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Posse de Aldo Rebelo tem indireta a Lula e Nunes defendendo "presunção de inocência" de Bolsonaro

Ex-ministro assume posto de Marta Suplicy com elogios ao prefeito e pré-candidato à reeleição

Ricardo Nunes e Aldo Rebelo: ex-ministro assumiu Secretaria das Relações Internacionais da prefeitura - Reprodução / Instagram

Ex-ministro dos governos Lula e Dilma, Aldo Rebelo tomou posse nesta segunda-feira como secretário de Relações Internacionais da prefeitura de São Paulo. A troca na pasta ocorre após Marta Suplicy deixar a gestão Ricardo Nunes (MDB) para disputar o comando da capital como vice na chapa do deputado federal Guilherme Boulos (PSOL).

O evento reuniu uma série de autoridades, como o ex-presidente Michel Temer; o ex-governador tucano Rodrigo Garcia; os governadores emedebistas Helder Barbalho (Pará) e Paulo Dantas (Alagoas); o presidente do MDB e deputado federal, Baleia Rossi (SP); o senador Ciro Nogueira (PP-PI); e o secretário de Governo do estado de São Paulo, Gilberto Kassab.

Também estiveram presentes aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), de quem Nunes busca apoio para a sua reeleição. Entre eles, o ex-secretário de Comunicação e atual advogado de Bolsonaro, Fabio Wajngarten; o deputado federal Paulo Bilynskyj (PL-SP); e a vereadora licenciada Sonaira Fernandes, secretária da Mulher do governo Tarcísio de Freitas (Republicanos). Como mostrou O GLOBO, a escolha de Aldo contou com o endosso de Bolsonaro.

Em seu discurso, Aldo mandou uma indireta ao presidente Lula, dizendo que a vocação do Brasil em conflitos como o que envolve Israel e a Faixa de Gaza é “sempre ser parte da solução, e não ser parte do problema”. O presidente iniciou uma crise diplomática neste domingo ao comparar os ataques de Israel ao Holocausto.

Além de dar posse a Aldo e a Renato Nalini, que assume a secretaria de Mudanças Climáticas, o evento desta segunda-feira teve tom eleitoral, com direito a discursos elogiosos a Ricardo Nunes. Numa tentativa de distanciar o prefeito do bolsonarismo, aliados o chamaram de “democrata nato” que não governa para os “extremos”. A narrativa foi depois reforçada pelo próprio chefe do Executivo paulistano, que, em entrevista coletiva, declarou não estar preocupado com a direita ou com a esquerda.

— Hoje a escolha do Renato e do Aldo mostra que a gente não está preocupado com essas questões ideológicas — disse Nunes.

O prefeito se esquivou de perguntas sobre a investigação da Polícia Federal envolvendo o ex-presidente Jair Bolsonaro. Ele não respondeu se acredita na inocência de Bolsonaro e se restringiu a dizer que não é advogado do aliado e que acha “ruim” pré-julgar as pessoas.

— O artigo quinto é muito claro com relação à presunção de inocência e ao direito de todos fazerem suas defesas. As coisas estão caminhando. Acredito muito nas instituições — afirmou Nunes, acrescentando que sequer Bolsonaro foi indiciado. — Não compete a mim fazer essa avaliação (de Bolsonaro ser culpado ou não).

Aldo, por sua vez, deu um passo adiante ao declarar que nunca viu um golpe de estado preparado numa reunião ministerial e gravado.

— Quem quer dar um golpe de estado classicamente procura fazer isso de forma reservada, secreta. É uma conspiração. Você vai dar um golpe de estado e convoca uma reunião ministerial para preparar. Por favor, né? — ironizou Aldo.

Sai Marta, entra Aldo
Embora tenha integrado os governos petistas, Aldo tem boa relação com Bolsonaro e seu entorno, além de trânsito com o agronegócio e os militares — por isso, inclusive, foi ministro da Defesa.

Pertencente a uma corrente ultranacionalista do PDT, Rebelo tem se afastado de partidos de esquerda como PSOL e PT nos últimos anos e atraído apoio de lideranças da direita por seus posicionamentos recentes. Ele rechaçou, por exemplo, chamar o 8 de janeiro de golpe, dizendo que foi criada "uma fantasia" para legitimar a polarização no país. E questionou a investigação da PF que acusa Jair Bolsonaro de planejar um golpe de Estado.