Brasil

"Má liderança trouxe pior coisa que existe em democracia" diz Barroso sobre governo Bolsonaro

Presidente do STF criticou o que chamou de "politização indevida" das Forças Armadas nos últimos anos

Luís Roberto Barroso, presidente do STF - Marcelo Camargo/Agência Brasil

O ministro Luis Roberto Barroso, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), o que chamou de "politização indevida" das Forças Armadas nos últimos anos. O magistrado comentou o inquérito da Polícia Federal acerca de uma suposta tentativa de golpe de Estado articulada durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), em que militares em cargos de liderança na antiga gestão são investigados.

"Infelizmente, se reavivou uma assombração que já achávamos enterrada na vida brasileira, que é a do golpismo. A verdade é que as Forças Armadas no período pós-1988 haviam tido um comportamento exemplar e recuperado o prestígio que eu acho que a instituição merece. São pessoas que vão para os lugares mais remotos do Brasil, não é uma vida fácil. Eu tenho apreço pela instituição" disse Barroso, durante entrevista à GloboNews, nesta quarta-feira (21).

O ministro citou nome de oficiais do Exército que ocuparam postos de comando e, segundo ele, ajudaram a "impedir o avanço do sentimento golpista" nas tropas.

Entre os militares estão o general Fernando Azevêdo e Silva, ministro da Defesa nos primeiros dois anos do governo Bolsonaro; o general Marco Antônio Freire Gomes, que comandou o Exército também na gestão do ex-presidente; e o general Tomás Ribeiro Paiva, atual comandante do Exército:

"A pior coisa que existe para a democracia é general em palanque. Acho que houve uma politização indevida a ser lamentada, mas acho que as instituições prevaleceram, conseguimos recuperar a institucionalidade."

Barroso também abordou o discurso proferido por Bolsonaro em que levantava suspeitas sobre a votação eletrônica, cuja lisura, segundo ele, é inquestionável. O ministro elencou as providências tomadas por ele a frente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

"Para enfrentar esse problema, eu montei uma Comissão de Transparência porque nós não tínhamos nada a esconder. E chamei diversos segmentos representativos da sociedade [...]. Chamei as Forças Armadas, e preciso dizer, lamentando muito, que tiveram um comportamento bastante decepcionante. Chamei para dar transparência, para ajudar na segurança, para prestigiar a instituição e eles acabaram sendo manipulados para levantar desconfianças e suspeitas infundadas [...]. No final das contas, foi altamente legitimador do processo eleitoral você ter alguém lá dentro procurando alguma coisa errada" afirmou. 

Sobre a questão da disseminação de informações falsas, Barroso disse que e o Brasil e o mundo ainda não têm ferramentas capazes de frear o impacto da inteligência artificial nessa seara. Para o ministro, a solução para o público passa pela credibilidade da imprensa ao filtrar esse conteúdo e divulgar informação de qualidade:

"A notícia ruim é: não há como, neste momento, conter o uso do deep fake. [...] A ideia que se tinha era tecnologicamente você ser capaz de identificar o que era produto de inteligência artificial. Ter uma marca d'água. Mas não se consegue, a tecnologia ainda não consegue. Então, nós vamos lidar com o deep fake nas eleições."