Aliados de Tarcísio veem impulso de Bolsonaro e estratégia de Valdemar em assédio sobre governador
Ida de ex-ministro para o PL é desejo do ex-presidente Jair Bolsonaro, mas pode criar instabilidade no governo
Agência O Globo -
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Aliados de Tarcísio de Freitas vão da irritação ao deboche sobre a tentativa do ex-presidente Jair Bolsonaro de tentar levar o governador de São Paulo, filiado ao Republicanos, para o PL. O desejo pela migração partidária de Tarcísio, segundo a colunista Bela Megale, vem de Bolsonaro. O ex-presidente chegou a ser aconselhado a dar a notícia sobre a filiação do governador durante a manifestação em São Paulo, na semana passada, mas ele não quis mudar o foco do ato, que tinha o objetivo de defendê-lo.
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Uma pessoa próxima a Tarcísio definiu a iniciativa do ex-presidente como "mais uma bolsonarice", referindo-se à atitude tomada de impulso, sem ter feito antes uma articulação nos bastidores.
Esse aliado avalia que Valdemar Costa Neto, presidente do PL, se aproveita do gesto de Bolsonaro com três objetivos em vista. Em primeiro lugar, uma oportunidade para tirar candidatos da órbita do Republicanos e atraí-los ao seu partido, visando as eleições municipais.
— Estamos às vésperas da janela partidária. Se fosse no 6 de abril isso teria outro efeito — declarou o aliado em anonimato, referindo-se ao fim do período em que vereadores podem trocar de legenda sem perder o mandato.
Em seguida, tirar Tarcísio do Republicanos enfraqueceria os planos do presidente da sigla, Marcos Pereira (SP), de se eleger na Presidência da Câmara dos Deputados em 2025. Por fim, colocaria o mais bem cotado herdeiro do bolsonarismo no PL para disputar a Presidência da República no ano seguinte.
Um secretário de Tarcísio diz que o governador e o ex-presidente têm conversado sobre a possibilidade de mudar de partido e que é algo que pode acontecer "lá na frente". Mas que hoje essa opção não está na mesa. Existe também a avaliação de que quadros do PL cientes das conversas entre os dois têm aproveitado a informação para promover o partido.
Eleitos a cargos majoritários (prefeitos, governadores, senadores e presidentes) não precisam de janela partidária para migrar de partido sem perder o mandato.
Críticas no Republicanos
O assédio de Bolsonaro ao seu ex-ministro da Infraestrutura caiu mal no Republicanos. Nos bastidores, seus dirigentes veem o episódio como mais um numa lista de atritos da sigla com o entorno de Bolsonaro.
A cúpula do partido defende que tirar Tarcísio do partido deve criar uma instabilidade para o governo de São Paulo, em que se acredita ter um equilíbrio de forças entre as legendas contempladas no secretariado.
Nesta terça-feira, ao ser questionado sobre o assunto, Tarcísio seguiu na linha de seus correligionários e disse à rádio CBN não existir nada concreto sobre o assunto:
— Todos os pedidos do Bolsonaro tocam lá no fundo do meu coração. Agora, o que a gente tem que entender é que, neste momento, os partidos estão muito unidos. Os partidos que compõem a nossa base, o PL, o Republicanos, o PP, o MDB, o PSD, considero um grande grupo, um time só. Isso é o mais importante agora. Neste momento não tem movimento nenhum a ser feito, pode ser que lá na frente a gente avalie — declarou.
Dirigentes republicanos costumam citar uma série de episódios para mostrar como Bolsonaro tem minado a confiança de partidos que poderiam estar com ele.
Em agosto do ano passado, Eduardo Bolsonaro afirmou que o Republicanos é um "partido de esquerda". O ex-presidente também teria vetado alianças do PL com candidatos do PSD, principal força no governo Tarcísio, nas eleições, e trabalhado contra a candidatura de Marcos Pereira para a sucessão de Arthur Lira (PP-AL) na Câmara.
Não passou despercebido no Republicanos o vídeo publicado pelo deputado Antônio Carlos Rodrigues, homem de confiança de Valdemar, dando as "boas-vindas" de Tarcísio ao PL. O gesto endossa a percepção de que o cacique esteja tirando proveito da repercussão.
Embora tenha feito parte da coalizão que tentava reeleger Bolsonaro na Presidência da República em 2022, o Republicanos tem desconfiança crescente com o comportamento do ex-presidente. Isso, segundo dirigentes, pode atrapalhar os planos futuros do bolsonarismo para construir uma via para 2026.