O preço do azeite vai finalmente cair? Maior produtor global vê cenário melhor este ano
"Por enquanto, está chovendo adequadamente" diz Carlos Sánchez, diretor de Operações da gigante espanhola Deoleo
Se a chuva se confirmar na primavera europeia, a partir de março, como está previsto pela meteorologia, o preço do azeite pode começar a cair no segundo semestre deste ano. A expectativa é de Carlos Sánchez, diretor de operações da Deoleo, companhia espanhola maior produtora global do produto dona de marcas como Bertolli, Carapelli, Carbonell, Koipe, Figaro, Sasso e Maestros de Hojiblanca.
"Os preços vão seguir como estão atualmente, mas se a chuva se confirmar durante a primavera, como está previsto, os preços podem começar a cair no meio deste ano" disse Sánchez.
A produção do azeite vem de dois anos ruins, com secas provocadas pela mudanças climáticas, que afetaram inclusive a qualidade das azeitonas.
Uma garrafa de azeite de oliva virgem no Brasil foi de R$ 24,96 em 2022 para R$ 31,66 no ano passado, enquanto o extra-virgem foi de R$ 28,40 para R$ 35,97 no mesmo período. Em média, a alta foi de 40%.
O diretor da Deoleo diz que se trata de um setor muito sensível às condições meteorológicas e, por isso, é difícil fazer previsões sobre preços. Mesmo assim, ele se mostra otimista: diz que as chuvas até agora têm sido suficientes.
Alta nas vendas mesmo após subida de preços
A Espanha é a principal fornecedora global de azeite, com cerca de 50% da produção mundial, e dita os preços do mercado. Em 2022, mesmo com a seca, a Deoleo registou vendas de 827 milhões de euros, um aumento de 18% em relação ao ano anterior. No mesmo ano, a Deoleo vendeu176,5 milhões de litros de azeite e exportou para 67 países, incluindo o Brasil.
Sánchez, em conversa com O Globo durante visita à planta da companhia em Córdoba, na Espanha, diz que uma boa colheita depende de três parâmetros.
Frio, calor e chuvas na hora certa
A temperatura tem que se manter mais baixa por enquanto, mas quando for o momento da florada, em março, não podem ocorrer temperaturas muito baixas porque isso destrói as flores.
Ele explica que também é preciso chuva na primavera para que as azeitonas ganhem peso depois do verão. E também é preciso que chova em setembro — e isso ainda não é possível confirmar. Por enquanto, diz ele, a perspectiva é de uma primavera chuvosa.
"Por enquanto, está chovendo adequadamente. Temos boa floração. Mas só em outubro vamos saber como será" disse o diretor da companhia.
O verão no Mediterrâneo foi quente, seco e longo. Entre abril de 2022 e maio de 2023, as temperaturas superaram a média em até 2,5°C, e por vezes até 4°C. O cenário foi agravado pela falta de chuvas, que reduziu os reservatórios de Andaluzia, no sul da Espanha, a 25% de sua capacidade. Esses fatores diminuíram a umidade do solo e prejudicaram o desenvolvimento das oliveiras em sua estação crucial de crescimento.
Adaptação ao clima extremo
As oliveiras são resistentes a mudanças de temperaturas, mas estão sendo forçadas a se adaptar ao clima extremo. Segundo o site Olive Oil Times, algumas espécies da árvore atrasam o desenvolvimento dos frutos no calor até que as temperaturas fiquem mais amenas, reduzindo o peso das azeitonas e diminuindo a safra.
No ano passado, o governo espanhol anunciou um pacote de € 2,2 milhões para que os agricultores melhorem as estruturas hídricas.
Brasil é um dos maiores importadores do mundo
Sánchez diz que o mercado brasileiro é o principal da América do Sul para a companhia com a marca Carbonell e os preços no Brasil refletem o que acontece no mercado espanhol.
Na Espanha: Entenda como a crise do azeite tem se tornado um problema de segurança no país ibérico
"A única diferença é o tempo que o preço leva para subir, porque isso depende do consumo. E isso acontece em todo o mundo, já que os países acompanham o preço da Espanha" afirmou.
O Brasil é um dos maiores importadores de azeite do mundo, junto com Japão, Estados Unidos e Canadá.