ECONOMIA

BNDES terá US$ 2 bilhões em crédito para socorrer agro por quebra de safra

Financiamento será com juro mais baixo que o de mercado. Crise está concentrada na soja, com redução na colheita

BNDES - Arquivo/Agência Brasil

O governo lançará, nos próximo dias, uma linha de crédito em dólar do BNDES, no valor de US$ 2 bilhões, voltada para os produtores rurais que enfrentam quebra de safra, devido a problemas climáticos, e perda de rentabilidade, causada pela queda dos preços internacionais.

A medida atenderá, principalmente, aos exportadores de soja, que terão dois anos de carência e mais três anos para pagarem os empréstimos.

Segundo o secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Neri Geller, uma das vantagens da medida é que não haverá custo para o Tesouro Nacional. Os recursos serão provenientes de captação internacional pelo BNDES. Os juros, revelou Geller, serão de até 8,2%, bem abaixo dos valores praticados no mercado.

— Num primeiro momento, a linha será de US$ 2 bilhões, mas se houver muita procura, podemos trabalhar para aumentar o valor — disse o secretário.

Ele ressaltou que o dinheiro poderá ser usado para pagar dívidas em dólar, como a importação de fertilizantes e defensivos agrícolas. Disse, ainda, que a linha de crédito será o menos burocrática possível, mas o produtor terá que comprovar que teve perda, ou então ter sua propriedade localizada em municípios onde foi decretada situação de emergência, por causa do clima.

A crise
Um dos maiores destaques do agronegócio brasileiro, a sojicultura passa por uma crise com perda de safra. O setor pede a suspensão dos pagamentos das dívidas de custeio com os bancos pelo menos até setembro deste ano e alega que os problemas são encontrados em vários estados do Brasil.

Para o presidente da Aprosoja Brasil, Antonio Galvan, a safra de soja deste ano deverá ficar em 135 milhões de toneladas. O volume terá 20 milhões de toneladas a menos do que a colheita anterior. Ele acredita que as exportações serão afetadas pela quebra na produção.

— O produtor, com quebra de safra e preço baixo, vai ficar super endividado — disse.

Galvan afirmou que o Brasil, maior exportador e produtor de soja em grão, deveria exportar 96 milhões de toneladas este ano e oferecer, ao mercado interno, 56 milhões de toneladas. E tem entre 4 milhões e 5 milhões de toneladas em estoque. A conta, portanto, não fecharia em 2024.

Por outro lado, a saca de 60 quilos de soja, que chegou a R$ 190 em 2021, hoje pode custar R$ 80, dependendo da região. Sem renda, destacou Galvan, o produtor não consegue investir na produção e na produtividade.

De acordo com os técnicos da Aprosoja Brasil, em 2023, quando estava no momento de plantar a soja, na maior parte do país a umidade era insuficiente, enquanto no sul do país chovia em demasia. Com receio de não prejudicar o plantio da segunda safra de milho, que vem logo em seguida, alguns semearam a soja com pouca umidade no solo, que acabou não vingando.

Produtores fizeram dois e até três replantios, tendo gastos extras com sementes, defensivos, combustíveis e mão de obra. Para alívio dos agricultores, as chuvas chegaram, mas em volume maior do que o esperado em algumas regiões.

A entidade estima uma quebra de safra de 21% em Mato Grosso. Em Tocantins, o governo estadual decretou situação de emergência em decorrência da estiagem. A Aprosoja projeta uma perda de 20% no estado.

Goiás também decretou emergência em 25 municípios. As projeções indicam uma quebra de 15% na produção em relação à estimativa inicial, que era de 17,5 milhões de toneladas. O chamado veranico também atingiu partes do Paraná, São Paulo e Mato Grosso do Sul.

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Já o Rio Grande do Sul, atingido por estiagens durante três safras seguidas, desta vez, teve uma safra melhor. Porém, o resultado a ser alcançado ainda é uma incógnita.

Ano atípico
Ana Laura Menegatti, da MB Agro, avalia que 2024 é um ano atípico. Para ela, a situação atual pode afetar exportações e o mercado interno, mas ainda é preciso esperar terminar a colheita da safra, que está no começo.

— Desde o fim de 2023, quando começou o plantio da safra, tivemos uma distribuição irregular das chuvas, que só se estabilizaram em dezembro — afirmou.