Mistério ronda morte de piloto russo que desertou para a Ucrânia
O militar partiu de uma base na região de Kursk e voou a uma "altitude extremamente baixa"
A morte de um piloto russo que desertou para a Ucrânia está cercada de mistério e, nesta terça-feira (20), as autoridades espanholas ainda não confirmaram se o corpo crivado de balas encontrado na semana passada na costa do país pertence ao desertor.
Crítico da guerra na Ucrânia, Maxim Kuzminov desertou em agosto do ano passado, a bordo de um helicóptero Mi-8 do Exército russo, e aterrissou em território sob controle ucraniano.
O militar partiu de uma base na região de Kursk e voou a uma "altitude extremamente baixa" para evitar ser detectado, segundo ele mesmo explicou em um vídeo difundido em setembro pela inteligência militar ucraniana (GUR).
Um porta-voz da GUR confirmou hoje à AFP a morte de Kuzminov, mas sem dar detalhes sobre suas circunstâncias.
Diversos veículos de informação espanhóis reportaram nesta segunda-feira que o corpo de uma pessoa assassinada a tiros na terça-feira da semana passada na localidade costeira de Villajoyosa, perto de Alicante, no sudeste da Espanha, era o do desertor russo.
A informação, contudo, não foi confirmada pelas autoridades espanholas.
A Rússia rechaça reiteradamente as acusações de assassinato ou tentativas de assassinato de desertores ou adversários do Kremlin, tanto dentro como fora de suas fronteiras.
Identidade falsa
A Guarda Civil espanhola, responsável pela investigação, se limitou a indicar à AFP que "a identidade que constava desta pessoa poderia ser falsa e se tratar de outro indivíduo".
A corporação armada está verificando a verdadeira identidade do falecido, o que poderia levar tempo, indicou o Ministério do Interior.
"É preciso deixar a Guarda Civil fazer seu trabalho e que a investigação avance", disse, em entrevista coletiva, a porta-voz do governo espanhol, Pilar Alegría, ao ser perguntada sobre o caso.
Segundo uma fonte judicial, o homem assassinado na saída do estacionamento de um edifício de Villajoyosa portava documentos que o identificavam como um ucraniano de 33 anos.
O caso foi considerado inicialmente como um "ajuste de contas", segundo a fonte, em uma área onde a comunidade russa é numerosa.
As autoridades localizaram depois, em uma localidade vizinha, um automóvel carbonizado, usado pelos assassinos, segundo a imprensa local.
"Traidor e criminoso"
Após sua deserção, Kuzminov relatou que a planejou em sigilo durante meses com os serviços ucranianos, e instou outros soldados russos a fazerem a mesma coisa.
A inteligência militar ucraniana indicou que dois companheiros que estavam com Kuzminov, que não sabiam de seus planos, foram mortos pelas forças ucranianas quando tentaram fugir ao chegarem à Ucrânia.
O governo russo não demorou a expressar satisfação diante das notícias que o dão como morto.
"Este traidor e criminoso se transformou em um cadáver moral desde o momento em que planejou seu crime desprezível e terrível", declarou o titular do Serviço de Inteligência Externa (SVR), Sergei Naryshkin, citado pela agência oficial TASS, sem confirmar nem negar um envolvimento russo na morte.
Em uma reportagem exibida em outubro, a televisão estatal russa afirmou que os serviços especiais foram encarregados de encontrar e punir o desertor.