Bitcoin bate cotação inédita: US$ 71 mil. Halving, ETF, entenda os motivos para a alta da moeda
Redução de ganhos de 'mineradores' para criação da moeda digital vai limitar a oferta da criptomoeda. Analistas esperam salto no valor da divisa virtual, mas r
A cotação do bitcoin bateu novo recorde na manhã desta segunda-feira (11): inéditos US$ 71 mil. É a sexta alta seguida da moeda, que está num rali impulsionado principalmente por dois motivos: os ETFs e o halving.
Mas, afinal, o que é o halving? E por que os novos fundos ETFs aprovados nos EUA estão ajudando a levar a cotação da moeda virtual às alturas?
O que é o halving?
Faltam menos de dois meses para o próximo halving, um evento que tem forte influência nas cotações do bitcoin.
Quando o bitcoin foi criado, essa critpomoeda foi programada para totalizar 21 milhões de unidades. Atualmente, há cerca de 19,5 milhões, e o último bitcoin deve ser gerado em 2140.
Cada um deles nasce da chamada “mineração”: computadores resolvem equações matemáticas complexas e recebem novos bitcoins como recompensa. A cada quatro anos, esse pagamento cai pela metade — e a isso se dá o nome de halving. O próximo acontece em abril.
Limite à oferta
O halving é uma forma de a mineração de bitcoins ir diminuindo aos poucos, limitando a oferta de moedas digitais e favorecendo sua valorização. Vai acontecer num momento em que a demanda por bitcoin está em forte alta.
Desde o início do ano, com oficialização de Exchange Traded Funds (ETFs) de bitcoins pela SEC, órgão regulador do mercado de capitais nos EUA, o bitcoin não para de subir.
Os ETFs funcionam como fundos negociados em Bolsa que tentam acompanhar o valor da criptomoeda, e já existem no Brasil desde 2021. Permitem ao investidor aplicar em bitcoins sem ter de comprar uma fração delas diretamente. Analistas apontam que o avanço da regulamentação no mundo tem atraído investidores institucionais para o bitcoin, promovendo a alta.
Otimismo exige cautela
Atualmente, os mineradores recebem 6,25 bitcoins em cada operação. Após o halving de 2024, a recompensa cairá para 3,125 bitcoins. Com menor oferta da moeda, a tendência é que seu preço suba ainda mais, mas isso não é uma certeza, alerta Bernardo Srur:
"O bitcoin historicamente passou por ciclos de mercado, e os halvings muitas vezes coincidem com períodos de alta. Mas outros fatores externos e eventos macroeconômicos também desempenham papel significativo nos preços. O mercado de criptomoedas é complexo. O impacto específico de cada halving pode variar, e a resposta do mercado nem sempre é previsível."
José Artur Ribeiro, CEO da Coinext, diz que o bitcoin tem ficado menos suscetível a especulações e vem ganhando maior influência da política monetária dos países. Para ele, assim como as ações se beneficiam de juros baixos, o bitcoin tem mais chance de se valorizar com a remuneração da renda fixa em queda, levando investidores a mais ativos de risco.
A expectativa de que o Federal Reserve ( banco central americano) comece a cortar juros em junho, como o Banco Central do Brasil já está fazendo, favorece a volta do interesse pelo bitcoin,após um longo inverno no ano passado.
Pensando no longo prazo, o escritor Ian Ulian, de 37 anos, começou a aplicar em criptoativos em 2017. Fazendo aportes regulares, investiu ao todo R$ 200 mil e diz ter conseguido ganhos expressivos, valendo-se da intensa volatilidade.
"Tenho contas em cinco corretoras de criptoativos e faço operações todos os dias. Tento comprar barato num lugar e vender mais caro em outro, mas não dependo dessa quantia. Também tenho investimentos em Tesouro Direto, CDB, fundos imobiliários, ações e ativos internacionais."
Mas não é todo mundo que tem uma folga assim para correr riscos. Beto Fernandes, analista da Foxbit, avalia que a perspectiva parece otimista no longo termo, especialmente considerando o histórico de desempenho do bitcoin após os halvings anteriores.
Bitcoin em números
No último, em 2020, a moeda se valorizou quase 600%, seguido de um movimento de correção, que geralmente acontece após o excesso de otimismo. Por isso, ele recomenda cautela:
"O mercado de bitcoin está experimentando um período intenso, com um fluxo constante de investimentos via ETFs de bitcoin à vista, sugerindo uma base sólida que não aponta diretamente para uma queda nos preços."
Ele continua:
"No entanto, o mercado de derivativos está aquecido, com altas taxas de financiamento indicando especulação predominante em posições de compra, o que pode levar a um mercado vulnerável a volatilidades devido a alavancagens excessivas e possíveis liquidações em cascata."
Theodoro Fleury, gestor e diretor de investimentos da QR Asset, diz que a maioria dos investidores em criptoativos e em ETFs relacionados no país eram pessoas físicas.
Nova regulamentação nos EUA
Desde novembro, porém, quando começaram os rumores sobre a aprovação desse tipo de investimento nos Estados Unidos, a demanda de investidores institucionais começou a aumentar aqui.
Em janeiro, quando ocorreu efetivamente a autorização da SEC, o ETF de bitcoin que a gestora administra, o QBTC11, somou R$ 43 milhões em aportes. Nos dois primeiros meses do ano passado, período em que ocorreu a falência da FTX, o QBTC11 registrou saída líquida de R$ 2 milhões.
Apesar da recente valorização do Bitcoin relacionada à nova regulamentação americana, Fleury avalia que há espaço para que a criptomoeda suba ainda mais com o halving, já que a média de captação líquida dos ETFs de bitcoin americanos tem sido alta, de US$ 249 milhões por dia. Isso não significa, porém, que não devam acontecer correções no preço, ele diz:
— É um mercado extremamente volátil. Para quem pensa em um investimento de anos, ainda dá tempo de entrar. Para quem pensa em dias ou meses, é uma loteria.
Para Caroline Nunes, sócia-fundadora da Infratoken, a popularização dos ETFs de bitcoins é apenas o primeiro passo para a construção de um mercado de criptomoedas mais sólido. Ela acredita que, ao longo de 2024, o setor vai atravessar um período de mudanças regulatórias substanciais no mundo todo, inclusive no Brasil.
O Banco Central tem o objetivo de concluir regulação do mercado de criptomoedas até o meio do ano para alinhar os padrões de segurança dos ativos virtuais aos dos ativos financeiros tradicionais. Nunes acredita que a evolução é fundamental para fortalecer a confiança dos investidores e impulsionar os investimentos no setor:
— É vital, porém, que a regulação encontre um equilíbrio e não tire o que há de mais especial quando o assunto é criptoativos, a descentralização.
Entenda a moeda digital
O que o bitcoin?
É a mais utilizada das moedas digitais transacionadas por meio de criptografia, as criptomoedas
É virtual. Não é emitida pelo banco central de um país ou tem representação em moedas ou cédulas
As criptomoedas surgiram após a crise global de 2008. O bitcoin foi criado por um programador cuja identidade nunca foi revelada
O que garante o seu valor?
Sua autenticidade é assegurada por uma cadeia de blocos de instruções criptografadas criadas incessante e automaticamente por milhares de computadores ao redor do mundo, o que impede adulterações. É o chamado de blockchain
O valor do bitcoin varia de acordo com oferta e procura no mercado de criptoativos
Como obter bitcoins?
Receber de alguém como pagamento
Comprar em uma exchange, as corretoras de criptomoedas
‘Minerar’ novas bitcoins
Como é a ‘mineração’ de bitcoins?
O algoritmo do bitcoin propõe problemas matemáticos à rede global de computadores dedicada à mineração de criptomoedas
A máquina que primeiro desvenda a sequência numérica de uma transação ganha um valor em novos bitcoins, gerados nesse processo
Em tese, qualquer computador pode “minerar” bitcoins, mas isso requer máquinas com alto poder computacional e elevado consumo de energia.
Há empresas especializadas nisso, que buscam regiões com energia barata para instalar datacenters
O que é ‘halving’?
O bitcoin foi programado para, a cada quatro anos, reduzir pela metade a recompensa dos mineradores, até que o valor chegue a zero e acabe a geração de novas moedas.
Neste ano será feito o 4º halving da história do bitcoin.