Caoa e Hyundai anunciam novo acordo para importação e produção de carros
Hyundai Motor Brasil assumirá o controle sobre a importação de veículos da marca no país, enquanto a Caoa ajudará na produção local
Após 25 anos de representação oficial, o grupo brasileiro Caoa e a fabricante sul-coreana Hyundai anunciaram nesta quinta-feira uma reformulação profunda no contrato entre as duas partes para operação no Brasil.
A empresa nacional, fundada pelo empresário Carlos Alberto de Oliveira Andrade, falecido em 2021, terá novas atribuições, enquanto a Hyundai Motor Brasil (HMB), filial da empresa asiática, assumirá o controle sobre a importação e distribuição de veículos da marca.
Segundo as duas partes, o novo modelo de negócios já está aprovado pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), e foi fruto de uma negociação de três anos. “Tem gente falando em separação, mas, na verdade, Caoa e Hyundai estão se aproximando”, ressaltou Carlos Alberto de Oliveira Andrade Filho, presidente do grupo Caoa.
“Acordo tem que ser bom entre as duas partes. Agora a balança está equilibrada e teremos possibilidade de crescer e trazer novos produtos, aproveitando a capacidade produtiva da Caoa no país” completou Airton Cousseau, CEO da HMB.
Como será o novo acordo
Pelo novo acordo, a Caoa cederá à subsidiária brasileira da Hyundai o controle de todo o processo desde a importação até a distribuição final de todos os veículos nacionais e importados da marca. Em troca, a Caoa terá participação financeira nas importações e montará produtos da marca que a matriz determinar.
Até este ano, a Caoa era a responsável pela comercialização de todos os modelos importados da Hyundai. Produzia, inclusive, o SUV Tucson e os caminhões da linha HR e HD na fábrica de Anápolis (SP). Já a Hyundai Motor Brasil operava de modo paralelo com os compactos nacionais HB20 (hatch e sedã) e Creta, produzido por ela em Piracicaba (SP). O modelo gerava ruídos e chegou a virar objeto de uma batalha judicial.
O novo contrato pretende unificar todo o modelo de negócios. Além dos rearranjos relacionados à importação, que passará a ser de responsabilidade da HMB, ele prevê que a Caoa monte veículos para a Hyundai em Anápolis.
A medida ajudará a montadora sul-coreana a desafogar a planta de Piracicaba (SP), que vem atuando há anos em três turnos e capacidade máxima. Em 2019, a HMB já havia ampliado de 180 mil para 200 mil veículos por ano o limite de produção no interior paulista. Por questões geográficas, não há margem para uma nova expansão.
Além disso, a rede de concessionárias da Hyundai passará enfim a trabalhar com um portfólio unificado de produtos. Atualmente, só a rede Hyundai Caoa vendia os produtos importados da marca, enquanto as lojas HMB ofereciam apenas a família HB20 e o Creta. Agora, todos os 250 pontos de venda terão acesso ao mesmo catálogo de produtos.
Desse modo, a Hyundai Motor Brasil passará a ficar responsável por todos os lançamentos da marca no Brasil: os importados (antes cuidados pela Caoa), a família HB20 e o Creta (já sob sua responsabilidade) e modelos que eventualmente sejam montados em CKD pela Caoa em Goiás. Também ficará responsável por toda a distribuição de peças para o pós-venda.
Aposta em SUVs, picapes e híbridos
Para anunciar essa reformulação, Caoa e HMB promoveram um almoço com um pequeno grupo de jornalistas na casa da família Oliveira Andrade, que contou com a presença de Carlos Alberto de Oliveira Andrade Filho, atual presidente do grupo brasileiro, e o CEO da Hyundai Motor Brasil, Airton Cousseau.
A opção pelo local foi simbólica: primeiro, porque Caoa pai costumava promover encontros em sua residência; segundo, para deixar clara a mensagem de que as duas companhias voltaram a operar em harmonia.
“Com o novo modelo, a Hyundai passa a ter acesso aos incentivos fiscais que o governo concede a fábricas localizadas fora do eixo Sul-Sudeste”, apontou Carlos Alberto Filho, presidente da Caoa.
a Hyundai não abriu ainda quais produtos serão importados ou montados localmente - haverá um evento em 6 de março para anunciar os modelos -, mas o CEO da HMB, Airton Cousseau, apontou que a tendência será apostar em SUVs e picapes dos segmentos C e D (compacto-médio e médio), maiores e mais caros do que os produzidos pela HMB em São Paulo, para serem fabricados no Centro-Oeste brasileiro.
“Por exemplo, nós temos o Tucson, que é um produto com muito nome e prestígio, e que não queremos deixar de explorar”, disse. O projeto prevê também a importação e produção local de veículos eletrificados. “A fábrica de Anápolis já está preparada para produzir modelos do tipo híbrido plug-in e isso estará à disposição da Hyundai”, acrescentou Andrade Filho.
Parceria e conflitos
Desde 1999, quando iniciou a representação da Hyundai em nosso mercado, a Caoa era sua importadora exclusiva. Após conseguir alavancar o prestígio da marca no país, o grupo brasileiro construiu a fábrica de Anápolis em 2007 para produzir a primeira geração do SUV Tucson, na época um sucesso de vendas, e os caminhões HR e HD. Alguns anos depois, o modelo ix35 (segunda geração do Tucson) foi incorporado à linha de montagem goiana.
No início da década passada, a Hyundai resolveu abrir uma filial no Brasil e criou a HMB, com fábrica em Piracicaba e lançamento da família de compactos HB20. Contudo, o controle sobre seus produtos importados continuava com a Caoa, com quem tinha contrato. Assim, a marca sul-coreana passou a operar em um modelo de negócios peculiar no país, com duas representantes diferentes.
Essa representação dupla chegou a gerar uma batalha judicial. Em 2018, a matriz da Hyundai na Coreia do Sul tentou evitar a renovação automática do contrato de representação, usando cláusulas de desempenho não cumpridas para reduzir de dez para dois anos a extensão do novo acordo.
Na época, Carlos Alberto de Oliveira Andrade não concordou com a decisão e levou o caso à Justiça. Sua alegação era de que mudanças no cenário econômico local impediram o cumprimento das metas.
Em julho de 2021, apenas um mês antes de sua morte, o Tribunal de Arbitragem de Frankfurt (Alemanha) deu ganho de causa à empresa brasileira e determinou que o contrato automaticamente renovado deveria ser cumprido em sua integralidade, até 2028.
O anúncio desta semana mostra que as duas partes chegaram a um consenso para antecipar mudanças no acordo atualmente vigente.