IGREJA

"Oremos todes": missas católicas pela inclusão LGBTQIA+ na Cidade do México

A igreja contava com um coral de jovens LGBTQIA+ que haviam deixado o seminário

"Oremos todos, todas, todes", pede o padre jesuíta Gonzalo Rosas, que celebra missas pela inclusão de pessoas LGBTQIA+ - Carl de Souza/AFP

"Oremos todos, todas, todes", pede o padre jesuíta Gonzalo Rosas, que celebra missas pela inclusão de pessoas LGBTQIA+ na Cidade do México, agora com uma motivação adicional: a aprovação do papa para abençoar casais do mesmo sexo.

A citação ocorre na Sagrada Família, uma nobre paróquia do bairro Roma, onde o padre Gonzalo trabalha há 11 anos e realiza missas dominicais com a comunidade LGBTQIA+ uma vez por mês, repetidas em três igrejas da capital.

Ao tomar a palavra durante o sermão, Víctor Rodríguez afirma que ele e muitos outros participam porque se sentem "excluídos", como quando foi pressionado na adolescência a deixar o seminário por sua homossexualidade.

Em algumas ocasiões, Rosas se dirige aos fiéis com linguagem inclusiva.

Milagre
Ao chegar ao templo, em 2013, a missão do padre Gonzalo foi conhecer a comunidade. Ele descobriu "rostos novos".

"Encontrei muita diversidade sexual, busquei as organizações, os jovens, para dialogar. Eles diziam 'padre, a igreja nos exclui' (...). Eu os convidei para ver que caminho poderíamos percorrer juntos e surgiu a ideia de uma missa", lembra o padre de 68 anos, companheiro de ordem do papa Francisco.

A igreja contava com um coral de jovens LGBTQIA+ que haviam deixado o seminário e se reuniam em uma casa para rezar, lembra o responsável pelo grupo, Eduardo Andrade.

Com a chegada do padre Gonzalo, eles viram "uma possibilidade de dar visibilidade à sua orientação sexual" e formalizar as missas, acrescenta Andrade, do Coletivo Teresa, uma organização teológica voltada para pessoas LGBTQIA+.

O padre conta que seus superiores autorizaram as celebrações com a condição de que não houvesse debates políticos.

Incomodados, alguns fiéis se afastaram, diz Andrade, descrevendo essas missas como experiências "únicas" na América Latina.

"Há algumas comunidades que fazem missas, mas são uma vez por mês ou a cada dois meses e são a portas fechadas, ou se são abertas, não se menciona a presença da comunidade LGBTQIA+", assegura ele, que também é membro da Rede Global de Católicos Arco-íris.

Em dezembro passado, o papa autorizou a bênção a casais do mesmo sexo, esclarecendo que a consagração é feita para as pessoas e não para união, fora dos rituais litúrgicos.

 

No mês seguinte, após a missa, foram dadas as duas primeiras bençãos à Sagrada Família.

A Cidade do México foi precursora da América Latina a aprovar o casamento igualitário, em 2010. Doze anos depois, a Suprema Corte legalizou no restante do país, onde 72% dos 126 milhões de habitantes se declaram católicos.

No âmbito da adoção por casais do mesmo sexo, um terço da população se mostra a favor, inclusive o padre Gonzalo, que batizou dois bebês com duas mães.

Reconciliação
Em um bairro vizinho, Vincent Schwahn, um padre anglicano aposentado e casado com um mexicano pela lei e igreja dos Estados Unidos, reconhece as missas como um passo "em dois mil anos de homofobia".

Diretor da Casa Koinonia, uma organização religiosa voltada para a comunidade LGBTQIA+, Schwahn considera que "todas as paróquias devem ser inclusivas".

Embora a maioria dos participantes seja da comunidade LGBTQIA+, seus amigos ou familiares, também há aqueles que vão por conta própria.

"É isso que temos que aprender, todos somos seres humanos, todos nós temos que nos respeitar", expressa Irma Juárez, de 77 anos.