ONG denuncia compromisso insuficiente de empresas com luta contra desmatamento
A Global Canopy apontou que, das 187 empresas e instituições sem compromisso
Uma ONG denunciou, nesta terça-feira (27), que as grandes empresas deram passos insuficientes na luta contra o desmatamento, apesar da adoção de compromissos importantes há dez anos e do acordo fechado na COP28, que busca encerrar essa prática até 2030.
Segundo a Global Canopy, das 500 empresas e instituições financeiras que mais têm influência sobre o desmatamento, 187 - ou 37% - não têm nenhum compromisso público de luta contra esse processo, que afeta, entre outros, a Amazônia, maior floresta tropical do planeta.
A ONG fez uma contagem dessas empresas e instituições financeiras em 2023. Das 500 entidades que analisou, 350 são empresas que consomem matérias-primas ligadas ao desmatamento (madeira, óleo de palma, carne bovina, couro, papéis, soja) e 150 são os bancos e fundos que mais as financiam.
A Global Canopy apontou que, das 187 empresas e instituições sem compromisso público de luta contra o desmatamento, 104 fazem parte dessas 350 empresas consumidoras de matérias-primas e 83 fazem parte dos 150 bancos e fundos que as financiam.
Divulgado hoje, o relatório aponta que 14 desses grupos publicaram seus compromissos pela primeira vez em um ano.
No ano passado, União Europeia e Reino Unido decidiram deixar de importar produtos como cacau, café, soja, óleo de palma, madeira, carne bovina e borracha procedentes de territórios desmatados até 2025.
O acordo fechado na COP28 da ONU sobre as mudanças climáticas, realizada em dezembro, destacou a necessidade de intensificação dos esforços para pôr fim ao desmatamento até 2030.
A Global Canopy lembrou que, dez anos atrás, várias empresas se comprometeram a reduzir a destruição da superfície florestal, após uma reunião de cúpula da ONU em Nova York. Desde então, quase 25% das 257 empresas citadas nos dez relatórios da ONG não mostraram nenhum compromisso.
- Promessas ou ações?
Entre essas empresas está a gigante alemã dos calçados Deichmann, que se mostrou surpresa por ter sido citada no relatório e afirmou à AFP que não usa matérias-primas "em países ligados ao tema do desmatamento".
O grupo afirmou que trabalha com fornecedores de couro, mas que o código de conduta que rege esses contratos não menciona explicitamente o desmatamento.
"A ação voluntária das empresas fracassou", disse Emma Thompson, principal autora do relatório. Ela pediu "uma regulamentação forte, com critérios claros sobre o desmatamento e os direitos humanos", que, muitas vezes, são ameaçados nos territórios afetados.
Thompson também ressaltou a necessidade de exigir transparência às empresas e de que as regras se apliquem ao setor financeiro.
A ONG aponta que nem sempre as promessas são acompanhadas de ações. No total, 63% das empresas manifestaram pelo menos um compromisso de luta contra o desmatamento, mas não forneceram provas suficientes de sua aplicação. Como exemplos, são citadas Adidas, Starbucks e Gap.
O relatório ressalta que apenas 1% das empresas caminham para cumprir as futuras normas, e cita como exemplos as gigantes francesas do mercado de luxo LVMH e Kering, que implementaram há anos instrumentos de rastreabilidade de seus materiais e adotaram objetivos de "desmatamento zero" nos últimos dois.