Com avanço da dengue, fabricantes de repelente aumentam produção para dar conta da procura
Empresas trazem insumo de avião, criam terceiro turno, tudo isso para atender demanda até duas vezes maior
Em meio a uma epidemia de dengue, que já matou mais de 150 brasileiros, empresas fabricantes de repelentes estão correndo contra o tempo para atender uma demanda até duas vezes maior em janeiro de 2024 na comparação com o mesmo mês do ano anterior.
Os planos incluem estoques antecipados e até mesmo a implementação de meios de transporte mais velozes para trazer matéria-prima para o Brasil. Nas farmácias e nas redes de supermercados, a procura pelo item chegou a aumentar 450%.
A Xô Inseto é a segunda maior marca da Cimed e teve faturamento de R$ 28 milhões apenas neste ano. Em janeiro de 2024, a demanda pelos produtos da linha aumentou 100% na comparação com o mesmo período do ano anterior.
Normalmente, a empresa produz 500 mil unidades mensais para a marca, mas expandiu sua capacidade para 1 milhão de produtos, após implementar três turnos de trabalho em dezembro de 2023.
Para atender ao mercado consumidor mais aquecido nesses primeiros meses do ano, a Cimed teve que adiantar os estoques de produtos do segundo trimestre, e está concentrada em restabelecer seu armazenamento. Segundo o CEO, João Adibe, o maior entrave é conseguir antecipar compras de insumos:
— Nós usamos insumos da China, com o transporte por meio de navios, o que implica prazo aproximado de 120 dias para a chegada. Estamos tentando trazer por meio do transporte aéreo. O custo é 150% maior neste caso, por se tratar de um produto inflamável — diz o CEO, João Adibe.
No Rio, houve um aumento de 74% na demanda pelos repelentes da marca em janeiro frente a dezembro. Em São Paulo, o aumento foi de 68%. Em outros estados, como Santa Catarina e Rio Grande do Sul, os aumentos chegaram a 280% e 266%, respectivamente.
A demanda por repelentes das marcas SBP e Repelex, produzidas pela Reckitt Hygiene, cresceu a um percentual de dois dígitos neste verão, após o aumento significativo dos casos de dengue desde novembro, com pico de consumo antes mesmo do carnaval.
— Estamos trabalhando com todos os parceiros pertinentes para garantir abastecimento, distribuição e rápida reposição do portfólio completo em lojas e farmácias no país — diz Ana Beatriz Guerra, Head de Marketing para Pesticidas da Reckitt Hygiene.
Procura nas farmácias
A SP Johnson, das marcas OFF e Exposis, disse que acompanha de perto a demanda por produtos para combater mosquitos e insetos em geral, principalmente em tempos de aumento dos casos de dengue. Recentemente, a empresa observou um crescimento na demanda por repelentes, mas não revelou quanto foi esse aumento.
Nas drogarias Venâncio, as vendas estão acima do esperado para o início ano, tanto nas lojas físicas como no e-commerce, enquanto na Pague Menos o crescimento em janeiro foi de 45% em todo o país, em comparação com o mesmo período do ano passado.
Somente no Rio, a alta foi de 39%. Em São Paulo, de 74%. Já no grupo Raia e Drogasil, a procura por repelentes em todo o país disparou 450% em janeiro, em relação a novembro de 2023, quando os casos da doença começaram a crescer.
— Nesta última semana de fevereiro, a alta foi de 120% em relação a janeiro, e houve reposição do estoque devido à alta procura — diz Juliana Cervan, diretora da área Mais Saúde da RaiaDrogasil.
No Guanabara, o aumento nas vendas foi de 30% em janeiro, e a rede decidiu instalar nas lojas pontos específicos de venda para facilitar a busca dos clientes. Além dos repelentes, inseticidas estão sendo mais procurados: no último fim de semana, em apenas uma loja, foram vendidas em cinco minutos 1,2 mil unidades de uma única marca.