8 de março: mulheres ocupam menos da metade dos cargos de confiança no governo Lula
Patamar é o mesmo da gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro
Apesar de a representatividade feminina ser tratada como prioridade nos discursos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, as mulheres ainda ocupam menos da metade dos postos em ministérios do governo petista. Levantamento feito pelo Globo com base em dados públicos mostra que 45% dos cargos de confiança das pastas são ocupados por mulheres, mesmo patamar da gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Em janeiro de 2024, último mês com dados disponíveis, as mulheres ocupavam 8.394 cargos dos 18.602. Os valores foram comparados com o último mês da gestão do ex-presidente, em dezembro de 2022, quando as mulheres eram 5.784 em um total de 12.575 funcionários.
Levando-se em consideração todas as estruturas do governo federal, não apenas os ministérios, o patamar de representatividade de mulheres segue o mesmo: 41%. Isso significa que elas ocupam apenas 15.654 dos 38.078 cargos de confiança. No governo Bolsonaro, as mulheres estavam em 40% desses cargos.
Demissão de mulheres
O primeiro ano do novo mandato de Lula também foi marcado pela demissão de três mulheres do primeiro escalão do governo. Rita Serrano (Caixa Econômica Federal), Daniela Carneiro (Ministério do Turismo) e Ana Moser (Ministério do Esporte) perderam os postos de comando para dar espaço para representantes do Centrão, todos homens.
Ao Globo, Serrano destacou a dificuldade de encontrar mulheres em cargos mais altos e afirmou que o cenário se repete no governo federal.
— Do início do governo até hoje, a presença feminina diminuiu. Saíram ministras, secretárias executivas, e eu — afirmou Serrano, completando: — Digo sempre que para ser mulher em espaços de poder precisa ser muito teimosa, mas muito mesmo.
Na Caixa Econômica Federal, Serrano também destaca retrocesso. Das seis mulheres que ocupavam cargos nas 12 vice-presidências, apenas duas seguiram no posto depois da troca no comando.
Serrano foi demitida em outubro para dar espaço a Carlos Antônio Vieira Fernandes, indicado pelo presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL).
— Ser presidenta da Caixa me levou a sofrer pressões políticas e midiáticas muito acima da média de quando os cargos são de homens. A visão predominante e misógina, é de que onde tem mulher, fica mais fácil substituir, derrubar. Daí a exposição agressiva com o objetivo de fragilizar, diminuir a resistência. Passei por isso por 5 meses. Antes de minha saída ser efetivada —afirmou ao GLOBO.
Lula também já sofreu críticas por ter indicado dois homens para as vagas no Supremo Tribunal Federal. Após ter escolhido o advogado Cristiano Zanin para uma das cadeiras, o presidente decidiu colocar seu ex-ministro da Justiça Flávio Dino na vaga aberta com a aposentadoria de Rosa Weber na Corte.
Em meio às críticas, Lula chegou a afirmar que o critério de escolha não passaria pelo gênero e cor dos candidatos.
A primeira-dama Janja da Silva, uma das principais vozes do governo na defesa dos direitos das mulheres, chegou a criticar a falta de mulheres na Suprema Corte. Hoje, há apenas a ministra Cármen Lúcia. Janja afirmou ainda que Lula tinha "muito o que aprender" com as mulheres.
— Toda vez que eu chego lá num evento no Supremo, eu vou direto para ela. Porque eu sempre entro naquela sala, e é uma sala muito masculina. Aquilo me incomoda muito, e aí eu sempre busco a ministra Cármen lá. Eu espero, realmente, é um espaço muito difícil, mas eu espero que ainda esse espaço possa ser de mais mulheres – afirmou.