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MIS-SP inaugura exposição inédita sobre Holocausto e a vida de Julio Gartner

Mostra segue padrão comum ao museu, com ampla cenografia e uso de vídeos e fotos; Abertura ocorrerá em 9 de março

Sobreviventes do Campo de Ebensee, na Áustria em maio de 1945 - Museu Memorial do Holocausto dos Estados Unidos, cortesia de Fred Anderson

Foi inspirado na história de Nicholas Winton (1909-2015), o britânico que salvou quase 700 crianças judias da morte nas mãos de tropas nazistas, que o diretor-geral do Museu da Arte e do Som de São Paulo (MIS-SP) André Sturm passou a imaginar a curadoria de uma exposição brasileira dedicada ao Holocausto. O projeto amadureceu e, em agosto do ano passado, começou a ser desenvolvido. O resultado poderá ser visto a partir de 9 de março, em São Paulo.

A mostra se divide em dois momentos: o primeiro deles se serve da história do polonês radicado no Brasil Julio Gartner (1924-2018) para recontar o massacre dos judeus ao longo da Segunda Guerra. No Segundo, ganha fôlego o que foi a ideia inicial de Sturm, rememorar figuras que colocaram a própria vida em risco para ajudar o grupo de judeus em perigo ao longo do Holocausto.

No primeiro pavimento, seguindo a história de Gartner, a mostra recria lugares como o gueto de Cracóvia, e uma câmara de gás assemelhada à de Auschwitz, além de um vagão de trem que rememora os mesmos veículos que faziam o caminho até os campos de extermínio, entre outros. Todos esses pontos são capazes de contar a história de Gartner, mas também de exemplificar de modo impactante o massacre contra os judeus ocorrido no século XX.

"Queremos que as pessoas entendam o caráter único do Holocausto. O ser humano é capaz de coisas horríveis, infelizmente inúmeros genocídios ocorreram, mas esse foi o momento em que houve uma operação industrial para dizimar um grupo, é isso que queremos mostrar às pessoas, essa gravidade" afirma André Sturm.

Sinônimo de exposições imersivas e com amplo apelo nos aspectos visuais e cenográficos o MIS-SP não fugirá de suas origens ao apresentar essa mostra, embora trate de um assunto mais delicado do que as temáticas normalmente abordadas pelo museu — amplamente afeito às exibições de cinema e outras formas de arte. Desse modo, são esperados cenários montados especialmente para a mostra, além de vídeos e fotografias. Parte desse material histórico foi emprestado pelo United States Holocaust Memorial Museum, em Washington, entre outras instituições.

Para não derrapar em terminologias e aspectos históricos, a exibição conta também com a curadoria conjunta de Marcio Pitliuk, escritor e especialista no Holocausto..

"Estamos sendo muito detalhistas. Fizemos consultas, inclusive, ao Museu do Holocausto de São Paulo e ao Museu Judaico de São Paulo. Não queremos fazer algo hollywoodiano, mas sim algo verdadeiro. Mostrar o que ocorreu com as pessoa" afirma Sturm.

A exposição, contudo, não terá ampla exibição de objetos originais, herdados desse episódio da história. Cabe como exceção, uma estrela de Davi do período. A nova exibição, portanto, terá foco especial em materiais audiovisuais, como é de praxe para a instituição.

Primeiro andar
Dividida em dois pavimentos, a exibição terá num segundo ambiente, uma homenagem a sete pessoas que correram risco de vida para salvar judeus ao longo do Holocausto. Entre eles o alemão Oskar Schindler (1908-1974), cuja célebre história é contada no filme “A Lista de Schindler”, de 1993. Há ainda a biografia da brasileira Aracy Guimarães Rosa, que ajudou diversos judeus a migrarem ao Brasil enquanto trabalhava no Consulado Brasileiro em Hamburgo, e de Nicholas Winton, uma das inspirações para a mostra, e que será interpretado por Anthony Hopkins na cinebiografia 'One Life', com previsão de lançamento para março.

Sturm prefere não ampliar a discussão em questões que toquem no atual conflito entre Israel e Palestina, ou na recente fala do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em que compara o conflito no Oriente Médio com o Holocausto. Mas reconhece, contudo, que essas discussões em curso aumentam a importância da realização da mostra.

"Não quero de jeito algum politizar, nem colocar a discussão de Israel, Gaza e Hamas. Mas a última fala do presidente e as reações (após o comunicado) só mostram a urgência da exposição" afirma o diretor.

A exposição ficará em cartaz no Museu da Imagem e do Som, na Avenida Europa, 158, em São Paulo. Os ingressos custam até R$ 20. Há gratuidade todas as terças-feiras e para crianças até 7 anos (ao longo de todo o período de exibição).