Guerra

Centenas de pessoas fogem da fome no norte de Gaza

O território tem 2,2 milhões de pessoas

Palestinos sofrem com a falta de comida em Gaza - Said Khatib/AFP

Centenas de pessoas fugiram, neste domingo (25), do norte de Gaza, em um cenário de fome e combates incessantes, apesar dos esforços para alcançar uma trégua entre Israel e o Hamas que inclua a libertação dos reféns.

A situação piora a cada dia no pequeno território, onde 2,2 milhões de pessoas, a imensa maioria da população, enfrenta uma "fome em larga escala", segundo a ONU.

O gabinete de guerra israelense aprovou no sábado o envio de negociadores ao Catar para a continuidade das conversações por uma possível trégua, segundo a imprensa do país.

No momento, no entanto, os bombardeios não param e a ajuda humanitária entra a conta-gotas pela passagem de Rafah, no extremo sul do território, onde o envio de suprimentos depende da aprovação de Israel, que impôs um cerco total à Faixa de Gaza.

Direcionar a ajuda para o norte é quase impossível devido à destruição e aos combates em todo território.

Os confrontos prosseguiram durante a noite em Khan Yunis, no sul, assim como em Beit Lahia e Zeitun, ao norte

Grande parte da população fugiu desta última região após as ordens de evacuação do Exército israelense em outubro.

Mas agora é a falta de alimentos que obriga os habitantes de Gaza a fugir para o centro e para o sul em busca de comida.

Um correspondente da AFP observou centenas de pessoas que abandonaram suas casas e seguiram para outros pontos do território, governado pelo Hamas desde 2007 e alvo de bombardeios intensos de Israel.

"Não tenho palavras"
A guerra começou em 7 de outubro, quando milicianos islamistas assassinaram 1.160 pessoas, a maioria civis, no sul de Israel, e sequestraram 250, segundo um balanço da AFP baseado em números divulgados pelas autoridades israelenses.

Em resposta ao ataque, Israel iniciou uma ofensiva aérea e terrestre que deixou 29.692 mortos em Gaza, a maioria civis, segundo o Ministério da Saúde do território palestino. O Hamas afirmou que 86 pessoas morreram nas últimas 24 horas.

"Eu vim caminhando (...) Não tenho palavras para descrever o tipo de fome que afeta aquela área (...)", declarou Samir Abd Rabbo, 27 anos, que chegou a Nuseirat, no centro de Gaza, com a filha de um ano e meio.

"Não há leite (para a minha filha). Eu tento dar o pão que preparo com forragem, mas ela não consegue digerir (...) nossa única esperança é a ajuda de Deus", disse à AFP.

O Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Volker Türk, denunciou na sexta-feira o "bloqueio e cerco impostos a Gaza" por Israel e sugeriu que "o uso da fome como método de guerra" poderia ser um "crime de guerra".

Em Jabaliyia, ao norte, dezenas de moradores saíram às ruas no sábado com recipientes vazios e a esperança de obter um pouco de comida.

Outras pessoas protestaram contra a falta de alimentos no norte do território. "Não à política que tenta nos matar de fome", afirmava um cartaz exibido por crianças.

Discussões para uma trégua
O diretor do Mossad, a agência de inteligência externa de Israel, viajou na sexta-feira a Paris para examinar um projeto de cessar-fogo que foi discutido no fim de janeiro com seus homólogos dos Estados Unidos e Egito, além do primeiro-ministro do Catar.

Segundo uma fonte do Hamas, classificado como organização "terrorista" por Estados Unidos, Israel e União Europeia, o plano incluiria uma trégua de seis semanas e a libertação de entre 200 e 300 presos palestinos em troca de entre 35 e 40 reféns israelenses.

Após uma troca em novembro, as autoridades israelenses calculam que 130 reféns continuam em Gaza, incluindo 30 que teriam sido mortos.

Israel, que enfrenta uma pressão interna crescente, exige agora "a libertação de todos os reféns, começando por todas as mulheres, e que o acordo não signifique o fim da guerra", aformou Tzachi Hanegbi, conselheiro de Segurança Nacional do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu. .

O Hamas, no entanto, exige um "cessar-fogo total" e a retirada das tropas israelenses de Gaza.

A preocupação é cada vez maior em Rafah, onde pelo menos 1,4 milhão de pessoas estão refugiadas perto da fronteira com o Egito, cidade sob ameaça de uma grande operação militar terrestre israelense.