Diálogo entre o circo e o Frevo é exaltado em performance da Cia Devir
Apresentações, gratuitas, acontecem a partir do sábado (16), em localidades diversas de Recife
Para além de um "respeitável público", em toda sua literalidade, o circo contemporâneo é solo fértil para dialogar com linguagens que passam pelo teatro, pela dança e pela música, entre outras expressões que, integrantes da arte - em seu sentido mais amplo - podem (e devem) se confundir em palco e ruas.
Como culminância, experimentações como as vivenciadas pela Cia Devir, trazem à tona possibilidades de encontros, por exemplo, entre o circo e o Frevo, ressaltando particularidades dos movimentos e também enfatizando a resistência cultural das expressões.
A partir desses motes, os pernambucanos João Lucas Cavalcanti e Vítor Lima exibem ao público, a partir deste sábado (16) - às 19h30, no Melodia de Budega, na Encruzilhada - apresentações gratuitas da performance que mescla as duas artes, em parceria com a passista Inaê Silva.
Em localidades diversas do Recife, o tema - que também será debatido em oficina - acontece também nos dias 22 (São José e Várzea) e 23 (Espaço Devir, Encruzilhada).
Mergulho no Frevo
O debruçar-se no Frevo, de João Lucas e Vítor, veio de experiências coletivas - enquanto pernambucanos e, portanto, via de regra, apaixonados por Carnaval. Além disso, o corpo proposto pela dança do movimento e seu elo indissociável com a rua, também serviram como provocação à dupla.
A partir daí nasceu o projeto "Circo em Fervo", em pesquisa envolveu residência artística, aulas na Escola Maestro Fernando Borges e trocas com estudiosos, entre outras iniciativas.
Houve ainda residência com os passistas e pesquisadores Jefferson Figueiredo e Otávio Bastos, além de visita guiada ao Paço do Frevo e por lá, um papo com Luiz Vinicius Maciel, historiador do museu, incrementando o projeto - que contou ainda com a oficina "Descobrindo o Mundo do Circo", na Escola de Frevo. Já com a passista Inaê Silva, foi desenvolvida performance como resultado da pesquisa.
“Na Escola de Frevo, tivemos a experiência, enquanto alunos, de aprender os passos da dança, a partir dos ensinamentos do mestre Nascimento do Passo, que permeia a metodologia dos professores", contou João Lucas, que complementou ressaltando as mudanças da dança, e sua transformação em balé popular, ocupando para além das ruas, os palcos.
"Tivemos contato com a tradição e o contemporâneo. Foram muitas referências para a gente aplicar na parte prática”, reflete João.
Frevo e circo
O projeto - realizado sob incentivo do Funcultura e da Lei Paulo Gustavo - promoveu investigação das relações cênicas e técnicas entre o frevo e as acrobacias circenses. A dupla buscou inspiração na dança tipicamente pernambucana para agregá-la ao circo, sem estereótipos ou tentativas de sobrepor uma à outra.
Dentre as semelhanças entre circo e dança, João e Vítor enfatizaram os movimentos de impulso, a relação com a terra e o ar, além dos movimentos acrobáticos em si. Todo o processo de criação foi acompanhado por Inaê, que também está em cena na performance.
“O projeto tem diversas camadas, como uma busca de uma corporeidade. No circo contemporâneo, muitas vezes se trabalha com a dança contemporânea como base, que vem de uma realidade muito eurocentrada, ainda que tenha se expandido para o mundo. Queríamos trazer para o nosso circo a influência do nosso cotidiano, da nossa realidade. Daí o frevo”, ressaltou Vitor
Vídeocirco e oficina
Além das ruas, a performance de circo e frevo também vai ganhar as telas, com a Cia Devir e Inaê Silva estrelando um vídeocirco baseado no projeto.
A apresentação está marcada para acontecer nesta quinta-feira (14) às 11h30, na Escola de Frevo Maestro Fernando Borges, seguido de roda de diálogo e tradução em Libras.
Tomando como moldes as experimentações com vídeodança, a obra captura a efervescência da mistura proposta pela dupla e pela passista, tendo como cenário a cidade do Recife.
João Lucas Cavalcanti, Vitor Lima e Inaê Silva também vão ministrar a oficina “Frevando com Circo”, aberta ao público mas voltada prioritariamente para pessoas com deficiência auditiva.
Em teoria e prática, a iniciativa terá tradução em Libras, a partir da criação de um espaço de compartilhamento e investigação compositiva, tendo o circo e o frevo como bases.
A data e o formulário de inscrição da oficina serão divulgados na página da Cia Devir no Instagram (@ciadevir).
Serviço
Circo e Frevo em apresentações culturais da Cia Devir
Quando: dias 16, 22 e 23 de março
Acesso gratuito
Informações: @ciadevir