Banco do Nordeste

Paulo Câmara: "Minha missão é servir ao presidente Lula e ao Brasil"

Ex-governador de Pernambuco completa um ano à frente do Banco do Nordeste, em março, e falou sobre os desafios enfrentados para recuperar a relevância da instituição. O Banco lançou concurso com 410 vagas e voltou a ter protagonismo

Ex-governador Paulo Câmara, atual presidente do BNB - BNB / Divulgação

O ex-governador de Pernambuco Paulo Câmara está no comando do Banco do Nordeste (BNB) e completa um ano na função em março. Em entrevista à Folha de Pernambuco, ele fez um balanço de sua gestão, falou dos planos de expansão do BNB e não descartou voltar para a política, em 2026, caso seja acionado pelo presidente Lula (PT). Segundo Câmara, a missão até aqui tem sido fazer o BNB crescer e recuperar o protagonismo. O banco destinará R$ 11 bilhões em investimentos para obras de infraestrutura do Novo Pac.

Confira:

O senhor fará um ano em março como presidente do Banco do Nordeste. Qual avaliação faz desse período? O que destaca como principal na sua gestão?
É importante fazer uma contextualização. Havia no governo anterior uma concepção de que bancos de desenvolvimento não eram importantes. Então, houve entrevistas sobre extinção de bancos públicos, como os bancos regionais, Banco do Nordeste, Banco da Amazônia. Até em privatização do Banco do Brasil e da Caixa se falou, nos quatro anos do Governo Bolsonaro. Isso criou um desânimo nas pessoas. Uma instituição que tem seis mil funcionários, mais de 70 anos, e você fica ouvindo notícias de que vai acabar. Quando a gente chegou aqui, e da forma que o presidente Lula (PT) ressalta a importância dos bancos públicos, havia uma expectativa muito positiva de que a gente fosse iniciar um trabalho de valorização da casa. Então, foi isso que procuramos fazer.

Foi a missão dada pelo presidente Lula?
Sim, a missão foi de fazer o banco crescer. Em 2023, procuramos acelerar tudo que era possível em termos de financiamento da região, de volume de contratações, de potencializar as ações do microcrédito, através do Agroamigo e do Crediamigo, priorizar as ações de micro e pequenas empresas. Isso fez com que o banco tivesse resultados recordes. Estamos anunciando um novo recorde de R$ 2,1 bilhões. Chegamos a 27% de crescimento no total das contratações do ano passado. Saímos de R$ 46 bilhões para R$ 58 bilhões. Todos os estados tiveram crescimento e atingiram as suas metas.

E o BNB recuperou o protagonismo?
O banco foi novamente inserido nas grandes discussões nacionais. Estamos sendo convocados a todo momento para participar das grandes políticas públicas que o Governo Federal tem lançado. O presidente Lula lançou o Plano Safra recorde da história desse País e o Banco do Nordeste também teve participação, seja no agronegócio, seja na agricultura familiar. Nós também fomos convocados para ajudar no financiamento da região com as obras do Novo Pac. Então, estamos com um volume muito grande da área de infraestrutura, algo em torno de R$ 11 bilhões, para o Nordeste todo, principalmente as obras de energias renováveis (eólica e solar) e também as obras para os estados e municípios para saneamento básico. Acredito que o banco conseguiu em 2023 chegar em um nível de financiamento importante para a região, de amplitude das ações. Em 2024 vamos seguir com essa mesma toada.

Existe alguma ação no sentido de ampliar o número de agências?
Tivemos a oportunidade de lançar um concurso público, autorizado em 2023. Há mais de dez anos não havia concurso. Estamos com o edital já na rua, são 410 vagas, que é justamente para reforçar as agências do Interior do Nordeste. A nossa meta é realmente colocar mais pessoas para melhorar o atendimento. Temos 293 agências no Nordeste. Vamos reforçar com pessoal a partir do concurso público. Nós temos uma grande carteira de microcrédito, dentro dos programas Crediamigo e Agroamigo. O Crediamigo tem mais de dois milhões de clientes não necessariamente com atendimento em agência. Temos pontos de apoio onde há o atendimento, agentes de crédito na rua. Isso representa quase 500 pontos. A ampliação que a gente quer dar de estrutura é justamente para o microcrédito, porque pega o público mais vulnerável.

Como a pessoa que quer buscar esse crédito tem informação sobre os pontos?
Vamos fazer um amplo processo de divulgação, isso já está nos vários meios de comunicação. Também está nas estruturas de outros serviços dos municípios. Em outras cidades, fazemos unidades próprias, alugamos casas e instalamos pontos de atendimento só do Crediamigo. Vamos instalar contêineres com as marcas. O importante é a gente ampliar essa capacidade, encurtar distâncias. Em Pernambuco, a meta é sair de 40 pontos de atendimento para 80.

Existe algum projeto para melhorar o acesso aos serviços do banco por meio da inteligência artificial?
A gente está sempre buscando melhorar a interação, os sistemas, aplicativos que o banco utiliza. Nós somos muito cobrados pela regulação, o Banco Central é um órgão muito rígido em relação a isso e exige muita modernização. Esse é um dos pontos que eu quero me dedicar mais. Acho que a gente tem muito a crescer melhorando tecnologia para as pessoas. Hoje, todo mundo tem um celular e acesso de alguma forma à informação. Queremos criar ferramentas que cada vez mais sejam de fácil manuseio. O foco do banco é atrair pessoas que queiram empreender.

O senhor sempre se colocou à disposição, desde que assumiu a presidência do BNB, para ajudar Pernambuco. Mas até agora não houve nenhum encontro com a governadora, Raquel Lyra (PSDB). Como está essa relação?
A gente quando se encontra, se cumprimenta, eu sempre me coloco à disposição. Mas isso depende realmente da vontade de as pessoas quererem. A superintendência em Pernambuco tem dado todo o tipo de assistência que é requerida pelo Estado, tudo que é demandado e consultado nós respondemos. Estou à disposição. Eu, como pernambucano e presidente do banco, estou à disposição de todos os estados. Vários governadores me demandam, me procuram e, sempre que sou convidado, estou presente.

A respeito do seu futuro político, o que esperar de Paulo Câmara para 2026? Qual é o projeto?
Minha história política é um pouco diferente da tradicional. Eu era secretário de Estado de Eduardo Campos, durante quase oito anos, não tinha filiação partidária e, faltando pouco tempo para as eleições de 2014, fui convidado a me filiar e a ser candidato a governador. Fui governador oito anos, num período muito difícil da história do Brasil. Acredito que cumpri um papel importante de resistência democrática, de gestão, de fazer com que Pernambuco superasse os diversos desafios que surgiram. Tenho essa missão que me foi dada de fazer o banco crescer. Em 2023, acho que subi um degrau. Quero subir mais um em 2024 e mais um em 2025. Em 2026, a gente avalia.

Mas pensa em ser candidato?
Não posso descartar nada, até porque as coisas sempre aconteceram comigo sem muito planejamento. Até 2026, o meu foco é estar aqui ajudando o Governo Federal como presidente do BNB. Em 2026, se houver uma conjuntura que haja interesse da minha participação, a gente avalia e discute. O importante para mim, neste momento, é servir ao presidente Lula e ao Brasil. Não está sendo fácil o trabalho que ele está exercendo de reconstruir esse País, foram quatro anos muito difíceis antes da chegada dele. O Brasil foi destruído. Destruir é muito fácil. Construir é muito difícil. Reconstrução também dá muito trabalho.

Com essa proximidade com o presidente Lula, se o senhor for voltar para a vida política vai precisar de um partido. Poderia ser o PT esse partido?
Aí é uma discussão mais para frente, vai depender da conjuntura. Vai depender, inclusive, se eu vou ter algum papel, se eu vou ser convocado para alguma missão. A gente vai deixar essa discussão realmente para 2026. Eu nunca gosto de antecipar as coisas porque tudo acontece muito rápido e muda muito. Então, vamos esperar. O trabalho de reconstrução, de diminuir desigualdades no Nordeste, de fazer o banco ter um papel relevante, é desafiador.