Venezuela

Definida a data de eleição na Venezuela, Maduro faz campanha e oposição corre contra o tempo

O chavismo completou, em fevereiro, 25 anos no poder, os últimos 11 liderados por Maduro após a morte de Hugo Chávez em 2013

Nicolás Maduro, presidente da Venezuela - Federico Parra/ AFP

O presidente venezuelano, Nicolás Maduro, iniciou a campanha para a reeleição antes de confirmar uma candidatura que parece evidente: apesar da popularidade baixa, tem o poder do Estado, uma equipe política coesa e uma oposição que corre contra o tempo para definir seu candidato.

A autoridade eleitoral, acusada de servir ao chavismo, marcou a data das eleições presidenciais para 28 de julho: são menos de cinco meses, um prazo que, segundo especialistas, dificulta uma grande mobilização de missões de observadores internacionais como a da União Europeia.

Mas, além disso, segundo o cronograma, o prazo para a inscrição de candidatos, de quatro dias, começa em duas semanas, pondo em apuros a oposição, que deve decidir qual nome vai inscrever.

María Corina Machado se consagrou candidata da principal coalizão opositora, a Plataforma Unitária, ao vencer com folga as primárias de outubro passado, mas enfrenta uma inabilitação política por 15 anos sem chances evidentes de ser revertida.

- Maduro -
O chavismo completou, em fevereiro, 25 anos no poder, os últimos 11 liderados por Maduro após a morte de Hugo Chávez em 2013.

E o chefe de Estado, de 61 anos, aparece como o candidato natural, que o Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV) pretende confirmar em um congresso em 15 de março. "Não tenho nenhuma dúvida de que isto vai ocorrer por consenso", disse Diosdado Cabello, considerado o número dois do chavismo.

A reeleição de Maduro em 2018 foi tachada de "fraudulenta" pela oposição, que boicotou o pleito, e os Estados Unidos, que impuseram uma bateria de sanções para tentar, sem sucesso, tirá-lo do poder.

A UE tampouco reconheceu o resultado.
Os efeitos das sanções têm sido o ponto central de sua campanha, que já começou. Na terça-feira, Maduro anunciou, por exemplo, um programa social que distribuirá de colchões a vasos sanitários, além de roupas e sapatos para os mais vulneráveis.

E nos últimos dias, apareceu em público, o que não era habitual.

Uma pesquisa da empresa Hinterlaces, favorável ao chavismo, situa Maduro como vencedor com 55% dos votos. Outras consultas coincidem em que sua baixa popularidade poderia lhe custar o cargo.

A empresa ORC situa em 80% a rejeição à gestão de Maduro, percentual similar a outro estudo da Datincorp.

"Há um desgaste", explica à AFP o analista e professor universitário Francisco González. "Acontece com qualquer movimento com mais de 20 anos no poder", mas Maduro busca "retomar projetos sociais que talvez em outro momento tivessem muita efetividade e neste momento nem tanto".

Em campanha, o chavismo é disciplinado, "se une em torno de um núcleo que neste momento é Nicolás Maduro", afirma o especialista.

- E María Corina Machado? -
"Serenidade e firmeza", pediu, por sua vez, María Corina Machado. "Tudo o que vai acontecer na Venezuela destas próximas décadas vai depender do que fizermos nestes próximos dias".

Sua equipe descarta, por enquanto, que ela vá desistir de sua pretensão, embora na prática não possa se inscrever.

A controladoria a inabilitou por suspeita de corrupção e apoiar sanções econômicas contra a Venezuela. A Corte Suprema, de viés governista, ratificou a sanção e o chavismo virou a página: "coisa julgada", sustenta.

A leitura da oposição é que María Corina foi tirada do caminho pelo risco que representava para a reeleição de Maduro.

"Nós temos os eleitores", desafiou. De fato, segundo a ORC, ela venceria com quase 70% dos votos, e um candidato indicado por ela também venceria com a mesma margem.

"O poder de transferência está intacto", explica Oswaldo Ramírez, diretor da empresa. "Vemos que o eleitor já tem praticamente pré-fixado seu voto na mente".

Outros dirigentes afastados da oposição tradicional - tachados de "colaboracionistas" - anunciaram a intenção de disputar as presidenciais, o que analistas afirmam que visa a dividir o voto antichavista.

"Estamos unidos e vamos vencer com María Corina Machado", escreveu a Plataforma Unitária, que pode inscrever um nome e mudá-lo no futuro caso habilitem a candidata.

O risco está em que qualquer nome escolhido possa acabar como ela: inabilitado.