"Discordamos", diz porta-voz do governo americano sobre declaração de Lula sobre Israel e Palestina
Secretário de Estado dos EUA irá se encontrar Lula nesta quarta-feira; brasileiro se tornou persona non grata em Israel após comparação
O porta-voz do governo americano Matthew Miller disse que os Estados Unidos discordam da recente declaração do presidente Lula, que comparou os ataques de Israel a Gaza ao Holocausto. Durante uma coletiva de imprensa no Departamento de Estado americano, um jornalista questionou o porta-voz sobre se isso seria tema das conversas entre Lula e o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, que desembarca no Brasil na noite desta terça-feira.
— Obviamente, nós discordamos desses comentários. Fomos bastante claros que não acreditamos que um genocídio ocorreu em Gaza. Queremos ver o conflito encerrado quando for possível. Queremos ver aumento de ajuda humanitária para civis em Gaza. Mas não concordamos com esses comentários — disse Miller.
O encontro de Blinken e Lula, marcado para quarta-feira, acontece em meio à tensão diplomática entre Brasil e Israel após o presidente brasileiro comparar as ações de Israel em Gaza ao extermínio de judeus pela Alemanha nazista. Segundo nota do Departamento de Estado, Blinken "reafirmará o nosso interesse mútuo em garantir a paz internacional, reconhecer os direitos dos trabalhadores, promover a igualdade racial e acabar com a desflorestação".
Segundo a embaixada americana no Brasil, o encontro terá como discussão questões bilaterais e globais. Blinken também participará da reunião de chanceleres do G20, que acontece no Rio de Janeiro, nos dias 21 e 22.
Tensão com Israel
Lula foi declarado persona non grata em Israel nesta segunda-feira, um dia após ter comparado as mortes do povo palestino em Gaza à matança de judeus na Alemanha nazista. Depois da medida do país, Lula chamou de volta ao Brasil o embaixador brasileiro em Israel, Frederico Meyer.
A desocupação do posto em Tel Aviv indica um agravamento do impasse diplomático entre Brasil e Israel e pode, eventualmente, ser o primeiro passo para o esfriamento ou até o rompimento das relações bilaterais.
A fala de Lula, que também classificou como “genocídio” a guerra em Gaza, foi feita em entrevista a jornalistas na Etiópia no último domingo.
O presidente comparou Gaza com o Holocausto no momento em que criticava países ricos que suspenderam o financiamento à agência da Agência da ONU de Assistência aos Refugiados da Palestina no Oriente Próximo (UNRWA, na sigla em inglês), após a denúncia do governo israelense de que funcionários do órgão haviam participado do ataque terrorista do Hamas a Israel em outubro do ano passado.
No sábado, o presidente discursou na sessão de abertura da cúpula da União Africana, e teve reuniões bilaterais com líderes do continente, além do primeiro-ministro da Autoridade Palestina, Mohammad Shtayyeh. No encontro, ele criticou Israel e o Hamas.