ESTATAL

Petrobras perde mais de R$ 50 bilhões em valor de mercado, analistas explicam os motivos

Com pagamento de dividendos abaixo do esperado, ações chegaram a cair 13% durante o pregão

Petrobrás - Arquivo/Agência Brasil

A decisão da Petrobras de não pagar dividendos extraordinários foi recebida com forte frustração pelos investidores nesta sexta-feira (8). As ações da estatal chegaram a cair 13% durante o pregão e a companhia perdeu R$ 52,28 bilhões em valor de mercado, atingindo o menor valor em três meses.

Os papéis ordinários (PETR3) da petroleira encerraram o dia em baixa de 10,16% e os preferenciais (PETR4) de 10,25%, a maior queda desde o dia 22 de fevereiro de 2021, quando as ações da Petrobras caíram 20%.

Na época, investidores estavam receosos com a indicação de Joaquim Silva e Luna para a presidência da empresa. Nos Estados Unidos, os ADRs, recibos de ações da empresa, despencaram 11,50%.

— É uma questão de alinhamento de expectativas. Os dividendos anunciados estão em linha com o que outras empresas pagam, mas como antes estava muito acima da média, era muito atrativo para o mercado. Então, os investidores começam a reprecificar a ação e rever suas posições — explica Sidney Lima, analista da Ouro Preto Investimentos. O Bradesco BBI, o Bank of America e o Santander diminuíram a recomendação para as ações da Petrobras de compra para neutro.

O resultado financeiro da Petrobras no ano passado veio levemente abaixo do esperado pelos investidores, que já projetavam um lucro menor em relação a 2022 por conta da baixa do preço médio do dólar e do petróleo no ano passado. A petroleira registrou um lucro líquido de R$ 124,6 bilhões em 2023, ante estimativa de R$ 127 bilhões segundo analistas ouvidos pela Bloomberg e representando uma queda de 33,8% em relação ao ano anterior.

A Petrobras anunciou R$ 14,2 bilhões em pagamento de dividendos referentes ao quarto trimestre de 2023, totalizando R$ 72,4 bilhões referentes ao exercício de 2023. Segundo fontes, parte da empresa queria que metade dos dividendos extraordinários fosse para a reserva de caixa da companhia.

— A falta de clareza na estratégia de alocação de capital e a mudança na política de dividendos levantam questões sobre a governança corporativa da Petrobras e sua capacidade de manter a confiança dos investidores a longo prazo — diz Fabrício Gonçalvez, CEO da Box Asset Management.

Para Pedro Marcatto, operador de renda variável da B.Side Investimentos, os dividendos acima da média são o principal fator de atratividade nas ações da Petrobras. Sem os dividendos extraordinários, no entanto, os papéis podem se tornar pouco atrativos para o investidor:

— Vemos o investidor migrando para outras petroleiras que nem pagam tantos dividendos, mas são mais voltadas para crescimento, o que é mais interessante para o mercado. O maior risco da Petrobras hoje está em torno da governança, com o histórico de intervencionismo e a narrativa de usar o caixa da empresa para subsidiar outros setores — ele diz.

Nesta sexta, as ações da PetroRio, PetroRecôncavo e 3R Petroleum estiveram entre as maiores altas do Ibovespa, em um movimento de reposicionamento dos investidores em busca de menor risco no setor.

— A Petrobras tem pontos de qualidade em relação a custos operacionais e a qualidade do refino, mas não tem muito para onde expandir, não tem o mesmo potencial de crescimento que uma PetroRio ou PetroRecôncavo, por exemplo — opina Marcatto.

Apesar de o mercado enxergar a Petrobras como uma empresa robusta e não ter preocupações com seu nível de alavancagem, Bruno Komura, analista da Potenza Capital, acredita que os investidores podem seguir se desfazendo dos papéis nos próximos meses, levando o valor das ações a cair ainda mais.

— Quando consideramos os dividendos extraordinários, o dividend yield (indicador que mede o rendimento de uma ação apenas com o pagamento de dividendos) da Petrobras fica em 15% ou mais, o que faz a estatal se destacar em relação a outras petroleiras. Quando tiramos isso da conta, o dividend yield fica em torno de 9%, próximo ao de concorrentes. Isso faz as ações da Petrobras perderem atratividade, somado ao fato que as outras empresas do mesmo setor não sofrem com ruídos políticos por não serem estatais — ele afirma.