Israel

Atos em Tel Aviv pedem libertação de reféns e eleições antecipadas em Israel

Israel calcula que 104 reféns, incluindo o brasileiro Michel Nisenbaum, ainda estão em Gaza, onde também estariam 32 corpos de pessoas sequestradas pelo Hamas em 7 de outubro

Manifestantes caminham em direação à Praça dos Reféns durante manifestação em Tel Aviv - Reprodução

É começo de noite de sábado em Tel Aviv. Mesmo sendo considerada a cidade mais cosmopolita de Israel, o movimento na rua era contido, horas antes, por causa do shabat — período sagrado para os judeus entre o cair do sol de sexta e sábado. Pouco depois do início da noite, o movimento começava a aumentar em frente ao Museu de Arte de Tel Aviv, que desde o começo da guerra ganhou a alcunha de Praça dos Reféns.

O motivo do apelido fica evidente à primeira vista. Um relógio com metros de altura, voltado para o centro de comando das Forças Armadas de Israel, mostra com detalhamento de segundos o tempo em que civis, militares e estrangeiros sequestrados no sul de Israel pelo grupo terrorista Hamas nos ataques de 7 de outubro, quando 1,2 mil pessoas foram mortas, estão em cativeiro na Faixa de Gaza. Depois de uma trégua no fim de novembro que permitiu a troca de mais de 100 reféns por 240 presos palestinos, Israel calcula que 104 — incluindo o brasileiro Michel Nisenbaum — ainda estão em Gaza, onde também estariam 32 corpos.

— Nós vimos aqui quase toda semana, porque sentimos que essas pessoas poderiam ser da nossa família, poderiam ser nós. Elas não faziam nada perigoso, apenas viviam suas vidas e foram sequestradas, feridas, estupradas e passaram por coisas terríveis — afirma Annette, de 41 anos, enquanto assistia a uma manifestação em Jerusalém ser transmitida por um telão.

Tel Aviv, que foi palco das principais manifestações do país no último ano — mesmo antes da guerra, quando o foco da atenção popular era a tentativa do premier Benjamin Netanyahu de fazer uma reforma judicial — não foi o principal palco dos protestos no sábado. Uma marcha que saiu na quarta-feira do kibbutz de Re'im, onde 364 pessoas foram mortas pelo grupo fundamentalista islâmico durante uma rave nos ataques de 7 de outubro, chegou a Jerusalém para fazer um ato na Praça Paris, perto da residência oficial do primeiro-ministro israelense.

Fotos dos reféns e mensagens de apoio às famílias dos sequestrados são uma constante em Israel. Desde a descida do aeroporto a placas de publicidade e cartazes em várias cidades, imagens das vítimas são mostradas com os dizeres: “Traga-o de volta para casa agora”. Na manifestação em Tel Aviv, uma instalação simulando uma mesa de shabat estava vazia, representando os reféns ausentes.

A poucas quadras da Praça dos Reféns, uma outra multidão se reunia na Rua Kaplan. Em um protesto mais abertamente politizado e com participação de partidos rivais da coalizão de governo, populares pediam a convocação de eleições antecipadas.

— Queremos um novo governo. Queremos novas eleições imediatamente. Depois do que aconteceu em 7 de outubro, o povo israelense precisa eleger um novo Parlamento e um novo governo — disse Gil Bachar, manifestante de 43 anos.

As cobranças a Netanyahu são visíveis nas ruas de Tel Aviv. Cartazes com o rosto do primeiro-ministro ocupam placas de publicidade com os dizeres “Você é o líder, a culpa é sua”. Em uma pesquisa de opinião realizada em fevereiro pelo Canal 12, o líder do posicionista partido de União Nacional, o general Benny Gantz, que integra o Gabinete de guerra formado após o 7 de outubro, conquistaria 75 dos 120 assentos da Knesset (Parlamento israelense) caso houvesse eleições antecipadas. Nesta segunda-feira, Gantz se reunirá em Washington com a vice-presidente dos EUA, Kamala Harris, apesar de Netanyahu ter alertado que "não aprovava sua viagem".

Embora a ânsia pela volta dos reféns seja perceptível nas ruas, a opinião sobre culpados e abordagens é divergente.

Enquanto manifestantes se dispersavam da Rua Kaplan — alguns em direção à Praça dos Reféns, outros em passeata pela via central — Dina Eitan, de 71 anos, apontou a coalizão de Netanyahu como principal obstáculo para uma resolução sobre os reféns.

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— O primeiro objetivo para Bibi [apelido de Netanyahu] provavelmente é o retorno dos reféns. Ele não é um líder que se prenda a uma vitória final, o que me parece uma ideia megalomaníaca. [Itamar] Ben Gvir e [Benzalel] Smotrich, por outro lado, pensam assim — disse Eitan, em referência, respectivamente, ao ministro da Segurança Nacional e ao ministro das Finanças de Israel.

Na Praça dos Reféns, minutos antes, Yonnis, de 48 anos, que se juntou aos protestos para demonstrar apoio às famílias dos reféns, defendia a abordagem de pressão militar para forçar uma rendição ou resgate.

— É uma situação complicada ter de esperar que o Hamas devolva os reféns. Eles não querem fazer isso, porque os usam para sobreviver. É um cálculo muito delicado, mas estou no campo que defende que se continue com a pressão militar.