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Hamas pede que palestinos fiquem prontos para defender a Mesquita nas preces pelo Ramadã

Complexo é o terceiro local mais sagrado do mundo para os muçulmanos; grupo terrorista incentivou civis a 'permanecerem lá dias e noites'

Esta fotografia tirada do Monte das Oliveiras mostra uma vista do complexo da mesquita Al-Aqsa e da sua Cúpula da Rocha na Cidade Velha de Jerusalém - Ahmad Gharabli/AFP

O grupo terrorista Hamas convocou os palestinos na Cisjordânia e em Israel, bem como os árabes-israelenses, a “ficarem alertas e prontos para defender a Mesquita de al-Aqsa” durante as orações desta sexta-feira, a primeira do Ramadã, o mês sagrado para os muçulmanos que teve início no domingo. Em comunicado nesta quinta-feira, o Hamas também incentivou os palestinos a chegarem ao local, em Jerusalém, e “permanecerem lá dias e noites”.

“Instamos nosso povo a participar urgentemente da defesa da Mesquita de al-Aqsa contra a agressão israelense. Gaza, que lidera nossa luta para defender al-Aqsa desde 7 de outubro, continua sua luta heroica nos últimos 160 dias e chama todos vocês para virem para oração na mesquita”, acrescentou o comunicado do grupo fundamentalista, que pediu aos residentes palestinos de Jerusalém que “se comprometam a realizar apenas orações na abençoada mesquita”.

A nota faz referência ao dia em que o Hamas invadiu e atacou o território israelense. Na ocasião, mais de 1,1 mil pessoas foram mortas, a maioria civis, e cerca de 250 foram sequestradas. O chamado do grupo terrorista ocorre no momento em que os palestinos se preparam para realizar as primeiras orações em massa durante o Ramadã.

A Mesquita de al-Aqsa é o terceiro local mais sagrado do mundo para os muçulmanos – e é foco de tensão histórica entre judeus e palestinos. Os israelenses chamam a área de Monte do Templo, e argumentam que o espaço abrigou dois templos judeus no passado. Já para o islã, o profeta Maomé teria viajado de Meca para essa mesquita para rezar e, depois, subido aos céus. Agora, o acesso de fiéis palestinos ao local teria sido restringido por Israel em meio a crescentes tensões na região.

 

Manifestações em Israel
Também nesta quinta-feira, parentes de 22 israelenses que estão sendo mantidos reféns pelo grupo terrorista Hamas na Faixa de Gaza devem se encontrar com o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, em Tel Aviv. Este é o primeiro encontro do chanceler com os familiares desde 31 de janeiro. A reunião ocorrerá um dia após a esposa de Netanyahu, Sara, ter conversado com um grupo de mães de vários dos sequestrados.

No mesmo dia, familiares dos reféns realizaram uma manifestação em Israel. O protesto exigia um acordo para libertá-los. Conforme relatado pela imprensa local, os parentes diziam que “não esquecerão seus irmãos e irmãs que ainda estão detidos”, e que “a cada dia que passa, as chances de os reféns retornarem vivos diminui”. O grupo criticou o governo israelense, afirmando que “os tomadores de decisão adiam a realização do acordo”.

Em novembro, durante um cessar-fogo no conflito, aproximadamente 120 reféns foram libertados. Um mês depois, três sequestrados foram acidentalmente mortos pelas forças israelenses durante uma missão de resgate. Agora, Israel calcula que 130 das 250 pessoas detidas pelo grupo fundamentalista em 7 de outubro continuem em cativeiro no enclave palestino, e que pelo menos 34 tenham morrido. Na última terça-feira, um porta-voz do Hamas disse à AFP não saber quantos reféns estão vivos ou mortos porque eles foram presos “em vários locais”.

Cessar-fogo
Familiares dos reféns tinham a esperança de que um acordo para o cessar-fogo fosse formalizado antes do Ramadã, mês sagrado para os muçulmanos e que teve início no domingo. Autoridades israelenses, porém, não enviaram uma delegação para as conversas sobre o assunto, realizadas no Cairo na última semana, porque suas exigências não foram atendidas. O governo de Israel esperava que o Hamas enviasse uma lista com os nomes dos reféns que permanecem no enclave.

Por outro lado, um alto funcionário do grupo, Sami Abu Zuhri, culpou Israel por “frustrar” os esforços de negociação ao se recusar encerrar a ofensiva, retirar suas forças e garantir a livre entrada de ajuda. Os integrantes do grupo gostariam de passar para uma segunda fase do acordo, quando as partes concordassem, por meio dos mediadores, com os “requisitos necessários” para acabar com a guerra. Nessa etapa, o Hamas entregaria o restante dos reféns vivos e as dezenas de cadáveres em troca da retirada completa do Exército de Israel da Faixa.

— Não vemos perspectiva de acordo a menos que (o presidente dos Estados Unidos, Joe) Biden faça um milagre. Não vemos saída. Não vemos razão para o Hamas ser flexível. Eles não ganham nada com isso — disse Ricardo Grichener, tio de Omer Wenkert, refém de 22 anos, em entrevista à AP. — Estamos pressionando o governo israelense, mas acho que seus erros já foram cometidos.