AMÉRICA DO SUL

Premiê do Peru deixa o cargo em meio a escândalo por suposto tráfico de influências

Presidente Dina Boluarte perde assim o seu maior apoio no governo

Alberto Otárola - wikipedia

O primeiro-ministro Alberto Otárola, o homem forte do governo do Peru, renunciou nesta terça-feira (5) após ter o nome envolvido em um escândalo de suposto tráfico de influência em favor de uma mulher a quem chamava de "amor" em áudios revelados pela imprensa.

A presidente Dina Boluarte perde assim o seu maior apoio no governo, com quem administrou a crise provocada pela repressão aos protestos contra sua chegada ao poder em dezembro de 2022, como sucessora do destituído e detido Pedro Castillo.

"Na conversa com a presidente da República, eu anunciei minha decisão de apresentar minha renúncia como presidente do conselho de ministros", disse Otárola em uma coletiva de imprensa após uma reunião com a chefe de Estado na sede do governo, em Lima.

Otárola, um hábil operador político e advogado de 57 anos, era o braço direito da chefe de Estado desde 22 de dezembro de 2022, quando o país estava em meio aos protestos que deixaram 50 mortos devido à repressão a tiros das forças de segurança, como denunciaram organismos internacionais.

O agora ex-primeiro-ministro teve que interromper uma missão oficial no Canadá e retornar ao Peru nesta terça-feira, após o escândalo desencadeado pela publicação das gravações no fim de semana.

O programa de televisão Panorama revelou os áudios nos quais se ouve a voz de Otárola expressando afeto por uma mulher que em 2023 obteve dois contratos com o Estado no valor de 53.000 soles (cerca de R$ 69,2 mil), como assistente técnica administrativa no Ministério da Defesa.

"Diga-me, amor, para conversarmos. Você sabe que essas coisas incomodam, chateiam, mas você sabe que eu também te amo", diz o primeiro-ministro à jovem de 25 anos nos áudios.

A mulher citada nos áudios, Yaziré Pinedo, afirmou na terça-feira que as conversas não são recentes, mas de 2021, quando Otárola não ocupava o cargo de primeiro-ministro.

Ela reconheceu, no entanto, que naquela época teve uma "relação talvez sentimental" de alguns dias com ele.

Otárola negou ser um "corrupto" e disse que sua saída foi tramada por seus adversários políticos.

"Vou me submeter, claro, a todas as investigações, mas a perícia será absolutamente clara em relação à maneira grosseira como esses áudios foram editados e apresentados à opinião pública", afirmou Otárola.

Apesar de negar qualquer ato de corrupção, ele disse que decidiu abandonar o cargo para evitar que "a baixeza" de seus inimigos afete a "governabilidade do país".

Também disse esperar que sua decisão dê "tranquilidade à presidente Boluarte para que possa recompor o seu gabinete".