Apple investe R$ 400 milhões na América do Sul em projeto que envolve compra de crédito de carbono
Dona do iPhone se junta a fornecedores globais para ações de reflorestamento na Mata Atlântica, na Bahia
A Apple vai investir em conjunto com a Taiwan Semiconductor Manufacturing Company (TSMC), um dos maiores fabricantes de semicondutores do mundo, e a japonesa Murata, uma das fornecedoras de componentes para o iPhone, US$ 80 milhões (cerca de R$ 400 milhões) em projetos para recuperar terras degradadas na América do Sul em um modelo inédito que envolve ainda a compra de créditos de carbono. Um dos principais projetos envolve a preservação da Mata Atlântica, na Bahia.
Os projetos serão geridos por BTG Pactual, Symbiosis, com projetos na Mata Atlântica, e Arbaro Advisors, que desenvolve fazendas de eucalipto na América do Sul.
O investimento inédito da companhia americana na região faz parte da meta de eliminar as emissões de carbono de sua cadeia de fornecimento global até 2030, anunciada em 2022 por Tim Cook, CEO da empresa.
A iniciativa com os fornecedores também faz parte de uma exigência crescente entre os investidores mundo afora por mais iniciativas verdes das empresas como forma de descarbonizar as operações e reduzir as emissões de gases causadores do efeito estufa.
Na América do Sul, a estratégia da Apple é investir em projetos de recuperação em florestas. Com as iniciativas, as áreas são certificadas através do Goldman Sachs e da Conservation International. A meta da empresa é remover 1 milhão de toneladas métricas de dióxido de carbono do ar até 2025.
Com o anúncio de hoje para a América do Sul, o valor destinado para a região chega a 28% do total já destinado globalmente, que chega a US$ 280 milhões.
Além das iniciativas de recuperação, o objetivo dos investimentos é também gerar benefícios financeiros com a compra de créditos de carbono, cujos projetos ainda serão selecionados, de acordo com a Apple.
Com os projetos, a dona do iPhone e Macs usa os créditos dos projetos de carbono para compensar as emissões em processos onde não ainda há soluções disponíveis ou onde são difíceis de reduzir. A meta anunciada aos investidores é de uma redução de emissões em 75% em relação ao nível registrado em 2015.
No Brasil, o foco é em projetos de preservação da Mata Atlântica, bioma que já teve mais de 80% extinto e com dois terços das cinco mil espécies ameaçadas de extinção. O foco da Apple nesse primeiro momento é atuar em Trancoso, na Bahia, com o cultivo de novas mudas de árvores. A meta é plantar mais de 1 milhão de mudas em 1.000 hectares somente em 2024.
Bruno Mariani, fundador e CEO da empresa de gestão florestal e investimentos Symbiosis, uma das empresas responsáveis por gerenciar os projetos, diz que o cultivo das espécies funciona como base para a restauração, permitindo o reforço da fauna.
Ele lembra ainda que a região ficará protegida da exploração de madeira. Segundo estudos da Symbiosis, há um potencial de reflorestamento de cerca de 40 milhões de hectares na Mata Atlântica.
-Estamos equilibrando a produção de madeira e os estoques de carbono. Para calcular o carbono armazenado, integramos dados de satélite e aprendizado de máquina para criar mapas de cobertura da terra e de carbono florestal - explica Alan Batista, diretor financeiro da Symbiosis.
O executivo lembra que os dados de satélite são integrados às ferramentas de empresas como a Space Intelligence e Upstream Tech, que usam sensores de medição (chamado LiDAR) presentes nos próprios iPhone, para mensurar itens como a área de pastagem e o tamanho do desmatamento.
Com isso, a companhia consegue ainda identificar terras pertencentes a comunidades indígenas, com as quais espera fazer parceria.
Além da Bahia, outro projeto envolve o Paraguai com a recuperação de florestas de eucalipto, que foram desmatadas.