GUERRA NO ORIENTE MÉDIO

Guerra em Gaza não dá sinais de trégua no primeiro dia do Ramadã

Israel voltou a bombardear vários pontos do território palestino, em particular a Cidade de Gaza, no norte, e Khan Yunis e Rafah, no sul

Explosão em Gaza - Jack Guez/ AFP

A guerra em Gaza entre Israel e o Hamas não dá sinais de diminuir nesta segunda-feira (11), no início do Ramadã, mês sagrado dos muçulmanos, em plena mobilização internacional para enviar ajuda humanitária a uma população à beira da fome.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, pediu para "silenciar as armas" em Gaza e libertar os reféns mantidos em cativeiro desde o início da guerra, em 7 de outubro, "para honrar o espírito do Ramadã".

Israel voltou a bombardear vários pontos do território palestino, segundo as autoridades do movimento islamista palestino Hamas, em particular a Cidade de Gaza, no norte, Khan Yunis e Rafah, no sul.

"O início do Ramadã está coberto de escuridão, com gosto de sangue e mau cheiro por toda parte", disse à AFP Awni al Kayyal, um deslocado de 50 anos em Rafah.

"Acordei na minha barraca e chorei pelo nosso destino. De repente, ouvi explosões e bombardeios. Vi ambulâncias levando mortos e feridos", disse ele, acrescentando que sua família "não terá comida na mesa" depois da quebra do jejum na noite de segunda-feira.

Navio com 200 toneladas de suprimentos 
Para tentar aliviar a crise humanitária em Gaza, um primeiro navio fretado pela ONG espanhola Open Arms e carregado com 200 toneladas de suprimentos, está pronto para zarpar de Chipre para Gaza, no âmbito de um corredor marítimo anunciado pela União Europeia.

O navio aguarda a autorização das autoridades cipriotas para zarpar do porto mediterrâneo de Larnaca, a 370 quilômetros de Gaza.

Alguns habitantes se reuniram em uma praia ao sul da Cidade de Gaza no domingo na esperança de ver o navio chegar. "Disseram que chegaria um navio carregado de ajuda e que as pessoas poderiam comer", disse um deles, Mohamed Abu Baid, à AFP. "Só Deus sabe. Não acreditaremos até vermos", acrescentou.

Ao mesmo tempo, um navio militar americano saiu dos Estados Unidos com o equipamento necessário para construir um cais para descarregar a ajuda, o que poderá demorar até 60 dias.

Mas a ONU, que teme a fome generalizada no território palestino, submetido por Israel a um cerco total desde 9 de outubro, afirma que o envio de ajuda por via marítima e aérea não pode substituir a ajuda por via terrestre.

A ajuda internacional, controlada por Israel, só chega a Gaza a conta-gotas, enquanto as necessidades são imensas, especialmente no norte do território, de muito difícil acesso.

A guerra eclodiu em 7 de outubro, com o ataque sem precedentes dos comandos do Hamas em solo israelense, no qual morreram cerca de 1.160 pessoas, a maioria civis, segundo uma contagem da AFP baseada em dados israelenses.

Além disso, cerca de 250 pessoas foram sequestradas e 130 permanecem cativas em Gaza, das quais 31 morreram, segundo as autoridades de Israel.

Em resposta, Israel prometeu "aniquilar" o Hamas e lançou uma campanha militar contra o enclave palestino.

Até agora, o conflito deixou 31.112 mortos em Gaza, a maioria civis, segundo o Ministério da Saúde do Hamas.

Os bombardeios deixaram 67 mortos nas últimas 24 horas, anunciou o Ministério nesta segunda-feira, incluindo quatro pessoas da mesma família que morreram em um ataque à sua casa durante as orações matinais em Rafah.

"Imensa dor" 
Apesar de uma nova rodada de discussões no Egito no início de março, os Estados Unidos, o Catar e o Egito – os países mediadores – não conseguiram chegar a acordo sobre uma trégua.

O Hamas exige um cessar-fogo definitivo e a retirada das tropas israelenses antes de qualquer acordo sobre a libertação dos reféns detidos em Gaza.

Israel exige que o movimento islamista forneça uma lista dos reféns que ainda estão vivos, mas o Hamas afirmou que não sabe quem entre eles está "vivo ou morto".

O clima gerado pela guerra em Gaza suscita receios de surtos de violência em Jerusalém Oriental, onde se situa a Esplanada das Mesquitas, o terceiro local mais sagrado do Islã, onde dezenas de milhares de muçulmanos se reúnem todas as tardes durante o Ramadã.

O ministro da Defesa israelense, Yoav Gallant, garantiu nesta segunda-feira que Israel respeitará a liberdade de culto na mesquita de Al Aqsa e em outros locais sagrados, mas também alertou que Israel está "disposto" a responder a quaisquer excessos.

"O mês do Ramadã também pode ser um mês de jihad, e dizemos a todos: não nos procurem. Estamos prontos, não se enganem", alertou Gallant.

Em Washington, o presidente americano Joe Biden, que elevou o tom nos últimos dias com Israel, disse que o Ramadã "chega em um momento de imensa dor".

"Quando os muçulmanos se reunirem em todo o mundo nos próximos dias e semanas para quebrar o jejum, muitos estarão muito conscientes do sofrimento do povo palestino. Eu também estou", disse ele.