Vice-diretora do FMI começa visita à Argentina em meio a forte tensão social
Gopinath se reuniu durante quatro horas com o ministro da Economia, Luis Caputo, com o presidente do Banco Central
A vice-diretora do Fundo Monetário Internacional (FMI), Gita Gopinath, começou a avaliar na Argentina, nesta quarta-feira (21), o andamento do programa de crédito com o país, informaram fontes oficiais, em meio a uma forte tensão social.
Gopinath se reuniu durante quatro horas com o ministro da Economia, Luis Caputo, com o presidente do Banco Central, Santiago Bausili, e com o chefe de gabinete, Nicolás Posse, no início de uma visita de menos de dois dias.
"Tive uma conversa produtiva com Caputo, Bausili e Posse sobre os esforços em andamento para restaurar a estabilidade macroeconômica, proteger os vulneráveis e fortalecer as perspectivas de crescimento na Argentina", publicou a funcionária do FMI no X.
Os três altos funcionários detalharam a Gopinath os resultados de gestão de janeiro, quando o país alcançou um superávit comercial de 797 milhões de dólares (cerca de R$ 3,90 bilhões) e o governo, um superávit fiscal de 588 milhões de dólares (R$ 2,89 bilhões), segundo a agência estatal Télam.
A vice-diretora do FMI também vai se reunir com acadêmicos e representantes de organizações sociais e sindicatos, no momento em que crescem os protestos contra as primeiras medidas do governo do ultradireitista Javier Milei.
Antes de partir para o Rio de Janeiro, na quinta-feira, para participar da reunião do G20, a funcionária será recebida por Milei, que antecipa cortes nos gastos públicos e sociais e desregulamentações na economia, movimentos que o FMI considerou "audaciosos" e "desafiadores".
Em 2018, durante a Presidência do direitista Mauricio Macri, a Argentina tomou do Fundo um empréstimo de 57 bilhões de dólares (cerca de R$ 220 bilhões, em cotação da época), dos quais recebeu pouco mais de US$ 44 bilhões (R$ 170 bilhões). O acordo foi renegociado em 2022 pelo peronista Alberto Fernández (centro-esquerda) e, após o descumprimento de metas em 2023, foi reabilitado pelo governo atual.
Milei empreendeu um forte ajuste fiscal, maior ao que tinha recomendado o próprio FMI, com o qual se comprometeu a terminar 2024 com um superávit das contas públicas de 3% do PIB.
Em janeiro, a redução dos gastos em obras públicas e pagamentos de pensões e salários a funcionários públicos, de aportes a províncias e de subsídios a tarifas de energia, permitiu ao governo alcançar o primeiro superávit mensal do país em 12 anos, enquanto aumentou as fragilizadas reservas internacionais de US$ 21 bilhões (R$ 104 bilhões) a US$ 27 bilhões (R$ 134 bilhões).
Ao aprovar a última parcela para a Argentina, o FMI elogiou o "ambicioso plano de estabilização" de Milei para reverter uma inflação anual de 254,2%, uma pobreza que atinge metade da população e uma contração do PIB de 2,8% prevista para 2024 pelo próprio organismo.
No entanto, o Fundo advertiu o governo que o plano do presidente precisa de "uma comunicação clara e fortalecer a assistência social".
Gopinath chegou ao país em um dia com serviço de trens paralisado por um protesto e a CGT, principal central sindical argentina, debatendo se organiza uma segunda greve nacional depois da de 12 horas convocada em 24 de janeiro.