Bilionários do Partido Republicano retiram apoio à candidatura de Haley após fracasso nas primárias
Depois de Kenneth Griffin, foi a vez de Charles Koch, da organização conservadora Ação dos Americanos pela Prosperidade, cortar o financiamento
A Ação dos Americanos pela Prosperidade (AFP Action, na sigla original), uma organização conservadora dos Estados Unidos liderada pelo bilionário Charles Koch, cortará o financiamento da campanha presidencial de Nikki Haley, depois de gastar milhões de dólares desde setembro em publicidade e esforços de aproximação com os eleitores, ajudando a impulsionar sua candidatura à indicação republicana. A decisão é um duro golpe para a única adversária remanescente de Donald Trump, apontado como o favorito nas pesquisas, e também ressalta a incapacidade dos doadores tradicionais da legenda de frear o ímpeto do ex-presidente.
“Dado os desafios que temos pela frente nos estados das primárias, não acreditamos que qualquer grupo externo possa fazer uma diferença significativa para ampliar seu caminho para a vitória", disse Emily Seidel, assessora sênior da AFP Action, em um memorando no domingo, obtido pela Bloomberg News. "E assim, embora continuemos a apoiá-la, concentraremos nossos recursos onde podemos fazer a diferença. Seja no Senado ou na Câmara dos EUA".
A decisão de cortar o financiamento para o esforço presidencial de Haley ocorre um dia depois de ela ter sofrido uma derrota de aproximadamente 20 pontos percentuais para Trump na Carolina do Sul, o estado que ela governou por dois mandatos, antes de servir como embaixadora de Trump na ONU. Haley prometeu permanecer na disputa até a Superterça, em 5 de março, quando mais de uma dúzia de estados votarão. Mas ela não tem praticamente nenhum caminho para garantir a indicação, já que se espera que Trump conquiste um número suficiente de delegados até meados do próximo mês.
Desde que a endossou no final de novembro, a Ação dos Americanos pela Prosperidade gastou mais de US$ 32 milhões (quase R$ 160 milhões) em apoio a Haley, segundo os registros da Comissão Eleitoral Federal, sendo que a maior parte desse valor foi destinada à publicidade digital e à campanha eleitoral.
"A AFP é uma grande organização e aliada na luta pela liberdade e por um governo conservador. Agradecemos a eles por sua enorme ajuda nessa corrida", disse a porta-voz da campanha de Haley, Olivia Perez-Cubas, em um comunicado na noite de domingo. "Nossa luta continua, e com mais de US$ 1 milhão vindo de conservadores de base apenas nas últimas 24 horas, temos muito combustível para continuar. Temos um país para salvar".
Redirecionamento de doações
Hailey não é a primeira candidata à indicação do Partido Republicano que os grandes doadores da legenda deixaram de apoiar. Antes dela, Wall Street considerou o governador da Flórida, Ron DeSantis, que chegou a ser considerado o único nome capaz de derrotar Trump, mas optou por retirar sua candidatura no final de janeiro, depois que pesquisas mostraram sua desidratação nas primárias de New Hampshire e Carolina do Sul.
Agora, sem Nikki Haley, a classe de doadores republicanos está enfrentando uma realidade que seus membros ricos esperavam evitar: estar limitada a exercer sua influência no ciclo eleitoral de 2024 apenas por meio de disputas em nível estadual, para que não sejam forçados a financiar a candidatura de retorno de Trump à Casa Branca.
Com a vitória esmagadora de Trump nas primárias do Partido Republicano na Carolina do Sul no sábado, o ex-presidente ficou mais perto de reivindicar a indicação de seu partido. O que está em questão agora é como os grandes doadores redirecionarão seu dinheiro e sua influência, considerando a política tumultuada e as divisões existentes no país.
O bilionário Kenneth Griffin demonstrou interesse em DeSantis, o governador da Flórida, desde o início e depois apoiou Haley, a ex-embaixadora da ONU, com uma doação de US$ 5 milhões em dezembro, segundo registros federais. Mas como Trump dominou o campo republicano, Griffin e outros disseram que vão se concentrar em outras disputas.
"Estou concentrado em apoiar ativamente candidatos excepcionais em todo o país, como David McCormick, Tim Sheehy e Larry Hogan", disse Griffin em um comunicado no domingo. "Eles compartilham meu compromisso com a promoção da liberdade econômica, garantindo que todas as crianças tenham acesso a uma educação de alta qualidade, colocando nossa dívida e déficit nacionais em bases sustentáveis e salvaguardando a segurança de nossa nação no país e no exterior."
A candidatura de Haley foi um paraíso para os conservadores que queriam colocar dinheiro em outros candidatos que não Trump, que emergiu como o favorito nas pesquisas e até agora avanços nas primárias, mesmo sendo inundado por problemas legais, incluindo 91 acusações de crimes relacionados a tudo, desde seu esforço para anular sua derrota eleitoral em 2020 até o manuseio de documentos confidenciais.
A arrecadação de fundos foi um dos atributos mais fortes de Haley como candidata, ajudando-a a superar cerca de uma dúzia de outros candidatos — inclusive DeSantis — durante os 12 meses de sua candidatura à Casa Branca. Ela prometeu permanecer na disputa até a Super Terça, em 5 de março.
Arrecadação de fundos
Haley está pronta para embarcar em uma campanha de arrecadação de fundos em 10 estados nos 10 dias que antecedem essa data, mostrando que ainda mantém algum apoio financeiro dos doadores, que consideram sua candidatura uma salvaguarda caso os problemas legais de Trump o tirem da disputa e que veem o voto em Haley como um voto a favor da democracia.
A ex-embaixadora da ONU defende os princípios republicanos tradicionais, como um papel menor para o governo e uma política externa dos EUA mais forte. Ela ridicularizou o plano do segundo mandato de Trump de aumentar as tarifas sobre os parceiros comerciais dos EUA e pediu apoio contínuo à Ucrânia contra o ataque da Rússia.
Embora alguns doadores ainda estejam entusiasmados, muitos dos que restaram estão doando milhares de dólares ou menos, já que aqueles que doaram milhões, como Griffin e Koch, fecharam seus talões de cheques. O super comitê de ação política de Haley, que pode aceitar doações ilimitadas, mostrou sinais de falta de verba em seu registro mais recente. Os eventos de arrecadação de fundos desta semana exigem milhares de dólares para um casal participar.
Na Carolina do Sul, Haley e seus aliados gastaram US$ 13,5 milhões (R$ 67,2 milhões) em publicidade em um estado onde a maioria das pessoas já conhecia seu nome e aprovava seu desempenho como governadora, de acordo com a AdImpact. No entanto, ela obteve apenas 40% dos votos, enquanto Trump obteve 60% com gastos que foram uma pequena fração dos de Haley — cerca de US$ 846 mil (R$ 3,2 milhões).
Um doador, que pediu anonimato para discutir conversas particulares, disse que alguns financiadores estão preocupados com a perda de cerca de 20 pontos percentuais na Carolina do Sul, mas ficaram satisfeitos ao vê-la vencer em algumas das áreas de crescimento mais rápido no estado — Charleston, Columbia e Beaufort. A fonte afirmou ainda que isso é uma evidência de que Haley poderia ter um bom desempenho em 2028.