Petrobras quer ter a gestão da Braskem com a chegada de novo sócio
Estatal também busca parceiros árabes para fertilizantes e conversa com Mubadala para voltar a operar a refinaria da Bahia
A Petrobras vai aproveitar o processo de venda da fatia da Novonor (ex-Odebrecht) na Braskem para ter poder de decisão na gestão da gigante petroquímica e guiar diretamente os investimentos da companhia.
Hoje, a gestão da Braskem está a cargo da Novonor, que tem 50,1% de seu capital votante. A estatal tem 47% das ações com direito a voto, mas não participa do processo decisório. Por isso, a estratégia da nova direção da estatal é refazer o acordo de acionistas com a chegada do novo sócio.
A Braskem, que já chegou a receber propostas da Unipar e J&F, tem hoje como principal interessado a Abu Dhabi National Oil Company (Adnoc), a estatal de petróleo de Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos.
Em evento realizado no Cenpes nesta terça-feira no Rio de Janeiro, para o lançamento de uma tecnologia de separação de óleo e gás com reinjeção de gás carbônico no fundo do mar, Jean Paul Prates, presidente da Petrobras, disse que é natural que a estatal tenha uma participação na gestão de igual para igual com um novo sócio.
"É natural que em uma nova estrutura com um sócio de mesmo tamanho, um congênere, a gente tenha uma co-gestão, de igual para igual. Mas isso não esta sendo tratado agora. Isso é um fator que virá depois de definido o sócio. Queremos ter um sócio para que a gente possa trabalhar junto. Não somos vendedores nem compradores da outra parte. Estamos observando o processo e tentando em algumas conversas paralelas, sem influenciar o processo, conhecer quais os potenciais parceiros. A parte procedimental (da venda) é com a Novonor", disse Prates.
Segundo o presidente da Petrobras, a conversa com a Adnoc envolve várias áreas e inclusive a petroquímica porque, diz o executivo, a companhia árabe fez uma proposta pela Braskem.
"Temos uma conversa de alto nível, de futuro. Mas não é só a Braskem. Quando a Adnoc olha para a Braskem, ela vê uma empresa onde a Petrobras está. Estamos trabalhando com o "se" for ela. A mesma coisa com a estatal petroquímica do Kwait. Ela também nos perguntou sobre Braskem, mas até agora não fez proposta e o processo está aberto. Não me parece que haja prazo. Ninguém na Petrobras está falando em prazo."
O executivo lembrou ainda que o setor petroquímico faz parte do novo plano de negócios da estatal para os anos de 2024 a 2028 e é tido como pilar para a transição energética.
Todas as empresas do setor de petróleo estão andando nessa direção.
Em viagem recente a países do Oriente Médio, Prates destacou ainda a busca por parcerias no setor de fertilizantes, onde vai voltar a investir. Prates citou conversas com estatais da Arábia Saudita, do Kwait e do Qatar.
"A Qatar Energy é um fornecedor de gás importante e tem fornecido fertilizantes. Somos um comprador importante de GNL do Qatar, embora os últimos carregamentos tenham sido dos EUA. E eles estão dispostos a abrir mais espaço para conversas sobre preços. E isso tudo na busca de melhorar o nosso preço de gás importado e, ao mesmo tempo, viabilizar a produção de fertilizantes."
Na viagem ao Oriente Médio, Prates também teve encontros com o fundo Mubadala, dono da refinaria da Bahia, que foi vendida pela gestão de Jair Bolsonaro e rebatizada de Mataripe. Ele disse que é importante recuperar a operação da refinaria.
"Fomos convidados por eles para voltar a fazer parte da refinaria e fazer parte do projeto de biocombustível. Queremos votar a fazer parte da gestão da refinaria porque é importante. Para nós, a refinaria complementa uma série de coisas em termos de sinergias com o resto do sistema. Para nós, não nos cabe adiantar nada, mas recuperar a Rlam (antigo nome da refinaria) é important."
Segundo fontes, uma das ideias em estudo, que ainda precisa passar por aprovação dos Conselhos de Administração das empresas, é fazer uma espécie de IPO privado da refinaria, com a Petrobras comprando mais de 51% das ações e reincorporando o ativo em seu balanço.
Investimento em nova tecnologia
No evento realizado no Rio de Janeiro, a Petrobras apresentou o Hisep, que faz a separação de água e óleo e reinjeção de gás carbônico no fundo do oceano. A estimativa é que o equipamento seja instalado em 2025 na área de Mero, no pré-sal da Bacia de Santos. O investimento chega a US$ 1,7 bilhão. Os primeiros testes com a nova tecnologia começam em 2028.
A previsão é de uma redução de 4% na intensidade de carbono e a redução dos custos das FPSOs (navio-plataforma), já que hoje a separação é feita nas unidades em alto-mar.
-- Descarbonizar é fundamental. É um processo importante e vai fortalecer o que já estamos fazendo. Hoje, 25% do gás carbônico reinjetado no mundo (em campos de petróleo) é da Petrobras -- afirmou o executivo.