Chacina de Poção: júri popular do caso é suspenso e entrará em seu segundo dia nesta terça-feira
Juiz do caso é Abner Apolinário; MPPE diz que réu matou outra pessoa pela primeira vez aos 14 anos de idade
O julgamento de Wellington Silvestre dos Santos, também conhecido como “chave de cadeia”, foi suspenso em seu primeiro dia pouco antes das 18h desta segunda-feira (26), com previsão para ser retomado às 9h desta terça-feira (27), no Fórum Thomaz de Aquino Cyrillo Wanderley, no bairro de Santo Antônio, localizado na área central do Recife.
O júri popular é formado por sete mulheres, e Wellington Silvestre senta à cadeira do réu sob a acusação de ter matado a tiros de arma de fogo quatro pessoas dentro do Sítio Cafundó. O crime aconteceu na noite do dia 6 de fevereiro de 2015 no Agreste de Pernambuco e ficou conhecido como “Chacina de Poção”.
Ele teria recebido a promessa de embolsar R$ 45 mil com a ação, mas, até agora, só ganhou a "primeira parcela" do valor - correspondente a R$ 25 mil.
O homem atualmente está preso na cidade de João Pessoa, na Paraíba, acusado desse e de outros crimes. Ele participa da sessão de modo virtual.
No período da tarde, o homem solicitou ao juiz que as suas algemas fossem retiradas. O agente penitenciário que o acompanhava disse que ele estava algemado por “questões de segurança”. O juiz, então, engrossou o tom e ordenou a retirada.
Com um histórico extenso de participações no mundo do crime, Wellington Silvestre teria confessado que matou uma outra pessoa pela primeira vez aos 14 anos de idade, segundo informações da promotora de Justiça do Ministério Público de Pernambuco (MPPE), Themes da Costa, que atua na parte da acusação do caso.
“A gente não está falando de uma pessoa inexperiente. Foram cinco tiros em um carro em movimento e quatro vítimas fatais, sendo três conselheiros tutelares”, rememora Themes.
Os três conselheiros tutelares de Poção mortos foram: Lindenberg Nóbrega de Vasconcelos, de 54 anos; José Daniel Farias Monteiro, de 31; e Carmem Lúcia da Silva, de 38. Além do trio, Ana Rita Venâncio, de 62 anos, também foi executada. Ela era a avó materna de Ana Cláudia, uma menina de três anos, que estava no carro e sobreviveu ao episódio. A mandante dos assassinatos é a avó paterna da criança, a oficial de Justiça Bernadete Siqueira Britto de Rocha.
“No depoimento do socorrista do Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência), a menina estava imóvel e em estado de choque, coberta de sangue e massa encefálica da avó”, detalha Themes.
O delegado da Polícia Civil de Pernambuco (PCPE), Erick Lessa, foi quem esteve à frente das investigações da chacina. À época, ele apontava as possíveis razões para a avó paterna ter orquestrado as mortes. Para a polícia, ela ainda teria “intenção de matar todos os parentes maternos que pudessem ficar com a guarda da neta”.
"Foram dois motivos. A guarda da criança, que foi uma disputa muito firme entre as duas famílias, mas também desavenças e ameaças mútuas", afirma Lessa.
Bernadete, que planejou o crime desde novembro de 2014, exercia a guarda da neta - cuja guarda oficial era do pai, José Cláudio de Britto Siqueira Filho. A avó paterna da criança manteve, através do filho, a disputa judicial pela guarda com a família materna.
As brigas entre as partes eram marcadas por constantes episódios de rivalidade, ameaças e agressões.
Ainda segundo informações policiais, “Bernadete contou com o apoio direto do advogado e amigo, José Vicente Pereira Cardoso da Silva, que junto ao detento da Penitenciária de Arcoverde, Leandro José da Silva (Léo da Coca), fez a interação com os executores, Égon Augusto Nunes de Oliveira e Wellington Silvestre dos Santos. Leandro ainda manteve contato com Orivaldo Godê de Oliveira, conhecido como Zeto, e Ednaldo Afonso da Silva, que auxiliaram e facilitaram a fuga dos executores.”
O processo de investigação do caso contou com a participação de equipes do Ministério Público de Pernambuco (MPPE), da Polícia Militar de Pernambuco (PMPE), da Polícia Civil do Maranhão (PCPM) e do Pará (PCPA), do Sistema Penitenciário de Pernambuco, da Polícia Científica de Pernambuco, além do Disque Denúncia do Agreste.
Dupla de Themes no julgamento, o promotor de Justiça Daniel Ataíde apresenta um balanço do primeiro dia, garantindo a existência de provas suficientes para a condenação do réu, a exemplo de um áudio de Wellington apresentado na sessão.
“Foi um dia bastante proveitoso. Hoje começou a se concretizar essa vontade de promover justiça. Concluiremos com êxito esse julgamento. Há provas robustas da execução do crime por Wellington, um assassino. Ele, inclusive, já sofreu várias acusações de homicídio, mas foi absolvido em algumas plenárias no interior. Agora, o Ministério Público de Pernambuco tem a expectativa, até mesmo pela demonstração de hoje, para que ele seja condenado pelos jurados da capital”, afirma.
Além do autor dos disparos, outras seis pessoas também serão julgadas. Ainda não há data para isso. “Sobre os demais acusados, o processo aguarda julgamento e será aqui na capital”, salienta Ataíde, antes de explicar a participação de um outro acusado. “Wellington foi o único atirador, agora Égon participou dando ‘cavalo’ a ele, pilotando a moto”, acrescenta.
Os advogados de defesa do réu deixaram a sessão, após a suspensão, sem dar entrevistas.
Família destruída
Pai de José Daniel Farias Monteiro, um dos três conselheiros tutelares assassinados, Antônio Barbosa Monteiro acompanhou o primeiro dia do julgamento na primeira fila do espaço destinado ao público no Fórum Thomaz de Aquino Cyrillo Wanderley, se emocionando ao decorrer do processo. Ao fim da primeira sessão, ele conversou rapidamente com a reportagem da Folha de Pernambuco.
“A minha expectativa é de que o bandido seja punido, eu queria que ele não fosse mais solto. Ele destruiu a mim, minha esposa e a nossa família. É muito difícil. A gente só quer justiça", afirma.
Enterro após nove anos
O desfecho do julgamento, após nove anos, é encarado como o "enterro" das vítimas fatais por Lindenberg Filho, filho do conselheiro Lindenberg Nóbrega de Vasconcelos, morto aos 54 anos.
"A gente fez questão de estar aqui, porque há nove anos a gente busca justiça. Desde o início a família vem acompanhando, e nós só vamos parar quando, realmente, a justiça for feita e todo mundo pague por esse crime. É como se a gente ainda não tivesse enterrado o meu pai e os colegas dele, nem dona Ana Rita. A gente acha que, com o término do júri popular, vai conseguir dar o descanso eterno", diz.