NEGÓCIOS

Executivos de dona do Starbucks no Brasil rebatem acusação de fraude e estelionato

CEO é investigado por estelionato e falsidade ideológica; empresa pede que inquérito seja arquivado e alega que credores querem buscar justificativa para decisão de "investimento arriscado"

Starbucks - Foto: Divulgação/Starbucks Brasil

Investigados por estelionato, falsidade ideológica e apropriação indébita, executivos da SouthRock Capital, dona do Startbucks no Brasil, pediram que a Polícia Civil de São Paulo arquive o inquérito que apura se houve fraude em operação para obtenção de empréstimo de R$ 75 milhões em nome da rede de cafés.

A investigação foi aberta em dezembro do ano passado, dois meses depois de a empresa por trás do Starbucks no país entrar com pedido de recuperação judicial na Justiça.

Os credores do Starbucks acusam o CEO da SouthRock Capital, Kenneth Pope, e outros dois executivos de adulterarem documentos para encobrir a real situação financeira da companhia e, assim, obterem o empréstimo milionário. As acusações partiram da Ibiúna Investimentos e da securitizadora Travessia, como mostrou O GLOBO. O pedido de arquivamento foi feito na semana passada.

Os advogados da SouthRock alegam aos investigadores que a fraude para obtenção do empréstimo “jamais existiu” e que os credores estavam “plenamente cientes” da situação patrimonial do Starbucks.

Os representantes da gestora indicam também que as alegações foram feitas para que a Ibiúna e a Travessia pudessem justificar aos seus investidores a operação “arriscada” de crédito: “a narrativa formulada pelas noticiantes nada mais é do que uma cortina de fumaça”, afirmam.

“Não é crível que uma gestora da envergadura e seriedade da Ibiúna, com mais de 13 anos de mercado, tenha autorizado um empréstimo de R$ 75 milhões, sem a realização de due diligence (espécie de auditoria) para confirmar a situação financeira da empresa Starbucks”, acrescentam.

‘Dividendos’ de R$ 20 milhões
Uma das formas de “maquiar” a situação financeira do Starbucks, teria sido, segundo os credores, o envio de organogramas incompletos da SouthRock que ocultavam a existência, no grupo, de empresas altamente endividadas do grupo. Eles também indicam que a empresa teria adulterado balanços financeiros para mostrar um cenário melhor que o real.

Em resposta à polícia, a SouthRock disse que “em momento algum” adulterou informações e que toda a estrutura societária do grupo é pública está registrada na Junta Comercial do Estado de São Paulo e registrada na B3. Em relação aos balanços, alega que os documentos enviados eram parciais e não auditados - por tanto, sujeitos a alterações.

Troca de cartões
Ibiuna e Travessia também acusam a dona do Starbucks de trocar as maquininhas de cartão da rede de cafés como forma de impedir a arrecadação de recebíveis cedidos como garantia do crédito de R$ 75 milhões. A operação é investigada pela polícia como apropriação indébita. Em resposta, os executivos afirmam que não houve desvio de valores com a mudança.

A SouthRock também rebate a alegação de que Pope teria desviado R$ 20 milhões em empréstimos feitos com a própria gestora do Starbucks, sem comunicar o valor à Justiça. De acordo com os advogados do CEO, o valor seria referente a adiantamentos de dividendos pagos ao executivo e que a informação consta nas demonstrações financeiras da empresa.

“A narrativa formulada pelas noticiantes nada mais é do que uma cortina de fumaça para justificar perante os investidores o investimento realizado de forma consciente pela gestora”, afirmam.

Extrato de previdência é questionado
A SouthRock acrescenta que a Ibiúna seguiu como parceira comercial com Starbucks após o empréstimo, “postura que não condiz com a de alguém foi vítima de uma fraude”, afirmam os advogados, que representam também o diretor financeiro da SouthRock, Fabio David Rohr, e o gerente financeiro do Starbucks, Marcos Carvalho.

Na disputa entre a rede de cafés e os credores, aparece até um extrato previdenciário. Em material enviado à Polícia no último mês, Ibiuna e Travessia pedem que os investigadores incluam no inquérito um comprovante supostamente adulterado por Pope, que o indicava como beneficiário de plano de previdência pública norte-americano no valor de US$ 5 milhões. O documento foi enviado como forma de comprovar que o executivo tinha condições, com patrimônio próprio, de arcar com o empréstimo em disputa.

Em resposta, os advogados de Pope dizem que a data do documento é posterior ao período de negociação do empréstimo e que a alegação dos credores é "mentirosa"

O inquérito policial foi aberto em dezembro, dois meses depois do Starbucks entrar com pedido de recuperação judicial para negociar dívidas de R$ 1,8 bilhão. Caso a investigação prossiga, caberá ao Ministério Público do Estado de São Paulo decidir oferecer ou não uma denúncia ao poder judiciário. Além do Starbucks, a SouthRock comanda a operação brasileira do Subway, do Eataly e do TGI Fridays.