Dengue: sorotipo 3 avança, mas não influencia na alta de casos
Estado de São Paulo tem, ao menos 22 diagnósticos causados por essa variável da infecção
Identificado pela primeira vez em São Paulo em novembro do ano passado, apos 15 anos sem aparecer no estado, o sorotipo 3 da dengue segue apresentando registros na região — mas embora inspire cautela, não está por trás do aumento vertiginoso de casos da doença vistos no começo deste ano.
De acordo com levantamento realizado pelo Globo, são ao menos 22 casos conhecidos do sorotipo no estado de SP desde a primeira notificação, no ano passado. Do total, 19 deles ocorreram em Votuporanga, um na capital paulista, mais um em Cardoso e outro em Valentim Gentil. O número pode, inclusive ser maior, pois nem todos os municípios atualizam o banco de dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), ligado ao Ministério da Saúde, para monitoramento dos casos.
O número comparado aos 64 mil casos de dengue conhecidos do estado de SP é baixo, mas inspira cuidados justamente por tratar-se de um sorotipo raro, que poucas pessoas tiveram contato e, portanto, não apresentam anticorpos para defender-se da infecção.
"Temos três sorotipos circulando. Isso tem impacto com relação à possibilidade de ocorrerem doenças graves. Como temos falado, se alguém tem uma segunda infecção, que normalmente é por conta de tipos diferentes (do vírus), há a maior chance de ter um caso grave. Com mais versões circulando, aumenta-se a chance de ter uma segunda infecção. Ainda mais sendo um sorotipo que não aparece há muito tempo, as pessoas não tem anticorpos", diz Adriano Abbud, epidemiologia do Instituto Adolfo Lutz. "É um fator complicador, mas precisamos acompanhá-lo, fazer esse monitoramento e é de atribuição do estado. É pra isso que existe a vigilância sentinela", complementa.
Os sorotipos
Conforme explica a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), existem quatro sorotipos, ou seja "versões", do vírus que causa a dengue. São eles DENV-1, DENV-2, DENV-3 e DENV-4. No Brasil, nos últimos anos e variando por localidade, se revezam os tipos 1 e 2. E é ai que está a atenção para a "reinserção" do tipo 3, que já apareceu em São Paulo e outros estados, como Minas e Pernambuco. Isso porque em todos os casos de dengue, assim que o paciente se recupera de uma infecção, ele tem "imunidade contra o sorotipo adquirido".
Isso quer dizer que ele não irá adoecer novamente pela mesma "variação" do vírus. Mas segue vulnerável a todas as outras linhagens. Ter uma nova vertente da dengue circulando no país quer dizer que menos pessoas têm a proteção natural. Além disso, uma segunda infecção por dengue é sempre mais perigosa que a primeira, daí a preocupação com a circulação de um novo subtipo em um estado populoso como São Paulo.
Vale ressaltar que esse subtipo 3 não é capaz, sozinho, de causar casos mais graves do que as outras variações.