Conflito

Agência da ONU para Gaza acusa Israel de prender e torturar funcionários para obter confissões sobre

UNRWA afirma que ações eram voltadas a 'desmantelar a instituição, em meio a alegações de que alguns colaboradores participaram de ataque do Hamas no dia 7 de outubro

Prédio onde ficava escritório da UNRWA na Cidade de Gaza - AFP

A Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Oriente Próximo (UNRWA) acusou nesta segunda-feira o governo de Israel de torturar e maltratar funcionários da agência em busca de confissões sobre supostos laços entre o órgão e o grupo terrorista Hamas. A denúncia vem no momento em que Israel aponta para um papel de integrantes da agência nos ataques do dia 7 de outubro do ano passado, algo que vem sendo investigado pela ONU.

“Alguns de nossos funcionários relataram às equipes da UNRWA que eles foram forçados a fazer confissões sob tortura e maus tratos. Essas falsas confissões foram em resposta a questões sobre as relações entre a UNRWA e o Hamas, assim como seu envolvimento com o ataque de 7 de outubro contra Israel”, afirmou, em comunicado, a porta-voz da UNRWA, Juliette Touma, citada pela CNN.

No final de janeiro, no mesmo dia em que a Corte Internacional de Justiça emitiu determinações no caso em que Israel é acusado de genocídio em Gaza, as autoridades israelenses fizeram denúncias sobre a participação de ao menos 12 funcionários da UNRWA nos ataques de 7 de outubro.

Outros 190 funcionários foram acusados de serem “militantes” de organizações consideradas terroristas. A ONU iniciou imediatamente uma investigação, e demitiu 10 dos 12 citados — os outros dois estão mortos. A agência tinha, antes da guerra, 13 mil funcionários.

Segundo Touma, a tortura foi usada para "espalhar desinformação sobre a agência, como parte das tentativas de desmantelar a UNRWA".

As alegações fazem parte de um relatório da agência, ainda não publicado, mas obtido por veículos de imprensa dos EUA, que relata supostos abusos cometidos pelas forças israelenses em Gaza.

“A UNRWA recebeu muitos relatos de indivíduos libertados sobre maus tratos em todos os estágios de detenção. Segundo os indivíduos libertados, os maus tratos eram usados em tentativas de extrair informações, intimidar, humilhar e punir”, diz o relatório, obtido em primeira mão pelo New York Times.

As denúncias incluem agressões físicas, abusos sexuais e a ausência de assistência legal e jurídica por mais de um mês. A idade dos presos, muitos dos quais já liberados, varia entre 6 e 82 anos. Estimativas da própria UNRWA, já divulgadas, afirmam que 4 mil pessoas foram presas em Gaza e levadas para prisões israelenses, sendo que algumas delas morreram no cárcere.

Em uma declaração do Exército israelense, publicada pelo New York Times, os militares afirmam que os maus tratos não fazem parte "dos valores" da corporação, e que seus soldados "agiram de acordo com a lei de Israel e a lei internacional para proteger os direitos dos detidos". Os militares ainda rejeitaram as alegações de privação de sono e de abusos sexuais, chamando a denúncia de "uma outra tentativa cínica de criar uma falsa equivalência ao uso sistemático do estupro como uma arma de guerra pelo Hamas".