BRASIL

"Parece posição do Kama Sutra", diz Barroso ao pedir uso de linguagem mais simples pelo Judiciário

Ministro disse que é preciso 'parar com esse negócio de achar que quem fala complicado é inteligente'

O presidente do STF, Luís Roberto Barroso - Reprodução/Youtube

Em tom descontraído, o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso, afirmou que é preciso "parar com esse negócio de achar que quem fala complicado é inteligente" e, ao pedir o uso de uma linguagem mais simples pelo Judiciário, comparou um termo jurídico ao Kama Sutra. A fala ocorreu durante palestra na PUC-SP nesta segunda-feira.

— Nós já temos problemas graves no Direito, que é por vezes uma terminologia muito esquisita. Nós somos capazes de dizer coisas do tipo: no aforamento, havendo pluralidade de enfiteutas elege-se um cabecel. É feio demais. Já temos embargos infringentes. Tem mútuo feneratício. Me perdoem, mas parece uma posição do Kama Sutra — ironizou o ministro.

Ainda na palestra, Barroso afirmou que a politização das Forças Armadas foi "dramática" para a democracia e que elas "fizeram um papelão" no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O magistrado disse também que militares convidados a ajudar na fiscalização da segurança das urnas, em 2022, foram induzidos por uma "má liderança" a levantar falsas suspeitas sobre o processo.

— Desde 1988, as Forças Armadas tiveram um comportamento exemplar no Brasil, de não ingerência ou interferência, de cumprir suas missões constitucionais (...) Porém, foram manipulados e arremessados na política por más lideranças. Fizeram um papelão no TSE. Convidados para ajudar na segurança e dar transparência, (os militares) foram induzidos a ficarem levantando suspeitas falsas. Quando a lealdade é um valor que se ensina nas Forças Armadas — disse o ministro.

 

Barroso também alertou sobre o risco democrático da massificação da desinformação a partir do uso da inteligência artificial. O magistrado destacou o perigo do deepfake e comentou, em tom descontraído, que não é "chantageado" pelo ex-ministro José Dirceu (PT).

O ministro se referiu a um vídeo que circulou nas redes em 2022. No conteúdo falso, Barroso aparece relatando uma suposta chantagem de Dirceu devido a uma orgia da qual os dois teriam participado em Cuba. Na versão completa, uma entrevista concedida ao site Jota em fevereiro de 2022, o presidente do STF fala sobre desinformação e cita a história justamente como um dos exemplos de fake news sobre ele.

— Nós somos ensinados a acreditar naquilo que vemos e ouvimos. O dia que não pudermos mais acreditar, a liberdae de expressão terá perdido o sentido. O deepfake vai tornar a vida pior ainda do que já é nesse mundo da desinformação. Para quem tiver dúvida, eu não sou chantageado pelo ministro José Dirceu (ex-ministro da Casa Civil do primeiro governo Lula) e por uma orgia de que participamos em Cuba. Embora haja milhares de acessos a essa informação na rede social. Eu queria dizer que nunca fui a Cuba. Não tenho relações com o ministro e não sou dado a orgias — disse.