INQUÉRITO

Trama golpista: confira a situação de inquérito contra generais de Bolsonaro

Militares são investigados em conspiração para impedir a posse do presidente Lula

Atos golpistas - Joedson Alves/Agencia Brasil

O avanço do inquérito que apura a tentativa de golpe de Estado para impedir a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) expõe os militares que se associaram ao governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Ex-comandantes das Forças Armadas já implicaram o ex-presidente diretamente na trama golpista investigada pela Polícia Federal, e outros militares estão sendo investigados. Veja o que pesa contra os principais comandantes de Bolsonaro:

Walter Braga Netto
Ex-ministro da Defesa e da Casa Civil e candidato a vice-presidente na chapa de Jair Bolsonaro em 2022, Walter Braga Netto ficou em silêncio em depoimento prestado à Polícia Federal em 22 de fevereiro. Contra ele pesa a acusação de atuação na incitação contra membros das Forças Armadas que não aderiram à tentativa de golpe. Mensagens revelam que ele ordenou críticas aos então comandantes do Exército, Marco Antônio Freire Gomes, e da Aeronáutica, Carlos de Almeida Baptista Júnior. A revelação das mensagens do general interceptadas pela PF deixou Braga Netto isolado e sem interlocução junto às Forças Armadas. Braga Netto tem mostrado a pessoas próximas certo arrependimento por ter estimulado os ataques.

Uma das atitudes que mais incomodaram os militares foi a orientação de Braga Netto ao ex-capitão Ailton Barros, cinco dias após a diplomação de Lula como presidente, na qual pede para “viralizar” ataques ao general Tomás Paiva, que desde fevereiro passado é o comandante do Exército. Outro alvo foi o general Freire Gomes, que comandou a Força nos dois últimos anos da gestão Bolsonaro. Braga Netto se referiu ao militar como "cagão", e pediu a Barros que a “cabeça dele seja oferecida”.

Augusto Heleno
O ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) também ficou em silêncio durante o depoimento prestado à PF. Em reunião ministerial ocorrida em julho de 2022, ele afirmou que se "tiver que virar a mesa é antes das eleições" e que era necessário agir "contra determinadas instituições e contra determinadas pessoas". Também relatou ter discutido um plano para infiltrar agentes da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) em campanhas eleitorais. Ele ainda não se manifestou sobre as investigações.

O depoimento do ajudante de ordens da Presidência, o tenente-coronel Mauro Cid, tem causado temor entre os militares investigados por arquitetar um golpe de estado com Jair Bolsonaro, entre eles o ex-ministro do GSI. Há a avaliação de que o ex-ajudante de ordens tentou preservar seus colegas das Forças Armadas envolvidos na trama golpista, mas que o avanço das investigações fará com que esses militares protagonizem um novo capítulo de sua delação. Nesta lista estão membros de alta patente, como o próprio Augusto Heleno, e os outros generais e ex-ministros Walter Braga Netto, Paulo Sérgio Nogueira e Estevam Theophilo Oliveira.

Paulo Sérgio Nogueira
O longo depoimento do general Freire Gomes, ex-comandante do Exército no governo Jair Bolsonaro, levantou a suspeita entre os militares de que Paulo Sérgio Nogueira, ex-ministro da Defesa, possa vir a ser responsabilizado pelos atos de seus subordinados. Acompanhado de Bolsonaro, ele teria apresentado a Freire Gomes e Batista Júnior duas versões da minuta do golpe, avisando que aquilo tinha que ser implementado. O temor na cúpula militar é de que o ex-comandante do Exército Marco Antonio Freire Gomes complique não só a situação de Jair Bolsonaro como também a de Nogueira, responsável direto pelas Forças Armadas na gestão de Bolsonaro.

Segundo a PF, o ex-ministro da Defesa teria manipulado o relatório da pasta sobre o sistema eleitoral, postergando a divulgação depois que não foram identificadas vulnerabilidades nas urnas eletrônicas. Em reunião ministerial, ele disse que estava "na linha de contato com inimigo" em comissão do TSE e que o grupo seria "para inglês ver". A defesa de Paulo Sérgio afirmou que o ex-ministro "sempre agiu corretamente, é inocente e confia na Justiça".

Marco Antonio Freire Gomes
O ex-comandante do Exército disse em depoimento à Polícia Federal que se opôs aos planos golpistas de Jair Bolsonaro. Ele relatou que foram apresentadas a ele duas versões da minuta do golpe pelo próprio ex-presidente e por Nogueira, avisando que aquilo tinha que ser implementado. O comandante implicou diretamente o ex-presidente na tentativa de golpe.

Bolsonaro também teria chamado reservadamente no Alvorada o general Estevam Theophilo, comandante do Coter — comando das Operações Terrestres — com o intuito de mostrar o “firme propósito de implementar o que estava escrito”. O general Theophilo disse que foi à reunião no palácio a mando de Freire Gomes. Contudo, Freire Gomes não confirmou essa informação e disse que a ordem não partiu dele. O general afirmou ainda à PF que se manifestou contra qualquer ação que impedisse a posse de Lula tanto diante de Bolsonaro como no Ministério da Defesa, em discussões reservadas com generais sobre o assunto.

Carlos de Almeida Batista Jr.
Assim como o general Marco Antonio, o tenente-brigadeiro da Marinha Carlos de Almeida também viu as duas versões da minuta do golpe, conforme revelou no depoimento para a PF. A minuta apresentada também foi encontrada no gabinete do ex-presidente dentro do Partido Liberal. Segundo relato de uma fonte à colunista, “é depoimento, mas está comprovado pela apreensão que foi feita”. Os depoimentos do brigadeiro e do general Marco Antonio deixaram a impressão de que “lacunas” foram preenchidas na investigação. “As peças foram se encaixando como num quebra-cabeças”, disse a fonte.

O oficial foi chamado de “traidor da pátria” por Braga Netto em mensagens onde foi comparado ao personagem Batista, da Escolinha do Professor Raimundo. Carlos de Almeida, que ocupou o cargo de comandante da Aeronáutica no governo de Jair Bolsonaro, publicou nas redes sociais que a “ambição derrota o caráter dos fracos”. Pelas redes sociais, o tenente afirmou ainda que não tinha mais o “direito” de se “iludir com o ser humano”, “mesmo aqueles que julgava amigos e foram derrotados pelas suas ambições”.