RESSOCIALIZAÇÃO

Pernambuco aposta na cultura e na arte como aliadas no processo de ressocialização

Adolescentes em cumprimento de medida socioeducativa na Funase participaram de aula com o Mestre Nado nesta sexta-feira (23)

Grupo de mulheres da Funase visita Mestre Nado, Patrimônio Vivo de Pernambuco - Eduardo Cunha/Secult-PE

O Governo de Pernambuco, por meio das suas Secretarias de Cultura e da Criança e Juventude, levou um grupo de jovens mulheres da Fundação de Atendimento Socioeducativo (Funase) para aula com o artesão e oleiro Mestre Nado, Patrimônio Vivo de Pernambuco. A iniciativa integra o “Projeto Viva (mente)”, que tem como objetivo apresentar uma nova perspectiva, um novo olhar para a vida, novas possibilidades para um recomeço.

As jovens conheceram as principais obras do mestre e aprenderam algumas técnicas de modelagem com o artista, considerado um poeta do barro e do som.

 

“Mestre Nado apresentou um combo de boas práticas que transcende um simples encontro. Para além da olaria, aprendemos muito sobre humildade, generosidade e resiliência”, disse o secretário da Criança e Juventude, Ismênio Bezerra. Ainda segundo o gestor, “a cultura é um fator transformador na vida das pessoas e, certamente, abrirá novos horizontes para os jovens e adolescentes em cumprimento de medida na Funase”.

 

Promovendo o autoconhecimento e a autoaceitação dos participantes, a iniciativa atua também no estímulo do desenvolvimento de habilidades sociais importantes, como: trabalho em equipe, comunicação, empatia, pensamento crítico e resolução de conflitos.

Para o Gerente de Educação e Direitos Humanos da Secult-PE, Luciano Freitas, é importante pensar a cultura não apenas numa perspectiva de fruição e entretenimento, mas também em uma perspectiva de contribuir na mediação de conflitos, na ressocialização. 

Os olhos curiosos das adolescentes não escondiam o interesse pelo novo. “Eu achei uma experiência ótima. Uma participação incrível do Mestre. Isso eu vou levar para a vida toda. Gostei muito de poder ter tocado na argila e ter conhecido um pouco da história cultural. Foi uma oportunidade única. Nunca imaginaria que com argila se pudesse tocar música”, comemorou a socioeducanda A.R.

 

“Hoje pudemos vivenciar uma experiência única. Podemos trazer nossas adolescentes para conhecer o ateliê do Mestre Nado e ter contato direto com sua obra, e com os materiais de feitura. Ver como são feitos os instrumentos e aprender a fazer algumas modelagens. É uma experiência que acrescenta aspectos positivos para esses jovens levarem para a vida toda”, comentou Eveline Souza, coordenadora do eixo Cultura, Lazer e Esporte da Funase.

 

Aguinaldo da Silva, o Mestre Nado, tem no seu currículo inúmeros projetos de destaque e sucesso, tendo assinado trabalhos com grandes referências da cultura pernambucana, como Francisco Brennand, e também intervenção em espaço urbano com a icônica obra no Museu do Trem, o conhecido painel de locomotivas.

Já em seu próprio ateliê, experimentando técnicas para inovar sua produção, o artista lembra que aprendeu com o tio a fazer apitos com o caule da folha do jerimum e da folha de coqueiro. Então, resolveu testar o mesmo apito, em uma bola oca de cerâmica, que já vinha produzindo como objeto apenas decorativo. Ele nunca havia tocado nenhum instrumento de sopro: dois furos em uma bola oca. Então, sentiu que tinha descoberto algo especial.

 

“Quando o cérebro percebe que você modelou com as mãos o que ele estava pensando é uma sensação incrível de criatividade. A argila proporciona essa sensação de equilíbrio e tranquilidade. Não precisa nem de muita introdução. Quando você pega na argila e sente que a está dominando é um processo intuitivo. O barro é um fio que nos une uns aos outros. É o fio condutor”, detalhou Mestre Nado.

 

A parceria entre Secult-PE, SCJ-PE e Funase se estenderá para novos projetos ainda no mês de março deste ano com novas oficinas e temáticas diversas a serem exploradas, sempre na expectativa de contemplar socioeducandos de todas as regiões do estado.