Divisão desigual de trabalho em casa dificulta inserção de mulheres no mercado de trabalho
São 21,3 horas de trabalho semanais da mulher contra 11,1 dos homens
É uma estatística que se mexe pouco. A divisão sexual do trabalho doméstico e do cuidado com os filhos se mantém desde os anos 1990. De lá para cá, os homens aumentaram de 10 horas para 11,1 horas o tempo dedicado à casa. Com a entrada mais intensa das mulheres no mercado de trabalho, essa jornada feminina diminuiu de 29 horas nos anos 2000 para 21,3 horas agora.
Essa sobrecarga dificulta a entrada e a permanência da mulher no mercado de trabalho. Sobra menos tempo para se dedicar à carreira.
— É um cenário que não se modifica praticamente. Houve o processo de transição demográfica, filhos vão crescendo, estão mais independentes, mas os cuidados, as tarefas, a reprodução da vida continuam a cargo da mulher. E a população está envelhecendo, mas não necessariamente é um envelhecimento saudável — afirma Cristiane Soares, pesquisadora das questões de gênero.
Por isso, a jornada remunerada semanal da mulher é menor que as dos homens, por ter que conciliar com o cuidado dos filhos e da casa: 27% dos homens trabalham mais de 44 horas, enquanto entre as mulheres, essa parcela cai para 19,6%, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, do IBGE.
— Começou o ano letivo, e vem o mesmo problema de falta de creche, qual o horário que a creche oferece. Se a mulher conseguir se inserir no setor de serviços, das 8h às 18h, onde encontrar creches que funcionem antes disso? — observa Cristiane.
Essa situação ficou mais evidente depois da pandemia. As mulheres estão demorando mais a voltar para o mercado de trabalho, lembra Ana Diniz, pesquisadora do Insper. Ela ressalta que as mulheres não cuidam só das crianças, tomam conta também dos idosos, doentes e das pessoas com deficiência:
— Esse movimento não é exclusivo do Brasil, de ter que estruturar uma política nacional de cuidados. Pela primeira vez, essa questão está sendo tratada por ela mesma, e não atrelada a outras políticas.
A maneira que Tatiana Klein, diretora associada do Departamento Jurídico da farmacêutica Eli Lilly, encontrou para conseguir conciliar família e carreira foi estabelecer limites. Estar em casa para jantar com os filhos, Isabela, de 4 anos, e Gabriel, de 1 ano, e levá-los para escola.
— Estar disponível 100% do tempo para o trabalho não vai trazer produtividade. Vira uma bola de neve. Mas é um desafio diário, tem muita demanda— diz.
Para ela, o modelo híbrido é a melhor opção, principalmente por causa do tempo de deslocamento em São Paulo.
— Começo a trabalhar até mais cedo — destaca.