América Latina

Inabilitada, principal opositora venezuelana rebate Lula: 'Maduro tem medo de me confrontar'

Órgão eleitoral decidiu que data do pleito para 28 de julho, dia do aniversário de Hugo Chávez, mas principal rival de Maduro está inabilitada

María Corina MAchado, principal opositora de Maduro - Federico Parra/AFP

Principal opositora do presidente venezuelano, Nicolás Maduro, e impedida de concorrer às eleições de julho, María Corina Machado rebateu as declarações de Lula nesta quarta-feira e disse que o presidente brasileiro "está validando os abusos de um autocrata que viola a Constituição". Mais cedo, Lula lançou colocou em dúvida o comportamento da oposição no país, fazendo um paralelo com Jair Bolsonaro, sem citar nem ele nem a opositora venezuelana diretamente.

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Nas declarações, Lula citou as eleições de 2018, quando foi impedido de disputar o Palácio do Planalto — ele estava preso em decorrência da Operação Lava-Jato, e afirmou que "ao invés de fica chorando", indicou outro candidato para a disputa, neste caso, Fernando Haddad, atual ministro da Fazenda, que foi derrotado por Jair Bolsonaro.

“Eu chorando, presidente Lula? Você está dizendo isso porque sou mulher? Você não me conhece. Luto para fazer valer o direito de milhões de venezuelanos que votaram em mim nas primárias e dos milhões que têm o direito de fazê-lo numa eleição presidencial livre em que derrotarei Maduro", escreveu, nas redes sociais.

Questionado se é possível ter uma eleição justa no atual contexto, o chefe de Estado brasileiro afirmou que olheiros do mundo inteiro foram convidados a acompanhar o pleito. Lula fez a ressalva, porém, de que, mesmo com a presença dos olheiros, se a oposição venezuelana tiver o mesmo comportamento da brasileira, "nada vale".

— Sabe que eu fiquei feliz que foi marcada eleição na Venezuela. O que disseram na reunião que tive na Guiana é que vão convidar olheiros do mundo inteiro. Mas se o candidato da oposição tiver o mesmo comportamento da oposição daqui, nada vale.

Lula também negou que tenha feito um paralelo entre o contexto brasileiro e o venezuelano:

— Eu não fiz uma ligação entre a situação da Venezuela e do Brasil. Eu só disse a vocês que houve aqui nesse país, eu fui impedido de concorrer às eleições de 2018. Ao invés de ficar chorando, eu indiquei um outro candidato que disputou as eleições.

Em janeiro, o tribunal constitucional, aliado ao chavismo, decidiu que María Corina, de direita, e vencedora das primárias opositoras, permaneceria desqualificada "por estar envolvida na trama de corrupção orquestrada" pelo ex-líder da oposição Juan Guaidó, alegando que a "conspiração" havia levado a um "bloqueio criminoso da República Bolivariana da Venezuela, bem como à desavergonhada desapropriação de empresas e riquezas do povo venezuelano no exterior, com a cumplicidade de governos corruptos".

O tribunal também confirmou a inelegibilidade de um possível substituto da oposição, o duas vezes candidato presidencial Henrique Capriles. Após a decisão, María Corina Machado acusou Maduro e seu "sistema criminoso" de buscar "eleições fraudulentas".

A realização de eleições livres, justas e transparentes ainda este ano fazia parte do acordo firmado em Barbados, no fim do ano passado, entre governo e oposição com a presença de observadores internacionais. Uma das cláusulas previstas no documento exigia que os candidatos contrários a Maduro tivessem permissão para recorrer de decisões judiciais que os desqualificassem para o cargo.

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— Eu espero que as eleições sejam as mais democráticas possíveis, e segundo o presidente (Nicolás) Maduro me disse lá em São Vicente e Granadinas, ele vai convocar todos os olheiros do mundo que quiserem assistir o processo eleitoral na Venezuela. Além disso, eu só posso esperar que haja as eleições para a gente saber se foram democráticas ou não. Vocês sabem que aqui no Brasil, até hoje, um presidente que perdeu as eleições não aceita o resultado das eleições.

De acordo com o Conselho Nacional Eleitoral (CNE), o período para inscrições de candidato será de 21 a 25 de março, e a campanha eleitoral está marcada para 4 a 25 de julho. A expectativa é de que o atual presidente, Nicolás Maduro, se candidate e que María Corina Machado continue impedida de concorrer.