Candidata de oposição pede a presidente do México que não intervenha nas eleições
Após seu registro, ela denunciou o uso do aparato estatal para promover a candidata do governo de esquerda Claudia Sheinbaum
A candidata presidencial opositora Xóchitl Gálvez exigiu ao presidente mexicano, Andrés López Obrador, que não intervenha nas eleições de junho e alertou sobre ameaças do crime organizado às eleições, ao inscrever sua candidatura nesta terça-feira (20).
Gálvez, senadora de origem indígena de 60 anos, recebeu do Instituto Nacional Eleitoral (INE) o documento que a certifica como candidata da coalizão de centro direita Força e Coração pelo México.
Após seu registro, ela denunciou o uso do aparato estatal para promover a candidata do governo de esquerda Claudia Sheinbaum, favorita para ganhar a eleição de 2 de junho, segundo as últimas pesquisas.
"Por respeito à sua candidata, por respeito à democracia, por respeito ao povo, tire já as mãos desta eleição", disse Gálvez em seu discurso, dirigindo-se diretamente ao presidente, a quem acusou de ser o chefe de campanha de Sheinbaum.
Gálvez conta com 31% das intenções de voto, longe dos 64% de Sheinbaum, ex-prefeita da Cidade do México, segundo um consolidado de pesquisas realizado pela empresa Oraculus. Jorge Álvarez Máynez, do partido Movimento Cidadão (centro esquerda), aparece em terceiro com 5%.
López Obrador foi advertido pela autoridade eleitoral por criticar Gálvez em sua coletiva de imprensa diária.
A dirigente e engenheira da computação também evocou os contínuos ataques ao INE de López Obrador.
"O INE e o tribunal eleitoral devem estar atentos aos instintos autoritários e ao ativismo partidário do presidente", lançou Gálvez.
AMLO - como é conhecido o presidente por suas iniciais - acusa a autoridade eleitoral de ter tolerado fraudes que, segundo ele, custaram-lhe a Presidência em 2006 e 2012.
A oposição mobilizou no último domingo dezenas de milhares de pessoas para denunciar um viés autoritário do presidente, depois que este enviou ao Congresso um pacote de reformas constitucionais que propõem do aumento das pensões à eleição por voto popular dos magistrados da Suprema Corte de Justiça e os conselheiros do INE.
AMLO, que também propõe a eliminação de organismos descentralizados, acusa o máximo tribunal judicial de estar a serviço das elites políticas e econômicas do país.
Mas a oposição sustenta que as emendas constitucionais buscam consolidar o Morena, o partido de López Obrador, em uma força hegemônica ao estilo do PRI, que governou o México ininterruptamente por 70 anos até 2000.
O PRI, além do conservador PAN e do esquerdista PRD, integram a coalizão opositora de Gálvez.
"Orgulhosamente mulher e indígena"
A senadora denunciou também "a tolerância" do atual governo com o crime organizado e citou advertências de magistrados eleitorais de que possíveis incidentes de "violência generalizada" afetem os pleitos em que também serão eleitos congressistas, oito governadores e numerosos cargos regionais, incluindo a prefeitura da Cidade do México.
"Hoje o crime organizado controla vastos territórios do país, o governo não deve permitir que esse controle territorial transtorne a vontade cidadã que se expressará nas urnas", assinalou Gálvez, que ofereceu condolências às famílias de candidatos assassinados durante este processo eleitoral.
Segundo analistas, os cartéis do narcotráfico interferem nas eleições mexicanas há décadas por meio de ações violentas e financiamento de campanhas para impor candidatos afins.
A dirigente opositora respondeu também a López Obrador, que a chamou de "ladina" em seu livro intitulado "Gracias", publicado há poucas semanas e no qual faz uma revisão de sua gestão.
"Ladino era um termo utilizado pelos conquistadores de maneira racista e classista contra os indígenas que buscavam se superar. Que fique claro: sou orgulhosamente mulher e sou orgulhosamente indígena", afirmou.
Gálvez se define como uma liberal progressista e promete fomentar o investimento estrangeiro e pôr fim à tolerância de autoridades com os cartéis do narcotráfico.
Também promete pôr fim à exploração de combustíveis fósseis e à "militarização" do país, como se refere à ampliação do papel das forças armadas durante o governo de López Obrador.
A campanha eleitoral começará formalmente em 1º de março.