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Brasil propõe 'nova globalização' em reunião do G20, ofuscada pela Ucrânia

Objetivo é combater a desigualdade e as mudanças climáticas

Vista geral da reunião dos ministros das finanças do G20 em São Paulo, Brasil - Nelson Almeida/AFP

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, propôs redefinir a globalização para combater a desigualdade e as mudanças climáticas, na abertura de uma reunião das autoridades titulares das finanças do G20, nesta quarta-feira (28), em São Paulo, ofuscada pela guerra na Ucrânia.

“É hora de redefinirmos a globalização”, disse Haddad ao inaugurar o evento do G20. O Brasil preside este ano o grupo das maiores economias.

“Precisamos entender a mudança climática e a pobreza como desafios verdadeiramente globais, a serem enfrentados por meio de uma nova globalização sócio-ambiental”, acrescentou o ministro por videoconferência, após ser diagnosticado com covid-19.

Enquanto o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva tenta colocar suas prioridades no centro da agenda global, os riscos gerados pelas guerras no mundo ganham força como tema central da reunião.

"A maior preocupação para o crescimento e nossas economias atualmente são as tensões geopolíticas no Oriente Médio, no Mar Vermelho e na Ucrânia", declarou à imprensa o ministro da Economia francês, Bruno Le Maire.

Particularmente, "a Ucrânia estará no centro das discussões do G20", afirmou.

Reunião do G7 
Os ministros das finanças dos países do G7 - Reino Unido, Canadá, França, Alemanha, Itália, Japão e Estados Unidos - e da União Europeia realizaram uma reunião separada nesta quarta-feira sobre a renovação do apoio ocidental à Ucrânia, desesperada por mais ajuda para se defender da Rússia.

Um dos pontos-chave é o uso de ativos russos em um fundo para Kiev, utilizando os lucros gerados de cerca de 397 bilhões de dólares (1,97 trilhão de reais) em ativos congelados pelo Ocidente devido à invasão lançada em fevereiro de 2022 por parte de Moscou.

O ministro ucraniano das Finanças, Serhiy Marchenko, participou virtualmente da discussão, confirmaram fontes do governo francês.

Na véspera, a secretária do Tesouro dos Estados Unidos, Janet Yellen, propôs discutir com "urgência" a possibilidade de usar ativos russos congelados para aumentar a ajuda a Kiev.

"Ainda não temos base legal para nos apropriarmos dos ativos russos (...) e não daremos nenhum passo" sem isso, indicou, no entanto, Le Maire nesta quarta.

Impostos sobre os mais ricos 
Ministros e outros altos funcionários do G20 - formado pelas 19 maiores economias do mundo, a União Europeia e, pela primeira vez, a União Africana - participam da primeira reunião do ano de titulares das finanças e presidentes dos bancos centrais na capital financeira do Brasil.

Também estão presentes representantes de organismos multilaterais, como a diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Kristalina Georgieva, e o presidente brasileiro do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Ilan Goldfajn.

Estão ausentes, porém, os titulares da China, Índia, Rússia e Reino Unido.

No que descreveu como uma "conjuntura econômica global desafiadora", Haddad apontou as prioridades do Brasil, como o “combate à fome e à pobreza, a promoção do desenvolvimento sustentável e a reforma da governança global”.

Além disso, pretende promover a “tributação progressiva”. “Precisamos admitir que ainda precisamos fazer com que os bilionários do mundo paguem sua justa contribuição em impostos”, disse o ministro anfitrião.

Nesse sentido, Le Maire também afirmou que a França quer "acelerar" as negociações internacionais em direção a uma tributação mínima para os bilionários, em declarações à imprensa.

O Brasil também pretende aliviar o fardo da dívida dos países de baixa renda. “O endividamento crônico deve ser enfrentado para que os países tenham espaço fiscal para fazer os investimentos necessários para a transição energética, combatam a fome e a pobreza”, argumentou Haddad.

A reunião, que segue o encontro de ministros das Relações Exteriores realizado na semana passada no Rio de Janeiro, começará a estabelecer as bases de trabalho em políticas econômicas para a cúpula de líderes do G20, que ocorrerá no Rio em novembro.

Criado em 1999, o G20 representa mais de 80% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial, três quartos do comércio mundial e dois terços da população global.