Ex-campeão mundial de xadrez entra na lista de 'terroristas e extremistas' da Rússia
Crítico do presidente russo, Garry Kasparov vive exilado desde 2013
A Rússia incluiu o ex-campeão mundial de xadrez Garry Kasparov na sua lista de pessoas declaradas “terroristas e extremistas”, segundo uma nota do serviço de vigilância financeira do país consultada pela AFP nesta quarta-feira. Crítico do presidente russo, Vladimir Putin, Kasparov vive exilado nos Estados Unidos desde 2013, embora continue denunciando o governo russo e a guerra na Ucrânia.
Nascido em 1963 no Azerbaijão, então parte da União Soviética, Kasparov foi um dos maiores jogadores de xadrez do mundo antes de se tornar um feroz adversário de Putin.
Kasparov ficou famoso por seu longo duelo na década de 1980 contra Anatoly Karpov, outra lenda do xadrez soviético. Este último, porém, foi eleito deputado pelo partido do presidente russo, a quem apoia publicamente.
Em 2022, Kasparov foi designado “agente estrangeiro” na Rússia, rótulo usado contra opositores massivos, geralmente jornalistas e ativistas. A maior parte dos outros opositores proeminentes do país está presa.
Mais de 20 mil pessoas detidas
Também nesta quarta-feira, o jornalista e blogueiro russo Roman Ivanov foi condenado a sete anos de prisão por ter publicado mensagens críticas à ofensiva russa na Ucrânia nas redes sociais. O tribunal de Koroliov, cidade a 6 km de Moscou, considerou Ivanov, de 51 anos, culpado de “divulgação de informação falsa” sobre o Exército russo.
Uma das publicações feitas por Ivanov se referia a fatos ocorridos na cidade ucraniana de Bucha, onde corpos de civis foram encontrados em abril de 2022. Kiev acusou o Exército russo pelo massacre, mas Moscou sempre negou seu envolvimento.
Após o anúncio da sentença, os apoiadores do jornalista que estavam presentes no tribunal gritaram: “Roma (diminutivo de Roman), estamos contigo. Você não está sozinho”. O grupo também gritou lemas contra a guerra na Ucrânia. Entrevistada pela imprensa, Alla Ivanova, mãe de Ivanov, denunciou uma “montagem” para acusar o jornalista.
"Ele lutava por nós, nos ajudava", disse.
Durante seu julgamento, Roman Ivanov, detido em abril de 2023, defendeu sua inocência e considerou que o processo se devia à “repressão” das vozes críticas ao Kremlin. Aos juízes, ele disse que gostaria de “pedir perdão a todos os ucranianos a quem nosso país causou dor”, e que “o jornalismo já não existe na Rússia”.
Ivanov trabalhava como jornalista esportivo para uma rede estatal quando, em 2019, criou seu próprio canal no YouTube, “Koriolov Honesto”, onde denunciava casos de corrupção na Câmara Municipal, fraudes eleitorais e problemas ambientais. Ele foi demitido da rede estatal em 2021 por suas opiniões.
"Para mim, uma das consequências mais graves deste processo é que as pessoas de Koriolov ficarão sem minha ajuda durante muito tempo".
Nos últimos meses, Ivanov escreveu para o jornal independente RusNews, onde também trabalhou Maria Ponomarenko, condenada em 2023 a seis anos de prisão por postar no Instagram uma crítica à ofensiva na Ucrânia. Nos últimos dois anos, cerca de 20 mil pessoas foram detidas na Rússia por declarações contra a guerra, segundo a ONG especializada OVD-Info.