SAÚDE

Dengue: apesar da explosão de casos, vacina tem baixa procura e estados aumentam público-alvo

Ritmo da imunização está aquém do esperado para as crianças de 10 e 11 anos

Vacina contra dengue - Fábio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil

No momento em que o país atinge a marca de um milhão de casos de dengue apenas nos dois primeiros meses do ano, estados relatam baixa procura pela vacina contra a doença e decidiram ampliar o público alvo que já pode ser imunizado.

A recomendação do Ministério da Saúde tem sido a de restringir as doses disponíveis apenas para crianças entre 10 a 11 anos, mas Acre, Mato Grosso do Sul e Goiás já elevaram para até 14 anos a lista dos que podem receber a proteção, enquanto o Distrito Federal avalia incluir as de 12.

Segundo levantamento do Globo com as secretarias de saúde de estados e municípios, cerca de 82 mil crianças entre 10 e 11 anos foram imunizadas contra a doença em nove estados após três semanas do início da vacinação no país.

O número representa 11,6% das 712 mil doses do primeiro lote do imunizante recebido pelo governo, no início de fevereiro, e apenas 0,02% da população total que pretende vacinar em 2024 — 3,2 milhões de pessoas. Quatro unidades da federação — Rio de Janeiro, Bahia, Paraíba e Rio Grande do Norte —, contudo, não informaram quantas pessoas vacinaram até agora.

Apesar do movimento dos estados, a ministra da Saúde, Nísia Trindade, pediu para os municípios não se anteciparem ao cronograma de vacinação pensado pelo governo federal. O argumento é que a estratégia de aumentar as faixas etárias gradativamente foram pensadas para garantir a aplicação da segunda dose, após três meses. O mesmo método foi aplicado na época da vacinação da Covid-19.

— Se cada município tomar uma decisão descoordenada, a gente pode deixar crianças e adolescentes sem proteção. Todas as nossas ações são decididas por um comitê técnico com especialistas e também há escassez de doses de vacina — afirmou a ministra em entrevista na sexta-feira. Procurada, a pasta não se manifestou.
 

No Acre, primeiro estado do Norte a iniciar a campanha, a vacinação foi ampliada para adolescentes de até 14 anos em seis dos 11 municípios no dia 26, uma semana após ser iniciada. Segundo a última atualização da secretaria de saúde, até então 770 jovens entre 10 e 11 anos haviam sido vacinados, o que representa 4,3% da meta de imunizar 17.810 pessoas nesta faixa etária.

— Se a procura continuar baixa, enquanto houver estoque, iremos sinalizar para o Ministério da Saúde formalizar uma solicitação de extensão da vacinação para as outras regionais de saúde do estado. Convocamos aos pais para que vacinem seus filhos e evitaremos, assim, casos graves da doença — disse a coordenadora do Programa Nacional de Imunizações no Acre, Renata Quiles, em entrevista ao site do governo local.

Em Goiás, a vacinação nas 134 cidades que já receberam doses do imunizante foi ampliada para crianças até 14 anos na última sexta-feira. O secretário estadual de saúde, Rasível dos Santos, afirmou que o avanço foi discutido com o Ministério da Saúde.

— Nós tivemos uma boa procura pela vacina nos primeiros dias da campanha, mas a adesão diminuiu com o passar do tempo e apenas 13,1% das crianças com idade entre 10 e 11 anos foram vacinadas — afirmou ele.

A baixa procura também foi a justificativa do governo do Mato Grosso do Sul para elevar a população apta a receber as doses. Segundo a secretaria estadual de saúde, 7.143 vacinas contra a dengue haviam sido aplicadas até a semana passada. A expectativa da gestão é imunizar ao menos 90% do público previsto nesta primeira etapa, estimado em cerca de 28 mil crianças e adolescentes.

Diferentemente dos estados, que já ampliaram o público-alvo, o Distrito Federal ainda aguarda orientação do Ministério da Saúde para vacinar crianças de 12 anos diante da avaliação que o ritmo de imunização da população está lento.

Barreiras
A capital federal, contudo, é onde a imunização mais avançou. Em três semanas, 24.355 das 75.291 crianças entre 10 e 11 anos que vivem na capital federal haviam sido vacinadas até sexta-feira passada, o equivalente a 32%. “A ampliação da faixa etária está sendo avaliada e a pasta aguarda orientações do Ministério da Saúde para a ação”, afirma a secretaria em nota.

Médico sanitarista e professor da Universidade de Brasília (UnB), Jonas Brant cita o horário e local em que o imunizante está disponível como uma das barreiras que dificultam a procura.

— A vacina é disponibilizada em um horário muito específico, em um lugar muito específico. Isso faz com que as pessoas tenham dificuldade de chegar até a vacina, então é um horário que a pessoa trabalha, e ela vai ter que faltar ao emprego para poder levar os filhos — afirmou o especialista.

Segundo o último informe semanal do Ministério da Saúde sobre dengue, o Brasil registrou nesse início de ano uma alta de 369% nos casos em relação ao mesmo período do ano passado, além de 154% nos diagnósticos graves e de 31% nas mortes. O cenário preocupa já que 2023 foi o segundo pior da série histórica, com 1.658.816 casos, além de ter sido o mais letal, com 1.094 óbitos.