quando foram mortos pelo Exército israelense ou forças afiliadas".

Também manifestaram "séria preocupação" com a "detenção arbitrária de centenas de mulheres e meninas palestinas", especialmente defensoras dos direitos humanos, jornalistas e trabalhadoras humanitárias, desde o ataque terrorista do Hamas contra o território israelense em 7 de outubro, que deixou 1,2 mil pessoas mortas e fez mais de 240 reféns, segundo as autoridades israelenses. O subsequente bombardeio e a ofensiva terrestre de Israel em Gaza mataram mais de 29 mil pessoas, a maioria mulheres e crianças, de acordo com o último balanço do Ministério da Saúde de Gaza, que é governada pela Hamas desde 2007.

De acordo com as especialistas, muitas das detentas foram submetidas a "tratamento desumano e degradante" e expressam preocupação com relatos de "várias formas de agressão sexual", incluindo estupro de pelo menos duas detentas, enquanto outras foram "despidas e revistadas por oficiais do exército israelense". Militares de Israel também teriam supostamente tirado fotos de mulheres detidas em situações "degradantes" e colocado na internet. Ainda segundo as especialistas, foram negados às presas "absorventes, alimentos e medicamentos", além de terem sido "severamente espancadas".

"Em pelo menos uma ocasião, mulheres palestinas detidas em Gaza foram alegadamente mantidas numa jaula à chuva e ao frio, sem comida", pontuaram, expressando preocupação com o fato de um número indeterminado de mulheres e meninas terem "desaparecido" após terem tido contato com o Exército israelense: "Há relatos preocupantes de pelo menos uma criança do sexo feminino transferida à força pelo Exército israelense para Israel e de crianças separadas de seus pais, cujo paradeiro permanece desconhecido."

Um exemplo das prisões é a da jovem ativista Ahed Tamimi, de 22 anos, que foi detida em novembro do ano passado, na Cisjordânia, por suposta "incitação ao terrorismo" de acordo com o Exército de Israel. O motivo, segundo uma fonte dos serviços de segurança, teria sido um texto no Instagram, que circulou nas redes sociais e foi atribuída a Tamimi, no qual pedem o "massacre" de israelenses em "todas as cidades da Cisjordânia, Hebron e Jenin", em termos violentos e explícitos. A jovem foi solta durante um acordo entre as partes, em novembro, na qual outras centenas de prisioneiros palestinos foram libertados em troca dos reféns sequestrados e mantidos em Gaza.

Apesar de ser governada pela Autoridade Nacional Palestina (ANP), a Cisjordânia é um território palestino ocupado desde 1967 por Israel. De acordo com números oficiais, cerca de três milhões de palestinos vivem na região, mas, ao mesmo tempo, o governo israelense reconhece a presença de 465.400 pessoas em assentamentos judaicos no território, considerados ilegais pelas leis internacionais. O número não inclui os assentamentos em Jerusalém Oriental, e as autoridades palestinas afirmam que o número real de colonos supera 700 mil. Além disso, desde o início do conflito em Gaza, a região tem sido abalada por uma violência renovada.

As especialistas apelaram uma "investigação independente, imparcial, rápida, completa e eficaz" sobre essas alegações e pedem que Israel coopere. A declaração, porém, provocou uma forte reação de do Estado judeu, que chamou as alegações de "desprezíveis e sem fundamento". A representação israelense na ONU em Genebra rejeitou as alegações e afirmou que as especialistas foram "motivados por seu ódio por Israel e não pela verdade".