PERNAMBUCO

Suspeito da "chacina de Poção" vai a júri popular nove anos após o crime

Sessão acontece no Fórum Thomaz de Aquino, no centro do Recife; réu participa por videoconferência

Sessão da 4ª Vara do Tribunal do Júri da Capital, no Fórum Thomaz de Aquino julga o caso da Chacina de Poção - Júnior Soares/Folha de Pernambuco

Após nove anos de um caso emblemático, Wellington Silvestre dos Santos vai a júri popular, na manhã desta segunda-feira (26), na sessão da 4ª Vara do Tribunal do Júri da Capital, no Fórum Thomaz de Aquino, em Santo Antônio, no centro do Recife. Ele é acusado de ter executado as quatro vítimas da ‘chacina de Poção’, no Agreste pernambucano.

Segundo as investigações, o réu teria matado os conselheiros tutelares Lindenberg Nóbrega de Vasconcelos, José Daniel Farias Monteiro e Carmem Lúcia da Silva. A quarta vítima foi Ana Rita Venâncio, a avó materna de uma criança de 3 anos, à época.

Wellington está preso desde 2016, em João Pessoa, na Paraíba, por este e outros crimes. Ele vai participar da sessão por videoconferência, por questões de segurança e logística. Outros sete réus ainda serão julgados, porém, sem data prevista. O processo corre no Tribunal de Justiça de Pernambuco.

O juiz que vai presidir a sessão, Abner Apolinário, explica o cronograma do júri, que contará com duas testemunhas de acusação, arroladas pelo Ministério Público de Pernambuco. São o delegado Erick Lessa, que presidiu as investigações, e Lindemberg Filho, filho do conselheiro morto.

 

“Nesta sessão, as testemunhas serão ouvidas, depois tem a fase de debates entre acusação e defesa. Caso solicitem, haverá réplica e tréplica. Depois a sociedade, através dos jurados, vai julgar. Serão sete jurados que serão sorteados”, explica.

Para a promotora de justiça do Ministério Público de Pernambuco (MPPE), Themes da Costa, o réu está sendo denunciado por quatro homicídios qualificados (emboscada, mediante grupo de extermínio, e motivo torpe).

“Ele foi o atirador. Ele confessou durante o processo. Tem outros elementos de prova. Este é um processo bastante complexo, porque são vários réus [sete réus], mas se desvencilhou durante as investigações. Foi um crime de grande repercussão, bastante acompanhado à época e tem vários elementos que precisam ser mostrados à população, que é o que pretendemos fazer hoje”, ressaltou.

“Trabalhamos com provas robustas, técnicas e testemunhais que comprovam que o Wellington, vulgo ‘chave de cadeia’, foi o executar desse crime bárbaro. Foi um grave atentado a esses defensores dos direitos humanos. Temos a expectativa de que se inicie hoje esse ciclo de condenações em razão das mortes dos conselheiros e da idosa, avó da menina”, pontuou o também promotor do MPPE, Daniel Ataíde.

“Foram nove anos e 20 dias de espera. A expectativa é de que a justiça aconteça. Acredito que hoje vai ser, exatamente, o dia em que nós vamos ouvir a sentença para que esse pessoal pague pelo que fez. Acreditamos na justiça, sempre, com fé em Deus, que me deu estrutura para suportar tudo isso. Lindenberg viveu para servir, e ele morreu exatamente servindo, na função de conselheiro tutelar, trabalhando pelo município”, relembrou o pai de Lindenberg, Luiz de França Cordeiro de Vasconcelos, de 85 anos.

Relembre o caso
Segundo as investigações, o crime teria sido encomendado, em 2014, por Bernardete de Britto Siqueira, que é avó paterna da criança. Ela teria contratado o grupo de extermínio para eliminar a família materna, a fim de assegurar a guarda da criança, cuja tutela oficial era do pai, José Cláudio de Britto Siqueira Filho, que não foi indiciado por falta de provas que ele tenha participado do crime.

Bernardete também é acusada de ter matado a mãe da menina por envenenamento, em 2012. No total oito pessoas foram denunciadas como responsáveis pela chacina.

Julgamento
A sessão estava programada para começar às 9h, mas, por questões técnicas, foi iniciada por volta das 11h e a expectativa é que seja finalizada ainda hoje.