ESPORTES

Entenda como o "boxe entretenimento" se estabelece entre influenciadores e atletas

Após luta entre Bambam e Popó sacudir redes sociais, grandes nomes do esporte querem participar de próximas edições

Nas redes sociais do Fight Music Show, vídeo do nocaute de Popó em Bambam já chega a 23 milhões - Monkey Wings/Reprodução

Era fevereiro de 2022 quando o tetracampeão mundial de boxe Popó, então com 46 anos, aceitou voltar aos ringues para uma luta de exibição com o youtuber e humorista Whindersson Nunes, na primeira edição do Fight Music Show (FMS), em Balneário Camboríu (SC).

O evento misturava combates entre atletas, influenciadores e shows musicais. Uma iniciativa na esteira das primeiras lutas dos irmãos youtubers americanos Jake e Logan Paul, que iniciavam, nos Estados Unidos, uma empreitada no boxe.

Dois anos depois, o mercado brasileiro viu a consolidação deste tipo de evento, que culminou na intensa repercussão do duelo entre o mesmo Popó e o influenciador Kléber Bambam, no último dia 23.

A luta, pela quarta edição do FMS, durou apenas 36 segundos, com vitória para Popó. Mas o sucesso foi ainda mais longe: só no YouTube, o canal Combate já registra quase dez milhões de visualizações na gravação da transmissão ao vivo do evento no card preliminar. Nas redes sociais do evento, o vídeo do nocaute chega a 23 milhões, números que não ficam longe do engajamento nas páginas pessoais de Popó e Bambam.

Sucesso de público e financeiro, o evento esteve pela segunda vez em São Paulo, cidade em que encontrou mercado e parcerias que o potencializaram em relação às edições anteriores, na Ligga Arena (Curitiba), conta o presidente e idealizador, o empresário Mamá Brito. Primo dos lutadores Rogério Minotauro e Rodrigo Minotouro, ele conta que o negócio se construiu pouco a pouco, com primeiras experiências até apresentando alguns resultados negativos. Desta vez, ele diz que o FMS “quebrou a banca” e classifica a edição, em termos financeiros, como a “mais satisfatória”.

— O segredo para o evento ser legal e divertido é que faço entrevistas com os influenciadores e vejo se eles vão estar engajados nos treinamentos. Aí, entro em contato com as equipes que estão disponíveis para treinar, que já têm experiência (com influenciadores) e vou monitorando como está o desempenho deles — explica o empresário. — Pelo fato de eu ter esse background de artes marciais, fica mais fácil saber se o trabalho está sendo bem feito. A maior preocupação que nós temos é chegar lá e o influenciador não estar treinado. Mas o que a gente nota é que a audiência acaba cobrando muito dele, ele deve fazer uma boa performance.
 

Personal trainer e treinador de boxe de Bambam, Wallace Arcanjo explica as diferenças no treinamento de alguém que não é atleta.

— Como o Popó tem muitos anos de boxe, já tem a leitura, é meio difícil preparar como se fosse outro lutador, então a gente tentou trabalhar estratégia. Não soltar muito golpe, já que o Popó contragolpeia muito bem. Trabalhar fechadinho e responder, o básico do básico — conta o profissional.

No caso de Bambam, os focos de Wallace foram no “gás”, na condição física. Ele explica que o passado de fisiculturismo do influenciador não trouxe vantagem. Pelo contrário, poderia deixar o físico “mais travado”.

Polêmicas e trash talk
O FMS tem a chancela do Conselho Nacional de Boxe, que trabalha em parceria em questões de árbitros, regulamento, pesagem e outras necessidades de adaptação. Nesta última edição, a luta precisou ser em peso combinado (Bambam pesou 6,1 quilos a mais que Popó) e teve regras especiais, como um menor número de rounds, mais curtos (seis de dois minutos cada), e ausência de limite de knockdowns.

O segundo combate mais aguardado da noite, entre os cantores MC Gui e Nego do Borel, foi outro de alta repercussão. Cercados de polêmicas em suas carreiras, eles levaram essa bagagem para a promoção do duelo, com direito a muito trash talk (provocações) nas redes, tradicional no mundo das lutas. Cantores, influenciadores e bodybuilders estão entre os mais frequentemente selecionados para as lutas envolvendo famosos.

— O Fight Music Show não é um evento de lutas, é um evento de geração de conteúdo e marketing em que nós usamos como instrumento as lutas de boxe. Somos um dos maiores instrumentos do Brasil de divulgação, porque a gente tem a potência dos grandes influenciadores. É uma construção. Agora, a visibilidade é muito maior e eles têm mais confiança na nossa consistência — explica Mamá quando perguntado sobre a aderência de grandes patrocinadores. Na edição do fim de semana passado, Popó ficou com cerca de R$ 5 milhões entre bolsa e patrocínios, enquanto Bambam arrecadou R$ 6 milhões.

Nos últimos dois anos, Popó, rosto do FMS e agora sócio do evento, fez todas as lutas principais: enfrentou Pelé Landy (grande nome do MMA) e o influenciador Júnior Dublê. Agora, já fala em despedida. Mas no dia 23 de março, já tem outra luta, pelo evento Danki Fight Show, contra o empresário de tecnologia e influenciador Guilherme Grillo, em Florianópolis (SC). Enquanto isso, o FMS já trabalha no planejamento da próxima edição, que deve ser especial. E já chama a atenção de grandes nomes do mundo das lutas.

O ex-campeão do UFC Vitor Belfort, que enfrentou nomes como Evander Holyfield e Ronaldo Jacaré em lutas de boxe nos últimos anos, desafiou Popó. Por sua vez, foi desafiado por Esquiva Falcão, medalhista olímpico. Esquiva, que lutou contra o ex-BBB Yuri Fernandes na primeira edição do Fight Music Show, segue carreira no boxe profissional — disputou título mundial no ano passado — e tem três lutas profissionais previstas para 2024, vê com bons olhos uma volta ao evento.

— Isso é legal para mim, muita gente ainda não me conhece, e também para o evento. Eu acho que o evento precisa de uma luta assim (contra Belfort). É entretenimento, a galera fica curiosa para saber o resultado — diz Esquiva.

Ele lembra que contra Yuri, apesar da diferença de níveis, se preparou para evitar possíveis surpresas. Mas credita a essas chances do inesperado o sucesso desses eventos dentro e fora do Brasil.

— Já pensou se acontece a zebra do momento? A galera gosta dessa emoção.