Brasil

Queda de juros ainda não aumentou percentual de financiamento de veículos zero, diz Anfavea

Atualmente 70% dos carros zero são vendidos à vista e 30% financiados, mesmo patamar do ano passado

Concessionária - Marcelo Camargo/Agência Brasil

Mesmo com o movimento de queda de juros no país, as vendas de veículos financiados no Brasil ainda não refletiram esse movimento. Atualmente, pouco mais de 30% dos carros zero do país são comprados em prestações, segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). Mesmo com o crescimento de vendas de 19,8% no primeiro bimestre deste ano em relação ao mesmo período de 2023, a maior parte dos carros está sendo comprada à vista.

O presidente da Anfavea, Márcio de Lima Leite, disse que o ciclo de queda de juros iniciado pelo Banco Central, ano passado, ainda não se refletiu no aumento dos financiamentos. Segundo ele, o juro médio anual antes da queda da Selic era de 29% a 30%.

Depois de ter começado 2023 em 13,75%, o patamar mais elevado desde dezembro de 2016, a Selic encerrou 2023 em 11,75% e atualmente está em 11,25% ao ano, menor nível desde março de 2022, quando estava em 10,75% ao ano.

"Com a queda da Selic, o custo de financiamento anual de um veículos zero está em 24,5%, 24% ao ano. A redução dos juros juros ainda não se materializou em aumento dos financiamentos, já que o patamar permance e em 30%. Acredito que quando o Marco das Garantias (lei que permite a retomada do bem em caso de inadimplência) for totalmente implementado, haverá sinalização mais positiva. Isso deve acontecer no segundo semestre" dissem Lima Leite durante apresentação dos números do setor em fevereiro.

Um estudo da Anfavea vêm potencial de queda dos juros do financiamento entre 15% e 20% este ano.

Investimento recorde
O presidente da Anfavea confirmou o número antecipado pelo GLOBO que os investimentos ativos das montadoras no país chegam atualmente a R$ 117 bilhões, até 2030, no maior ciclo de aportes de recursos feitos no país. A Anfavea avalia que esse número ainda pode crescer, já que novos investimentos devem ser anunciados, inclusive por fornecedoras de peças.

Ele disse que o setor está conversando com o Senado para que o projeto de lei do Mover, programa federal que incentiva a produção de veículos menos poluentes, além de exigir pesquisa e desenvolvimento de tecnologia local, seja aprovado. A Medida Provisória que instituiu o programa caduca em maio.

— Estivemos com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, mostrando a importância do Mover para o setor, trazendo previsibilidade às fabricantes para investir — disse Lima Leite.

O programa prevê mais de R$ 19 bilhões em créditos tributários às empresas que aderirem.

Novas tecnologias
O presidente da Anfavea lembrou que os novos investimentos vão impactar o aumento do emprego no setor, que hoje tem 1,2 milhão de trabalhadores, mas ele não estimou o número de vagas que podem ser abertas. Ele disse que os novos investimentos vão trazer ao país novas tecnologias para a fabricação de veículos híbridos e elétricos puros, mas não devem se refletir no aumento da capacidade de produção. O parque industrial automotivo tem capacidade de fabricar 4,5 milhões de unidades/ano, mas atualmente produz cerca de 2,5 milhões.

— Não acredito em aumento da capacidade de produção. Hoje, podemos fabricar 4,5 milhões de veículos/ano, e estamos fabricando 2,5 milhões, podendo chegar a 3 milhões nos próximos três anos. Esses investimentos em novas tecnologias vão permitir que o país possa fabricar seus primeiros carros elétricos puros em dois anos — afirmou.

O presidente da Anfavea afirmou que no atual cenário global de busca pela descarbonização, as montadoras passaram a observar as características regionais dos países. No Brasil, por exemplo, o carro híbrido flex (movido a etanol ou gasolina) é apontado pelos especialistas como um estágio anterior à eletrificação total.

— As características regionais de cada país precisam ser respeitadas. Hoje, há um foco maior das montadoras na regionalização — disse.

Em fevereiro sendo um mês mais curto, as vendas de veículos zero cresceram no período, assim como as exportações e a produção de veículos, segundo a Anfavea. As vendas bateram em 165,2 mil unidades, no mês passado, alta de 27,1% na comparação com o mesmo mês de 2023. Em relação a janeiro, fevereiro mostrou crescimento de 2,2%.

Já a produção registrou no mês passado crescimento de 17,4% frente a fevereiro de 2023. No total, 189,7 mil unidades foram fabricados no país, incluindo carros de passeio, utilitários leves, caminhões e ônibus. Frente a janeiro de 2024, esse número representa um aumento de 24,3%. Esse número leva para 342,2 mil veículos o total produzido no primeiro bimestre, uma alta de 8,9% em relação ao mesmo período de 2023. A previsão da Anfavea é de crescimento de 6,2% da produção em 2024.