Mudança climática não foi fator determinante nos incêndios no Chile, diz estudo
Em 2 de fevereiro, uma série de incêndios simultâneos atingiram os arredores da cidade costeira de Viña del Mar
A mudança climática e o fenômeno El Niño não foram fatores determinantes nos devastadores incêndios florestais que deixaram ao menos 133 mortos na região chilena de Valparaíso no início de fevereiro, de acordo com um estudo divulgado pela associação World Weather Attribution (WWA) nesta quinta-feira (22).
Nesta região central do Chile, "as condições de calor, secura e vento não estão mudando atualmente", afirma o estudo elaborado por um grupo internacional de especialistas que analisa os efeitos da mudança climática em fenômenos meteorológicos extremos.
Em 2 de fevereiro, uma série de incêndios simultâneos atingiram os arredores da cidade costeira de Viña del Mar.
As chamas varreram cerros superpovoados, deixando 133 mortos e destruindo 7.000 casas, na pior tragédia deste tipo desde a registrada na Austrália em 2009, na qual 179 pessoas morreram em incêndios no sudeste do estado de Victoria.
Os pesquisadores do WWA acreditam que é "provável que o resfriamento local ao longo da região costeira do centro-norte do Chile explique por que atualmente não há um aumento claro das condições de calor, secura e vento" na região.
Segundo o estudo, o litoral chileno "é um dos poucos lugares do mundo onde a mudança climática está provocando uma ligeira diminuição média anual das temperaturas do ar", devido a um fenômeno que provoca ventos mais fortes, que empurram águas profundas e frias para a costa local.
Esta água mais fria acaba substituindo "as águas superficiais quentes em um processo chamado 'ressurgência', que provoca baixas temperaturas ao longo da costa, diferentemente do interior do Chile e do resto da América do Sul".
"Este complexo padrão de tendências não se traduz nem em uma diminuição nem em um aumento das condições meteorológicas superficiais que causam os incêndios florestais", disse Tomás Carrasco, do Centro de Pesquisa sobre Clima e Resiliência da Universidade do Chile e coautor da investigação.
Contudo, se o aquecimento global aumentar 2ºC, "é provável que o clima propenso aos incêndios retorne mais intenso nos arredores de Viña del Mar e Valparaíso", estimou Carrasco.
Os pesquisadores também constataram que o fenômeno do El Niño — que eleva a temperatura do oceano Pacífico, gerando secas e inundações — "não teve uma influência significativa na meteorologia dos incêndios".
Em contrapartida, o mau uso do solo na região teve um impacto maior, sobretudo com a expansão das monoculturas de pinheiros e eucaliptos nas últimas décadas, que são mais inflamáveis que a vegetação nativa.
"Eles estão aumentando enormemente tanto o risco de ignição como de propagação de incêndios em muitas regiões do Chile", explicaram.
As autoridades também estão investigando se os incêndios foram provocados de forma intencional ou por negligência.